Relatório afirma que IPCA será de 5,7% e PIB vai aumentar 3,1%
Pelo terceiro ano consecutivo, o Banco Central admitiu que não será possível cumprir a meta de inflação de 4,5%. A estimativa é de que o IPCA fique em 5,7% ao final de 2013, mesmo que os juros voltem a subir; A alta de preços anualizada deve chegar a 6,7% em junho. O Relatório Trimestral da Inflação foi divulgado ontem, um dia depois de a presidente Dilma Rousseff ter deixado o mercado tenso ao falar que não sacrificaria o crescimento para combater a inflação. O diretor do BC, Carlos Hamilton, disse que "juros são o pior remédio, à exclusão de todos os demais". A instituição apresentou, pela primeira vez, a projeção para o crescimento do PIB em 2013, de 3,1%.
BC admite inflação acima do centro da meta mesmo com alta dos juros
Relatório de Inflação de março prevê IPCA acima de 4,5% em 2013 e 2014; para mercado, BC indica que voltará a elevar a taxa Selic
Eduardo Cucolo, Célia Froufe e Adriana Fernandes
BRASÍLIA - Um dia depois dá confusão causada no mercado financeiro pelas declarações da presidente Dilma Rousseff em Durban, na África do Sul, o Banco Central jogou a toalha e admitiu antecipadamente que não será possível trazer a inflação para o centro da meta de 4,5% este ano, mesmo que os juros voltem a subir. É o terceiro ano consecutivo que o BC admite a impossibilidade.
A instituição divulgou ontem a elevação generalizada de suas projeções de inflação para este e para o próximo ano. Se as estimativas se confirmarem, o governo Dilma Rousseff fechará os quatro anos de seu mandato com o índice de inflação (IPCA) acima de 5%. O BC disse que ainda é possível agir para alcançar uma inflação mais baixa, mas apenas em 2014.
A expectativa agora é de que o índice de preços ao consumidor saia dos atuais 6,3% acumulados em 12 meses e chegue a 6,7% em junho, valor que supera o teto da meta, que é de 6,5%. A inflação terminaria 2013 em 5,7% e cairia para 5,3% em 2014.
A instituição apresentou, pela primeira vez, a projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2013, de 3,1%, pouco acima dos 3% estimados pelo mercado.
Apesar de reafirmar que vai aguardar novos dados e agir com cautela em relação aos juros, o BC considerou "plausível" que outras ações de política monetária possam ser necessárias.
Confusão. Um dia depois de a presidente Dilma afirmar que não concorda com políticas de combate à inflação que olhem a redução do crescimento e de o BC afirmar que a declaração foi mal interpretada, a instituição voltou ao assunto ontem. O diretor de Política Econômica, Carlos Hamilton, começou sua apresentação enfatizando que o BC tem "zelo especial" pela comunicação e que a palavra final do relatório de inflação é de responsabilidade da instituição. Na véspera, Dilma havia dito que quem falava de inflação era o Ministério da Fazenda.
Hamilton disse também que, desde 1980, quando a inflação foi maior, a economia cresceu menos. O diretor defendeu o uso dos juros contra a alta de preços. "Para combater a inflação, juros são o pior remédio, à exclusão de todos os demais", afirmou, em referência à frase do ex-primeiro-ministro inglês Winston Churchill de que “a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais”. Um dia antes, Dilma havia colocado o remédio sob suspeita, ao dizer que “esse receituário que quer matar o doente em vez de curar a doença” é complicado.
O diretor disse que o cenário para a inflação hoje torna “irrealista” a queda do IPCA para 4,5% em 2013.
A instituição admite que a inflação é alta, resistente e que o nível de preocupação com ela é maior que o normal. Além disso, como os aumentos de preços foram maiores no segmento de alimentos e combustíveis, produtos que têm mais visibilidade, o BC avalia que existe uma percepção, na população, de que há mais inflação do que os índices de preços estão apontando.
Dólar. A projeção mais otimista entre as divulgadas ontem é de 5,2% para o IPCA na metade de 2014. Depois, a inflação volta a subir. A previsão mais distante, para o primeiro trimestre de 2015, mostra uma taxa de 5,4%. Nas projeções, o BC considera um dólar de R$ 1,95 e avalia que a taxa de câmbio ficará mais estável nos próximos 24 meses, o que também ajuda a segurar os preços.
Questionado sobre as declarações da presidente Dilma do dia anterior, que foram interpretadas negativamente por grande parte do mercado, Hamilton afirmou que não iria comentar a declaração nem da presidente nem de outras autoridades. Sobre os próximos passos rumo da política monetária, o diretor também se esquivou: “Não vou falar”.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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