Em seu depoimento na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal na última terça-feira, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, negou que seja tolerante com a inflação.
A primeira observação que se pode fazer sobre essa afirmação é que a todo momento a atual diretoria do Banco Central vem se sentindo na obrigação de se defender desse tipo de crítica. Desde 1999, quando o sistema de metas de inflação foi adotado pelo Brasil, nenhuma outra diretoria do Banco Central foi cobrada por leniência no desempenho de sua principal função, que é defender a moeda contra a corrosão provocada pela inflação. Se, apesar dos reiterados desmentidos, persiste a dúvida - digamos que seja apenas uma dúvida -, então é preciso entender que fica prejudicada outra função essencial do Banco Central: conduzir as expectativas dos mercados.
Mês após mês, o Banco Central está revendo suas projeções otimistas demais sobre o comportamento dos preços. Já tem motivos de sobra para agir e, no entanto, não age. Neste momento, prefere manter a cautela que, no caso, é esperar para ver - supostamente para conferir até que ponto a mecha do balão apagará espontaneamente ou até que ponto a política de isenções tributárias do governo agirá na derrubada dos preços, sem necessidade de acionar a política de juros para trazê-lo de volta à terra.
O Banco Central teria razão se argumentasse que não são os juros baixos que provocam a inflação e, consequentemente, que não seriam os juros mais altos que deveriam combatê-la. Tem razão, sim, porque a principal linha de montagem da inflação são as excessivas despesas públicas - aquilo que o Banco Central tem chamado de política fiscal expansionista. Portanto, a causa a atacar é verdadeiramente outra. No entanto, se a política fiscal continua flácida demais, não há outra solução senão apelar para mais aperto monetário (alta dos juros).
Ainda persiste no Brasil o entendimento equivocado e velho de guerra de que um pouquinho a mais de inflação não dói, é perfeitamente tolerável e é até saudável porque ajuda a empurrar o sistema produtivo e auxilia na distribuição da renda, na medida em que corrói a riqueza do setor mais inchado da economia, que é o setor financeiro, onde prosperam os que vivem de rendas, e a transfere para o governo, o principal devedor.
Esse é um entendimento equivocado, por várias razões. Primeira, não é verdade que mais inflação puxa crescimento econômico, como está mais do que demonstrado e repetido pelo Banco Central; segunda razão, é enorme o risco do tantinho a mais virar tantão a mais, como a história da Economia demonstrou inúmeras vezes; terceira, a principal vítima da inflação não é o rentista, embora ele também perca, mas é, sim, o assalariado, que não consegue recompor sua renda à mesma velocidade com que a inflação a reduz; e, quarta razão, a inflação cria instabilidade, afasta os investimentos e produz distorções na economia.
O próprio Banco Central já reconhece que sua política não está reconduzindo a inflação à meta no horizonte visível. Se isso não é leniência com a inflação, então o que seria?
Fonte: O Estado de S. Paulo
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