Provável rival de Dilma na eleição afirma que "incapacidade de gestão" da presidente põe em risco avanços obtidos por FH
Maria Lima
BRASÍLIA - Em tom mais moderado do que o esperado por setores tucanos, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) marcou sua entrada na arena da disputa presidencial , em discurso ontem no Senado, em pelo menos dois momentos: ao deixar claro que seu alvo era a presidente Dilma Rousseff, sua provável adversária em 2014; e ao explorar o aspecto da tolerância democrática, em contraponto aos protestos de petistas e comunistas contra a presença da blogueira cubana Yoani Sánchez no Congresso. No discurso em que listou o que chamou dos "13 fracassos" de dez anos de governo petista, Aécio enumerou as ações que, acredita, culminaram na exaustão da "herança bendita" do governo Fernando Henrique, centrando fogo no PT e na estratégia de desconstruir a imagem de boa gestora da presidente Dilma, mas evitando críticas diretas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Explorou também a questão da ética, citando a condescendência de setores do PT com a corrupção, mas sem fazer citação direta aos petistas condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento do mensalão.
Mesmo negando que o discurso tenha sido de lançamento de sua candidatura, concluiu sua fala com uma certeza: a de que o jogo de 2014 já está sendo jogado.
- Se constata aqui o irremediável: não é mais a presidente que governa. Quem governa o Brasil é a lógica da reeleição.
Referindo-se na maior parte das vezes ao atual governo, o tucano citou o baixo crescimento econômico (ontem, o Banco Central estimou em 1,35% o PIB de 2012), os gargalos da infraestrutura, a inflação e a queda na produção industrial para dizer que no PT está exaurindo a herança bendita que o governo Fernando Henrique lhe deixou:
- A ameaça da inflação, a quebra de confiança dos investidores, o descalabro das contas públicas são exemplos de crônica má gestão - disse. - Todas as vezes em que o PT teve de optar entre o Brasil e o PT, ficou com o PT. A presidente Dilma Rousseff chega à metade do mandato longe de cumprir promessas de campanha (&). A incapacidade de gestão se adensou, e a verdade é que o Brasil parou. Os pilares da economia estão em rápida deterioração, colocando em risco avanços que o país levou anos para implementar, como a estabilidade da moeda.
Ao detalhar os 13 pontos em que, na sua análise, o governo petista falhou, Aécio citou o nome de Dilma quatro vezes e o governo e a Presidência da República outras quatro. Lula foi lembrado apenas em menção indireta, quando tratou do episódio em que ele e Dilma sujaram as mãos de óleo para propagar a autossuficiência de petróleo - acusando o governo petista de se sustentar na propaganda, no marketing político.
Aécio começou o discurso com várias perguntas sobre qual PT está comemorando dez anos de governo e 33 anos de existência. Aproveitando a polêmica em torno da presença de Yoani Sánchez ontem no Congresso, o tucano atacou:
- Mas afinal, qual é o PT que celebra aniversário hoje? O que fez do discurso da ética, durante anos, a sua principal bandeira eleitoral, ou o que defende em praça pública os réus do mensalão? O PT que considerava inalienáveis os direitos individuais ou o que se sente ameaçado por uma ativista cuja única arma é a sua consciência?
A fala de Aécio durou pouco mais de uma hora e, ao contrário do que se esperava, o acalorado debate entre senadores governistas e de oposição foi inviabilizado pelo rigor do presidente Renan Calheiros (PMDB-AL), que impediu apartes alegando que o tempo do tucano estava estourado. Ao contrário de outros discursos importantes no plenário, que entraram pela noite, desta vez só tiveram direito de apartear dois tucanos e um petista.
O seu discurso, no dia da festa do PT, segundo Aécio, foi motivado pelos próprios petistas, que, ao escolher comemorarem o seu aniversário com críticas ao PSDB, transformaram os tucanos nos convidados de honra da festa:
- Eu aceito o convite, até porque temos muito o que dizer aos nossos anfitriões. A verdade é que hoje seria um bom dia para que o PT revisitasse a sua própria trajetória, não pelo espelho do narcisismo, mas pelos olhos da história. Até porque, ao contrário do que tenta fazer crer a propaganda oficial, o Brasil não foi descoberto em 2003.
Fonte: O Globo
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