As cenas no Rio de Janeiro e as desta semana que veremos em Porto Alegre não deixam dúvidas. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, se movimenta como candidato a presidente da República e, nos últimos 30 dias, fugiu do script traçado lá atrás pelo PSB. A ideia original era de uma pré-candidatura no campo governista, leia-se aliado a Lula, ao PT e à presidente Dilma Rousseff, colocando-se como uma opção "por dentro".
A realidade, entretanto, empurra Eduardo a outros campos. Ele conversou com José Serra, ex-candidato a presidente pelo PSDB e um dos baluartes da oposição. Aproximou-se do presidente do PPS, Roberto Freire, seu conterrâneo e crítico feroz do governo Dilma e de Lula. Até o DEM, que frequentemente se refere a petistas como "quadrilha", tem setores simpáticos à pré-candidatura de Eduardo Campos. Obviamente, o socialista não recusa apoios. E, a essa altura do campeonato, sequer disse com todas as letras que vai mesmo ser candidato, nem poderia. Afinal, o diálogo político faz parte do dia-a-adia.
No sentido contrário, seguem os demais partidos da base aliada da presidente Dilma Rousseff. Os senadores do PMDB catarinense estavam felizes da vida na última semana no Congresso e fizeram chegar ao presidente do partido, Valdir Raupp, um acordo fechado em Santa Catarina. O PMDB pretende apoiar a reeleição do governador Raimundo Colombo, do PSD, indicando um candidato a vice na chapa. A vaga ao Senado está reservada para a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, do PT.
E, para completar, Dilma e Lula, aos poucos, vão amarrando os demais aliados. O PR ganhou ministério, o PP se considera bem contemplado. E, dentro do PSD de Gilberto Kassab, começa a se formar um consenso de que em 2014 o partido deve seguir com Dilma. Esse quadro de cerco aos aliados por parte do PT e as conversas de Eduardo com setores da oposição, desenhado ao longo do mês de março, expõem a necessidade de uma definição. Até fevereiro, a conversa interna do PSB era a de que o talentoso governador seria candidato como opção dentro da base de Dilma/Lula, para garantir uma alternativa interna ao PT, na hipótese de se confirmar um naufrágio da economia.
Esse naufrágio até agora não ocorreu e não há certeza de que ocorrerá, apesar da inflação dos alimentos. A presidente continua estourando de popularidade, inclusive no Nordeste. Lula já avisou que estará nas ruas pedindo votos em favor dela. Com esse cenário, o que o PT pretende saber de Eduardo Campos nos próximos 30 ou 60 dias é muito simples: a candidatura é para valer, independentemente do que ocorrer daqui para frente com a economia? Se for para ele ser candidato em qualquer circunstância, haverá uma pressão de setores do PT para que o PSB deixe o governo — em especial, o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, que, apesar das especulações em sentido contrário, aproveitou a solenidade de inauguração de obras em Serra Talhada (PE), para deixar registrado nas entrelinhas que ficará ao lado do governador e do seu partido, o PSB.
Enquanto isso, nos estados...
O desfile de Eduardo, ora mais afeito à oposição, ora aos aliados do governo, inquieta o próprio PSB por causa das alianças que o partido tem pelo Brasil afora. Em São Paulo, por exemplo, o PT desconfia do jogo do aliado, que já colocou um pé na campanha pela reeleição de Geraldo Alckmin. Já na Bahia, o DEM do deputado Claudio Cajado, por exemplo, que pertence ao grupo do prefeito ACM Neto, abre diálogo com Eduardo, deixando o PSB estressado por conta da antiga ligação entre socialistas e petistas no estado. Não por acaso, recentemente o vice-presidente do partido, sempre afinado com Eduardo Campos, afirmou em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo que o PSB não servirá aos interesses da oposição nem será oposição. Apenas exerce o seu legítimo direito de se apresentar como alternativa.
Ocorre que, Eduardo, aos poucos, vai sendo empurrado para a oposição ao mesmo tempo que (ainda) é governo. E, se demorar para decidir seu caminho, o duradouro casamento com o PT pode terminar mal. Momento mais difícil do que esse impossível. Afinal, o governador está entre a perspectiva de se lançar candidato para, no mínimo, se tornar conhecido — e assim garantir um lugar no primeiro time da política rumo a 2018 — ou recolher os flaps e passar a vida pensando que se deixou sufocar pelo PT, o partido que lhe passou a perna enquanto preparava futuros combatentes, por exemplo, Fernando Haddad em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país. É esse o momento atual na conjuntura do PSB.
Em tempo
O senador Jarbas Vasconcelos (mais um oposicionista!) pretende reunir esta semana Eduardo Campos com senadores do PMDB que integram a ala dos sem-ministério. Resta saber se a conversa é para valer ou apenas para forçar o governo a lhes conceder mais espaço de poder.
Fonte: Correio Braziliense
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