Quando a então deputada Ana Arraes, do PSB pernambucano e mãe do governador do estado, Eduardo Campos, venceu a disputa para integrar o Tribunal de Contas da União (TCU) houve quem dissesse que Eduardo vencera o primeiro embate no Parlamento. Errado. A primeira briga de fato contra o governo Dilma Rousseff começou ontem. E prosseguirá por todo esse semestre.
O pano de fundo dessa disputa é a Medida Provisória 595, que detalha o novo marco regulatório dos portos. Para quem já leu a respeito, peço licença para situar aqueles que não acompanham o tema. Eduardo Campos classifica que a centralização das licitações dos serviços portuários na Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) é quebra do pacto federativo e cita o porto de Suape como de "excelência". A ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, afirma que não e menciona de forma enfática que não existem "ilhas de excelência".
O impasse está criado. Agora, governo federal e Eduardo Campos vão cabalar votos no plenário da Câmara e do Senado. Os socialistas consideram que a resistência do governo em negociar é apenas porque se trata de Eduardo, pré-candidato a presidente da República contra a presidente Dilma. E agora ela pretende usar a MP para mostrar quem manda. "Por que ela não transforma Suape num Terminal de Uso Privativo como fez com o do Ceará? Só não faz e vai para a briga porque é o Eduardo que está defendendo que as licitações de Suape não fiquem centralizadas", dizia o deputado Márcio França (PSB-SP),enquanto Eduardo Campos era cercado por repórteres ontem ao sair da comissão que estuda o tema.
Essa briga entre Eduardo Campos e o governo Dilma Rousseff ficaria restrita a pé de pagina dos jornais e nem seria tratada aqui nesta coluna se fosse apenas mais um embate entre um estado e o governo federal. Mas não é bem assim. O fato de Eduardo Campos ser pré-candidato a presidente da República põe essa disputa sob os holofotes na forma de uma queda de braço, onde cada partido será monitorado com uma lupa. Quem for favorável à descentralização das licitações estará do lado de Eduardo Campos. Quem for contra estará ao lado de Dilma.
Nessa disputa, não se surpreenda, leitor, se Eduardo Campos levar a melhor. Ele pode unir o útil ao agradável. Primeiramente, a centralização das licitações prevista na Medida Provisória desagradou aos atuais gestores dos portos, embora tenha sido feita com a maior boa vontade por parte do governo federal. Esse é o lado agradável para alguns políticos ligados aos atuais dirigentes portuários.
Além disso, há o argumento da utilidade política. Muitos partidos que aguardam um chamamento do Planalto podem se alinhar ao governador nesse tema para dar um recado à presidente Dilma Rousseff. A bancada do PR espera um cargo de primeiro escalão para chamar de seu. No mesmo barco, está o PTB de Gim Argello e do vice-presidente da legenda, Benito Gama. Ora, se levar um susto na MP dos Portos, talvez Dilma acelere esse chamado.
Enquanto isso, na matemática...
A presidente pode perfeitamente considerar que as suas intenções de voto, suficientes hoje para assegurar uma vitória no primeiro turno, podem dispensar uma rendição às manobras partidárias. Mas, como me contava ontem um integrante da base governista, intenção de voto a mais de um no da eleição é algo volátil. Anthony Garotinho, por exemplo, tinha 4% nas pesquisas em 2002, faltando menos de um mês para a eleição. Obteve 19% dos votos e por pouco não foi ao segundo turno contra Lula. Seguro morreu de velho. Ou Dilma acerta logo a base para votar a MP, ou terá problemas ali na frente. Faça sua aposta. Vale registro ainda a forma como Eduardo está tirando o PSDB do debate dessa MP. Mas essa é outra história.
Fonte: Correio Braziliense
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