A campanha presidencial começou efetivamente com o lançamento do programa de combate à miséria extrema lançado pela presidente Dilma um dia antes da grande festa com que o PT comemorou ontem seus 33 anos de vida e os dez de exercício do poder federal. Ao mesmo tempo, os principais possíveis adversários de sua reeleição atuaram no campo político de maneiras diversas nos últimos dias, mas todos deixando claros seus objetivos.
A ex-senadora Marina Silva, que lançara dias antes seu partido-rede, insinuou que seu movimento pode aderir a um partido já existente se não conseguir cumprir a tempo as exigências da legislação eleitoral. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, deu mais um sinal de que está mesmo "costeando o alambrado", metáfora oriunda das fazendas com a qual o ex-governador Leonel Brizola identificava o político que estava pensando em sair de seu grupo político, assim como o gado que "costeia o alambrado" está pensando em fugir.
Ele não compareceu à festa de aniversário do PT, onde o grande líder da coalizão que apoia a presidente Dilma, o ex-presidente Lula, pretendia reunir os aliados para dar início à campanha para a eleição de 2014. Por fim, o PSDB afinal saiu ontem de sua letargia e deu passos importantes na direção de um combate mais forte contra o governo.
Numa ação política rápida e bem planejada, ofereceu abrigo à blogueira cubana Yoani Sánchez, que vem sendo hostilizada em sua passagem pelo Brasil por extremistas ligados ao PT e ao PCdoB, em ações orquestradas a partir da embaixada cubana em Brasília. E o seu candidato potencial, o senador Aécio Neves, partiu para o ataque enumerando, num discurso até bem-humorado, contrapondo-se ao tom raivoso com que o PT faz política, os erros básicos destes dez anos de poder petista.
Dizendo-se convidado à festa pelo PT, que distribuiu uma cartilha com louvações aos governos Lula e Dilma e críticas aos governos de Fernando Henrique Cardoso, Aécio chamou a atenção para o fato de que o PT está esgotando os efeitos benéficos vindos dos governos do PSDB, que ele chamou ironicamente de "herança bendita" deixada pelos tucanos.
A passagem de Yoani pelo Brasil, coincidindo com os festejos do PT, serviu para ressaltar a face mais escura da coalizão de esquerda que governa o país há dez anos. A truculência dos manifestantes, as acusações distribuídas pela blogosfera com as digitais de uma manipulação oficial, o espírito autoritário que tenta a todo custo impedir que o adversário se expresse, todos esses ingredientes típicos de regimes onde o pensamento único é imposto pela força do Estado estiveram presentes nas manifestações de extremistas contra a dissidente cubana.
Até mesmo no Congresso, onde as diversas linhas de pensamento devem estar representadas, houve tentativas, por parte de deputados e senadores esquerdistas, de impedir a circulação de Yoani, numa demonstração de que havia mesmo uma orquestração disposta a impedir que ela se manifestasse livremente no país.
O PSDB percebeu, num movimento rápido que tem sido raro nos últimos tempos, o nicho oposicionista e assumiu a defesa da liberdade de expressão, dando um tom político adequado aos seus interesses, sinalizando enfim que está se preparando para mais uma vez representar a oposição aos governos petistas.
O PT, como sempre, trabalhou muito bem na defesa de seus governos, no que dá lições de luta e unidade política aos demais partidos. Convenhamos que 33 anos não é uma data a ser comemorada, a não ser, como agora, quando se tem o objetivo de iniciar em grande estilo uma campanha presidencial num momento que exige muito mais empenho e unidade, pois os sinais da economia não parecem guardar boas notícias para tão cedo, dando armas que os adversários não tiveram nas últimas eleições.
Não é à toa que um líder importante no esquema político governista até agora como Eduardo Campos vê oportunidades de voo solo em direção a novas práticas políticas e de gestão.
Fonte: O Globo
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