Em fevereiro, a taxa de desemprego ficou em 5,6%, a menor para o mês em dez anos. O mercado de trabalho aquecido e a renda em alta devem segurar o crescimento da economia porque representam um custo elevado, sobretudo para a indústria, alertam especialistas. A renda média do trabalhador cresce há 16 meses na comparação anual
Emprego em alta freia PIB
Ganho do trabalhador vira custo para indústria e analistas já veem trava ao crescimento
Clarice Spitz
Pressão do mercado de trabalho
Depois de ser um dos motores do crescimento econômico nos últimos anos, o bom desempenho do mercado trabaho pode, agora, acabar criando restrições ao avanço da economia. Com o desemprego em baixa e a renda em patamar recorde, muitos economistas temem que os salários tenham se tornado um custo elevado demais para a indústria. Nas seis maiores regiões metropolitanas do país, a taxa de desemprego em fevereiro ficou em 5,6%, pouco acima dos 5,4% registrados em janeiro, segundo a Pesquisa Mensal do Emprego, do IBGE, divulgada ontem. Mesmo assim, foi o menor taxa para fevereiro dos últimos 10 anos.
A renda média do trabalhador, que sobe há 16 meses consecutivos na comparação anual, alcançou um nível recorde no mês passado: R$ 1.849,50, alta de 2,4% frente a fevereiro do ano passado. A alta nos rendimentos dos consumidores puxou o avanço do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país) nos últimos anos, mas tem pressionado a inflação. E agora, com a renda crescendo inclusive em ritmo superior à produtividade, o mercado de trabalho começa a impor restrições ao crescimento econômico, afirma Fernando de Holanda Barbosa Filho, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Salário cresce acima da produtividade
O problema é que, com a baixa oferta de mão de obra, os trabalhadores mais produtivos já foram absorvidos pelo mercado.
- Agora, com o desemprego muito baixo, o trabalhador é naturalmente menos produtivo e isso gera um problema: como pagar um salário mais alto para um trabalhador menos produtivo?
Ele acrescenta que, se o setor de serviços pode repassar aos preços uma alta nos custos com salários, o mesmo não ocorre com a indústria, que sofre a concorrência dos importados.
- Quando a indústria tenta repassar ela se depara com a realidade de não ser suficientemente competitiva.
O mercado de trabalho aquecido cria um cenário insustentável, na opinião do economista da Opus Gestão de Recursos, José Marcio Camargo.
- É uma escolha que o país vai ter que fazer. Com essa taxa de desemprego, as pressões inflacionárias continuarão fortes. O mercado de trabalho está caminhando para um momento insustentável do ponto de vista dos custos e das pressões inflacionárias.
A elevação dos juros seria, para Camargo, a solução para desaquecer a economia e reduzir a inflação.
- Sem aumentar um pouco o desemprego será difícil evitar um aumento das pressões inflacionárias.
Economistas divergem sobre alta de juros
Anteontem, a presidente Dilma Rousseff criticou economistas que defendem políticas de combate à inflação que levem a uma redução do crescimento.
Para o gerente de estudos econômicos da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Guilherme Mercês, a principal trava da economia hoje é a falta de investimentos.
- Há uma competição acirrada, salários altos e obviamente a dificuldade de conseguir a mão de obra é consequência desse cenário.
Para o IBGE, o mercado de trabalho começa a refletir uma desaceleração da atividade econômica. Em fevereiro, a taxa de desemprego subiu devido à dispensa de trabalhadores temporários, sobretudo no comércio, na região de São Paulo.
- Se houvesse um cenário econômico mais favorável, os reflexos no mercado de trabalho seriam mais positivos - afirma Cimar Azeredo, gerente da pesquisa do IBGE.
Para o economista Fabio Romão, da LCA Consultores, o mercado de trabalho vai ter este ano um desempenho similar ao de 2012, porém com menor ganho de renda. Ele prevê uma alta de 2,8% nos rendimentos em 2013, contra 4,1% no ano passado.
- Isso porque o ganho real do salário mínimo foi de 2,7% e, no ano passado, tinha sido de 7,5% e temos uma aceleração da inflação em 12 meses. Quanto mais alta a inflação, mais difícil de obtenção de um ganho real - afirma.
No entanto, ele diz ser contra o uso dos juros para combater a inflação.
- Existe uma série de mecanismos que podem ser utilizados como aumentar a produtividade. A pior coisa a fazer é desempregar (via alta de juros) - afirma.
O coordenador de Mercado de Trabalho do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Gabriel Ulyssea, ainda vê espaço para um aumento da oferta de mão de obra, sobretudo, a de jovens que estão fora do mercado sem nenhuma atividade. Segundo ele, é preciso incentivar os investimentos. A criação de um marco regulatório claro, uma infraestrutura adequada de transporte e uma simplificação do sistema tributário seriam, na sua opinião, a maneira mais eficiente de destravar a economia.
- O fundamental é efetivar investimentos não por meio de subsídios localizados, mas criando condições para que o setor privado invista de maneira espontânea - afirma.
Fonte: O Globo
Um comentário:
A conclusão é que chegamos é que o regime capitalista é incompatível com o bem estar da população. Para o capitalismo, é preciso que os trabalhadores ganhem menos, trabalhem mais e tenham sempre medo de ficar desempregados, pois assim evitam pedir aumento de salário.
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