segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A grande família - Michel Zaidan Filho

Quando, no início do segundo mandato do atual governador do estado, Eduardo Acioly Campos, defini a sua gestão como um misto de familismo amoral e gerencialismo capenga, não sabia a extensão do grau de parentesco que se espalhava pelos diversos escalões da administração pública de Pernambuco. Depois da divulgação do imenso batalhão de parentes, primos, filhos de primo, cunhados, filhos de cunhados, sogro, sobrinhos, tias, tios, contraparentes, aderentes, que foi veiculado nos blogs e sites de notícias da região (viomundo, blog do Jamildo), a impressão que fica que o governo do Estado e Pernambuco envelheceu precocemente. Tornou-se muito parecido com as tradicionais oligarquias nordestinas, que confundem o público com o privado, a administração pública, com os favores à família aos parentes e aos amigos. Essa deplorável prática administrativa é tanto mais condenável quand o se traveste de moderna, de gerencial ou seja lá de que adjetivo fôr. As palavras são muitas, mas a coisa é uma só: nepotismo, em todos os graus. Se vivéssemos num Império, onde a vontade do governante é a lei e não existe oposição, seria compreensível esse regime de capitania hereditária. Mas em pleno século XXI, onde se fala tanto de transparência, cidadania, direitos e democracia, como é possível aceitar um tipo de gestão familista como esse, em flagrante contraste com o direito administrativo, o texto constitucional, as boas práticas de gestão etc.etc.

Quando Fernando Henrique Cardozo, apesar de todo o seu" lenga-lenga" da reforma do Estado, editou a medida provisória do PROER para salvar o Banco, de sua nora - Maria Lúcia Magalhões- o professor da USP, Modesto Carvalhosa, cunhou a expressão: "neo-patrimonialismo", para se referir à proteção descarada de interesses familiares através de medidas administrativas públicas. Mas o que dizer desse "exemplo" dado pelo senhor governador que fêz de primos, sobrinhos, filhos de primos, marido de prima, secretários, coordenadores, gestores de órgãos públicos; da sua mãe, ministra, e que entregou o serviço de saude a amigos do IMIP, onde tem lá um outro parente que coordena um setor da instituição "público-privada"?

Curiosamente, a cara dessa administração aparece maqueada de empreendedora e moderna. Maquiagem para a qual, o próprio governador teria contratado um assessor de Aécio Neves, para ajudar no "choque de gestão": fazer mais com menos. Na verdade, o que o governador aprendeu com o assessor mineiro, Luis Falcone, foi produzir "factóides" através dos meios de comunicação de massa, delegar para os conhecidos a gestão das políticas públicas e oferecer receitas a todos aqueles que quiserem se aproveitar do estado de Pernambuco: até as empresas concessionárias do (péssimo) transporte público ganharão isenção fiscal, neste paraíso fiscal em que se tornou o nosso estado!

Imagine que os primeiros movimentos do novo prefeito do PSB foram de marketing puro: iniciar a limpeza do Recife pelo parque da Jaqueira, sob as câmeras e holofotes da imprensa local. Uma cidade infecta, podre, como a nossa, e um arremedo de "cultura cívica", ensaiado com a campanha "amo o Recife", vai começar nos bairros ricos, não na periferia onde faltam esgoto, parques públicos, água, segurança pública, escolas decentes etc. Pelo visto, os que amam o Recife são os que recebem as benesses e as atenções do prefeito recém-eleito, com o apoio do governo. Vai se consolidando a suspeita inicial que o prefeito eleito é um mero relações públicas, garoto-propaganda do governador do estado.

Estabelecido o estrito controle da política estadual - incluindo a prefeitura recifense - o resto do mandato desse governador será dedicado a obras e ações de marketing. Pouco importa o que ficará de herança administrativa, política e social para os pernambucanos. O que conta é o uso de toda a administração pública em favor de um projeto político dúbio, ambíguo, flexível, que ora se diz aliado da Presidente da República, ora procura alianças para construção de um palanque próprio. Até as eleições de 2014, devemos assistir a essa" dança de rato", cuja manutenção será feita com a angústia, o sofrimento, as aflições e as imensas carências do povo pernambucano

È cientista político e professor da UFPE

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