Lindbergh descarta qualquer possibilidade de desistir da candidatura à sucessão de Cabral
Maria Lima, Junia Gama
BRASÍLIA - Fortalecido com o comando do Congresso e para revidar movimentos de setores do PT contra a permanência do vice Michel Temer na chapa da reeleição da presidente Dilma Rousseff, o Diretório Nacional do PMDB vai aproveitar a Convenção Nacional, no sábado, para fazer uma demonstração de força frente aos petistas e ao governo. A cúpula peemedebista não só vai encampar a decisão do PMDB fluminense de só apoiar a reeleição de Dilma se o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) desistir de bater chapa com o vice-governador Luiz Fernando Pezão na disputa pelo governo do Rio, como deve aprovar uma moção proibindo palanque duplo em todos os estados.
Ou seja, pretende formalizar como decisão partidária que não apoiará Dilma onde o PT tiver candidato contra um nome do PMDB. Cenário que poderá se repetir, pelas previsões atuais, em pelo menos oito estados importantes: Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, Ceará e Minas Gerais.
As restrições e imposição constam do manifesto do diretório estadual do Rio, como mostrou ontem O GLOBO. A intenção é que o manifesto seja lido pelo presidente regional do partido, Jorge Picciani, na convenção nacional, que terá como convidada de honra a própria presidente Dilma, ao lado do vice Michel Temer. Há até previsão de que Dilma discurse no encontro do PMDB.
A direção nacional do PMDB considerava, pelo menos até ontem, a decisão do diretório estadual irreversível. E acredita que a direção do PT deverá convencer Lindbergh a desistir, em nome de um projeto nacional. Na sexta-feira a presidente Dilma passará o dia no Rio e terá muito tempo para conversar com o governador Sérgio Cabral, que, publicamente, está à margem da nota do PMDB, mas a teria aprovado. Ele tem conversa agendada também com o ex-presidente Lula para os próximos dias. Nessas conversas, tentará convencê-los de que Lindbergh pode disputar no futuro.
- O Cabral vai conversar com Lula e Dilma. Com o tempo, as coisas vão se ajustando, e eu acredito num entendimento. Tem muito tempo ainda. O Lindbergh é muito novo, pode esperar mais uma eleição em benefício de uma aliança nacional. Nós abrimos mão em tantos lugares na eleição passada - disse o presidente nacional do PMDB, senador Valdir Raupp (PMDB-RO).
Ao ser empossado ontem como novo presidente de uma das comissões mais importantes do Senado, uma vitrine para sua pré-candidatura - de Assuntos Econômicos -, Lindbergh descartou qualquer possibilidade de desistir da candidatura ao governo do Rio, para atender a um pedido da presidente Dilma ou de Lula. Atribuiu ao "desespero" a nota do PMDB:
- Não existe nem vai haver esse pedido (de Dilma e Lula, para retirar candidatura). João Santana gravou para mim. Acham que ele iria gravar do nada, sem que as pessoas soubessem? O que houve foi que bateu uma ameaça, desespero.
Lindbergh e outros líderes do PT consideraram que a nota foi resultado da repercussão dos programas do PT na TV, feitos por João Santana, e que mostraram o senador como o candidato do partido ao governo fluminense.
- Se formos analisar bem, essa não foi uma declaração de força. Parece que nossa candidatura está incomodando. Foi uma demonstração, talvez, de fraqueza. Eles podem lançar o candidato deles. Agora, ficar dizendo: tira ele, tira ele, tira ele!? Eu não acho que isso pega bem com os eleitores. A nota foi um equívoco, um ponto fora da curva - provocou Lindbergh, dizendo não acreditar que tenha tido o aval de Sérgio Cabral. - Não é uma contradição eles quererem lançar candidato a governador em todos os estados e quererem impedir que o PT lance em alguns?
O petista ainda considerou "deselegante" a forma como o PMDB do Rio se manifestou em relação ao apoio a Dilma, sem conversar com ela:
- Estou tranquilo. Só achei a nota um pouco fora do tom, meio deselegante. Temos tido uma ótima relação. Agora, as coisas não funcionam assim, dando ultimato à presidente Dilma.
Entre petistas, a nota do PMDB do Rio causou estranheza.
Em São Paulo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi exceção ao evitar falar da possibilidade de o PT abrir mão de sua candidatura ao governo do Rio. Diante da insistência dos jornalistas, respondeu:
- Como é que vou saber? Eu não acompanho nem a política do estado de São Paulo. Eu, depois que deixei o Palácio do Planalto, parei de acompanhar política, meu filho - disse.
Já o governador do Rio Grande do Sul e ex-presidente do PT, Tarso Genro, saiu em defesa da candidatura de Lindbergh Farias:
- Acredito que o diretório nacional do PT não vai repetir o erro de 1998 e intervir no Rio de Janeiro. O PMDB está fazendo um movimento nacional para impor seus candidatos. Sempre fomos leais ao PMDB no Rio, eles precisam entender que temos direito à nossa candidatura.
Secretário nacional de Comunicação do PT, o vice-presidente da Câmara, deputado André Vargas (PT-PR), disse que Lindbergh tem direito de ocupar espaço neste ano pré-eleitoral:
- É muito cedo para fechar chapas. As pesquisas de opinião serão decididas lá na frente. O Pezão tem direito também. Essas movimentações são coisas de ano ímpar: ocupar espaço na mobilização pré-pré-eleitoral...
Para Paulo Frateschi, secretário nacional de Organização do PT, o impasse era "previsível":
- O Lindbergh e o Pezão estão tentando se viabilizar. Estão num processo que era previsível. Não ameaça o palanque para Dilma. Algum entendimento vai ter até a eleição.
Fonte: O Globo
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