Por trás da precipitação da disputa presidencial de outubro de 2014, com o lançamento em fevereiro da candidatura à reeleição de Dilma Rousseff, além do cálculo de vantagens políticas(uso da elevada popularidade dela e da expectativa de divisão e baixa competitividade do PSDB para comprometimento de toda a base governista, inclusive do PSB de Eduardo Campos), ademais disso estava a perspectiva, mesmo a certeza, de um começo de 2013 com significativo crescimento e uma inflação convergindo para o centro da média – o que levava o Banco Central a descartar o aumento da Selic no primeiro semestre –, bem como de grande melhoria da balança comercial. Assim, o bom deslanche da campanha reeleitoral seria garantido por bons indicadores da economia (mesmo que sem consistência e com um custo a ser pago depois) que propiciariam a intensificação do assistencialismo e o isolamento de alternativa oposicionista.
Mas o primeiro trimestre terminou pondo em xeque as previsões e apostas do governo sobre as duas variáveis básicas do comportamento da economia: o controle inflacionário e o PIB. A inflação, ao invés de controle, aproxima-se do teto da meta, sendo que a correspondente a quem ganha até 2,5 salários mínimos já chegou, anualizada, a 6,94%.
A rigor, ela seria maior do que isso sem as medidas artificiais de represamento dos preços administrados, como os de tarefas de transporte coletivo e as de energia elétrica, estas com forte descapitalização das concessionárias que bloqueia investimentos essenciais e urgentes na modernização e expansão do setor. Quanto ao PIB, a aposta em crescimento a uma taxa entre 4% e 5% já foi reduzida pelo próprio BC para pouco mais de 3%.
E a perspectiva desse crescimento sofreu uma trombada com o anúncio pelo IBGE, anteontem, de uma queda de 2,5% da produção industrial em fevereiro, a maior taxa mensal negativa desde 2008. Cabendo assinalar que a pesquisa do IBGE tornou-se pública um dia após a divulgação de um déficit trimestral de US 5,150 bilhões em nossa balança comercial. O conhecimento prévio do indica-dor da produção da indústria, por parte do governo, foi certamente o motivo do inesperado anúncio (feito no final da semana passada) da prorrogação por todo o ano de 2013 dos benefícios fiscais para a compra de automóveis e caminhões através de alíquotas rebaixadas do IPI. E mais medidas de estímulo ao consumo (como a extensão dos mesmos benefícios aos produtos da chamada linha branca) devem ser brevemente anunciados.
Quanto à outra antecipação (a da disputa eleitoral) três dos ingredientes que a motivaram têm efeitos positivos e negativos para o governo: o assistencialismo e os estímulos ao consumo continuam garantindo a alta popularidade da presidente e amplo favoritismo inicial de sua campanha à reeleição; Eduardo Campos segue avançando com sua pré-candidatura dissidente; e o mineiro Aécio Neves está superando o divisionismo no PSDB.
Jarbas de Holanda, jornalista
Nenhum comentário:
Postar um comentário