Dia sim, outro também, ouve-se entre os congressistas que a presidente Dilma Rousseff não é afeita aos meandros da política. E daí, eles sugerem buscar outro caminho que não a campanha pela reeleição da petista, mesmo depois de Lula dizer que a candidata em 2014 será ela. Essa afirmação, entretanto, não se confirma diante daqueles que observam atentamente os movimentos da presidente.
A reforma ministerial que Dilma empreendeu ao longo das últimas semanas é uma prova de que ela tem se saído até muito bem na tarefa de medir a elasticidade do tecido de sua base parlamentar.
O caso do PR é emblemático. O partido jogou como pôde para entregar o Ministério dos Transportes ao deputado Luciano Castro, de Roraima, vice-líder do governo na Câmara. Dilma ouviu, ponderou, chamou os líderes e o presidente do partido, Alfredo Nascimento. Foram pelo menos três encontros. Quando eles pensavam que finalmente levariam o cargo do jeitinho que haviam imaginado, ela viaja. Tudo adiado. Alguns dias depois, lá estava César Borges escolhido ministro.
Aos deputados do PR liderados por Anthony Garotinho coube aceitar a decisão da presidente comunicada por telefone, onde apenas foi perguntado se havia algum veto ao nome do ex-senador e ex-governador da Bahia. Diante disso, o PR não teve outra saída, senão se conformar. Até a próxima crise por ali, a presidente ganha tempo. Ponto para Dilma.
E o que não dizer do PMDB? Ela e Michel Temer cozinham um ao outro em fogo brando. Ele, para amolecer a resistência dela em ceder cargos. Ela, para amolecer os desejos do partido dele. O jogo empatou com a nomeação de Wellington Moreira Franco para a Secretaria de Aviação Civil e de Antônio Andrade para Agricultura. Mas o PMDB ainda não tem tudo o que quer. Faltam os penduricalhos dessas pastas e as famosas agências reguladoras, de onde até agora Dilma não abre a guarda. Tanto é que indicou ontem mesmo o ex-ministro Paulo Sérgio Passos para a vaga da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) segurando todas as demais indicações políticas.
Enquanto isso, na CMO...
Sem perspectiva de novos cargos no governo, o PMDB deflagrou uma disputa interna em ter deputados e senadores pelo comando da Comissão Mista de Orçamento que analisará o Orçamento para 2014. Por acordo, a presidência este ano cabe ao Senado. O PMDB havia indicado o senador Lobão Filho, mas os deputados do partido não querem aceitar.
Os deputados peemedebistas consideram que o PT da Câmara não pode ficar com a relatoria porque isso, num ano eleitoral, seria entregar aos petistas a faca para cortar as verbas dos aliados e engordar os orçamentos a cargo do PT. "O PMDB no Senado ficou com a indicação por dois anos. Fez Vital do Rego presidente e Romero Jucá relator. Agora, chegou a vez dos deputados do PMDB indicarem o relator. E Eduardo Cunha foi eleito líder para defender a bancada da Câmara", diz o deputado Danilo Forte (PMDB-CE), que está cotado para o cargo.
A arbitragem dessa disputa ficou para a semana que vem. Mas, pelo tom dos políticos, não está tão fácil chegar a um acordo entre deputados e senadores. Para Dilma essa briga não é tão ruim quanto parece. É que, enquanto o PMDB briga internamente, não investe nos cargos do governo, deixando mais uma vez que ela ganhe tempo no comando de sua equipe. Afinal, se formos analisar ao pé da letra, ela fecha esse primeiro trimestre do ano com ares de quem trocou alguns personagens, mas não entregou tudo. Se continuará assim, só o futuro dirá. Uma coisa é certa: enquanto ela estiver em alta na sociedade, manterá esse controle.
Em tempo
No Ministério da Agricultura, a bancada do PMDB considera que o prazo para Antonio Andrade dar resultado ao partido é de 90 dias. Já se passaram 26. Mas essa é outra história.
Fonte: Correio Braziliense
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