Ingresso do PSD na base e conflitos entre PMDB, PSB e PT dificultará montagem de palanques estaduais
Júnia Gama
BRASÍLIA - Uma das grandes preocupações do Palácio do Planalto, no momento, é como armar o xadrez dos palanques para a campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff em 2014. Com o PSD como novo e importante aliado, a incerteza que o PSB representa e as dificuldades que o PMDB pode trazer no jogo eleitoral, não foi à toa que Dilma decidiu escolher como articulador político o ex-presidente Lula, que deverá se dedicar exclusivamente ao assunto nos próximos meses, relatam interlocutores do Planalto.
São Paulo é uma das peças mais importantes do tabuleiro eleitoral e também um dos locais onde a articulação será mais complexa. Isso porque o presidente do PSD, Gilberto Kassab, já avisou que irá disputar o governo do estado em 2014, certamente, contra um nome do PT e outro do PSDB. Que palanque Dilma terá em um dos principais estados do Brasil para tentar a reeleição ainda é uma incógnita no núcleo palaciano.
O mesmo deve ocorrer nos outros estados em que o PSD quer lançar candidato e pode disputar contra nomes do PT ou de outros partidos da base, como Santa Catarina, Amazonas, Rio Grande do Norte, Bahia, Paraíba, Mato Grosso e Tocantins.
- O PSD vai estimular o máximo de candidaturas a governos estaduais em 2014. É importante ampliar esse leque para que o partido possa crescer. O Kassab será candidato em São Paulo, e não há problema nenhum nisso. No plano nacional estamos com a presidente Dilma - disse o líder do partido na Câmara, Guilherme Campos (SP).
Outro assunto complicado é a composição em relação ao PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Caso o socialista permaneça na base, haverá o problema dos palanques estaduais, onde candidatos do PSB podem concorrer contra petistas.
No entanto, o quadro se agravará se Campos decidir se lançar candidato a presidente, como já indicam seus correligionários. Nesse caso, a presidente terá que redobrar os esforços para articular seus palanques nos estados dominados pelo PSB, como Pernambuco, Ceará, Espírito Santo, Piauí e Paraíba.
O Distrito Federal é outro grande pepino a ser administrado, onde o petista Agnelo Queiroz deverá disputar a reeleição enfrentando o senador do PSB Rodrigo Rollemberg, que, inclusive, já rompeu com o governo local. Minas Gerais, estado "adotado" por Dilma, também promete ser fonte de complicação: a vontade do PSB é lançar ao governo do estado o prefeito Márcio Lacerda, nome apadrinhado pelo tucano Aécio Neves, outro provável adversário de Dilma em 2014.
- O PSB não tem decisão sobre 2014, não estamos ligados no piloto automático. Estamos livres para pensar 2014, fundamentalmente, com a possibilidade de ter a candidatura de Eduardo Campos à presidência. Há um cansaço em conviver com essa dicotomia tucano-petista e com esse casamento PT-PMDB - afirma o líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (PSB-RS), em uma clara demonstração de que o partido será um complicador na vida de Dilma.
O PMDB, aliado mais importante no Congresso, também será uma fonte de embaraço para a presidente, principalmente no Rio. O vice-governador Luiz Fernando Pezão, do PMDB, deve ser lançado por Sérgio Cabral para concorrer contra o senador Lindbergh Farias (PT), o que exigirá uma engenharia política para que Dilma não fique impedida de pisar em um dos palanques mais importantes para sua reeleição.
Atento ao desafio, Lindbergh, que trabalha nos bastidores para unificar os partidos da base em torno de sua candidatura, minimiza:
- Essa questão dos palanques divididos é um problema, mas é um problema bom. Problema ruim é não ter palanque. O PSDB, por exemplo, tem problema em vários estados onde não tem palanque. É natural que uma base tão ampla quanto a do governo federal tenha vários candidatos disputando. Na reeleição do Lula, ele conseguiu unir Humberto Costa (PT) e Eduardo Campos (PSB) em um mesmo palanque, quando ambos disputavam o governo de Pernambuco. No Rio, ele foi a dois palanques em dias diferentes, um com o Marcelo Crivella, outro com o Vladimir Palmeira. É só saber administrar o que se tem - afirmou o senador, para quem a presidente Dilma está "ficando boa" na articulação política.
Até mesmo no estado onde tem domicílio eleitoral, o Rio Grande do Sul, Dilma enfrentará saia justa. Terá de decidir se irá apoiar o petista Tarso Genro para a reeleição; a senadora Ana Amélia, que é de um partido da base, o PP; ou outro nome do PMDB, que pensa em lançar Rigotto.
Há uma avaliação interna entre setores do PT de que o partido não poderá agir como nas eleições municipais, quando tentou na Justiça barrar o uso da imagem de Dilma e de Lula pelos partidos da base que tinham candidatos disputando contra petistas. Foi assim com o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB); com a deputada Manuela D"Ávila (PCdoB-RS), em Porto Alegre; e com o prefeito de Campinas, Jonas Donizette (PSB).
Como se trata de uma campanha de reeleição presidencial, Dilma não poderá dispensar o apoio e os palanques dos aliados, nem manter distância da disputa, como fez em outubro de 2012. Mesmo que cogite cair na tentação de barrar santinhos da presidente na campanha de aliados, o PT não encontrará subsídio legal para tanto: nas eleições de 2010, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou que é permitida a utilização da imagem ou voz do candidato a presidente da República na propaganda regional dos partidos coligados nacionalmente, ainda que sejam adversários no âmbito regional.
- Somos legalistas. Se o candidato for de um partido que estiver na coligação nacional, não dá para impedir o uso da imagem da presidente Dilma ou do Lula - disse o líder do PT na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE).
Fonte: O Globo
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