Caio Junqueira
BRASÍLIA - Em pleno acirramento do embate político entre a presidente Dilma Rousseff (PT) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), o governo federal resolveu fazer uma intervenção em um órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia para demitir funcionários ligados ao pernambucano.
A cúpula da Indústrias Nucleares do Brasil SA (INB), egressa do período em que Campos comandou a Pasta no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi substituída por funcionários ligados ao PT. Os exonerados souberam da demissão ontem, após ver seus nomes publicados no "Diário Oficial da União". Foram substituídos quatro diretores - inclusive o presidente - da empresa, que detém o monopólio da pesquisa e processamento do urânio no país.
O movimento teve o aval do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, que mesmo tendo deixado a Pasta de Ciência e Tecnologia, ainda exerce influência sobre ela. Segundo interlocutores, ele planejava uma maior interação do INB com o presidente da Eletronuclear, Otto Luiz Ribeiro da Silva, no cargo desde o primeiro mandato de Lula.
Os nomes indicados no INB são técnicos, mas com vinculações políticas ao PT. Assim como os que saíram também são técnicos, mas próximos ao PSB. O caso mais evidente da intervenção é o de Marco Antonio de Oliveira, funcionário de carreira do INB e cuja mulher, Ana Guerra, foi deputada federal pelo PT e vereadora por dois mandatos pelo partido em Poços de Caldas. Oliveira assumirá a diretoria de Recursos Minerais.
Na presidência, entrou Aquilino Senra Martinez, professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e um dos maiores especialistas em energia nuclear do país. Também vinculado ao governo Lula, para o qual colaborou com a elaboração do programa nuclear. Entrou no lugar de outro técnico, Alfredo Tranjan Filho, filiado ao PSB e ligado a Roberto Amaral, vice-presidente nacional da legenda.
Já Flávio Gay da Cunha, chefe de gabinete do atual ministro da Ciência e Tecnologia, assume a Diretoria de Finanças e Administração no lugar de Athayde Pereira Martins, outro ligado ao PSB. No lugar do diretor de produção de combustível nuclear, Samuel Fayad Filho, outro com forte ligação com o PSB, entrou Renato Viera da Costa, próximo ao PT.
As trocas ocorrem em um momento em que cresce a tensão na relação entre Dilma e Campos e, consequentemente, entre PT e PSB. Anteontem, a troca de recados entre ambos foi intensa na cerimônia de entrega de um trecho de uma adutora financiada pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em Serra Talhada, interior de Pernambuco.
Isso a despeito de o governo negar retaliações à crescente movimentação de Campos no jogo político com o objetivo de viabilizar sua candidatura a presidente contra a petista em 2014.
Mas as demissões no INB, da forma como foram feitas, podem ser um sinal de que uma guerra fria está por se iniciar. Ontem, a avaliação política das demissões dentre os diretamente envolvidos nela era o de que o jogo nacional da sucessão presidencial fora determinante para a sua execução.
Segundo interlocutores de Raupp, a demissão já vinha sendo planejada há oito meses, mas as circunstâncias políticas a facilitaram. Oficialmente, porém, o ministro justificou a medida como essencialmente técnica e decorrente da necessidade de reestruturação da área nuclear no país. Hoje, o INB atua basicamente com a prospecção e enriquecimento de urânio e a tanto a demanda externa, onde há um mercado forte em crescimento, e interna, como a construção do submarino nuclear, irão aumentar. Por essa razão, a ideia foi "capacitar" o INB para esse aumento da demanda. Nesse sentido, as mudanças não foram um fato isolado, mas inseridos, segundo a Pasta, em um contexto maior "de ordem técnica".
Fonte: Valor Econômico
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