Eleito presidente do PSDB, pré-candidato ao Planalto defende volta do programa tucano e o "fazer diferente"
Cristiane Jungblut , Danilo Fariello, Gabriela Valente e Paulo Celso Pereira
BRASÍLIA - Em um evento grandioso, para cerca de quatro mil pessoas, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) foi eleito ontem presidente nacional do PSDB, sacramentando o início de sua corrida à presidência da República. A convenção nacional do partido, em Brasília, reuniu todas as principais lideranças tucanas e foi usado por vários líderes do partido, e até de aliados, como palco para o lançamento do mineiro. Ao fim de uma semana de intensas negociações, o ex-governador José Serra compareceu, discursou e prometeu unidade nas próximas eleições, apesar de não ter citado Aécio como candidato.
O evento, organizado pela equipe de Aécio, foi marcado por um resgate da história do PSDB e do governo Fernando Henrique Cardoso. Um conjunto de vídeos foi exibido em um telão curvo de cerca de 40 metros que "abraçava" o público. Neles, o partido resgatou as lutas contra a ditadura de 1964, pela redemocratização, a criação do Real e os protestos contra a corrupção no governo Lula. Uma longa série de políticos históricos que tiveram papéis decisivos nesses momentos, como Mário Covas, Ulysses Guimarães, Miguel Arraes, Leonel Brizola e, principalmente, Tancredo Neves foram exaltados nas imagens. Aécio, que foi o último a discursar, abriu sua fala ressaltando o resgate:
- Hoje, nos reencontramos com nossa própria histórias, com nossos valores e princípios, mas, sobretudo, com a nossa responsabilidade de mudar o Brasil. Ao olhar, e olhava atentamente o semblante, nos olhos de cada companheiro que aqui estava, percebi que é realmente um reencontro. (...) Nossa história irá recomeçar. E ela só terá êxito se for uma história construída a várias mãos, e as suas mãos, limpas e honradas, serão fundamentais para que possamos um dia devolver ao Brasil um governo sério, honrado e eficiente.
Defesa do legado de FH
Durante todo o evento, os tucanos defenderam que os anos de avanços do governo Lula seriam devidos às políticas exitosas de Fernando Henrique. O ex-governador de Minas Gerais focou suas críticas nos dois primeiros anos do governo da presidente Dilma Rousseff.
- Eles comemoram dez e não dois anos, porque, se tivessem que comemorar dois anos, seriam apenas três as marcas: o pibinho ridículo, irrisório e vexatório, a inflação saindo de controle e as obras de infraestrutura estagnadas. Essa é a marca do descompromisso do PT com as futuras gerações - criticou.
Desde o início da semana, a grande dúvida entre os caciques tucanos era sobre o tom que seria adotado por José Serra no evento. Pela manhã, o ex-candidato à presidência da República não compareceu à reunião dos principais líderes da legenda no apartamento de Aécio. Para aumentar a tensão, Serra foi o último a chegar ao evento tucano, cerca de meia hora depois da comitiva. Coube à juventude do partido, ligada ao mineiro, fazer afagos seguidos no ex-governador de São Paulo, com muitos aplausos e palavra de ordem em seu favor. Serra fez um discurso de pouco mais de 15 minutos, no qual pontuou problemas do país e prometeu marchar unido com os tucanos, pondo fim às especulações sobre sua saída da legenda.
- Não tenho porta-vozes, intermediários, intérpretes. Quem quiser saber o que penso só tenho uma fonte oficial, eu mesmo. E conto com a lealdade. (...) Nunca pus e não ponho minhas paixões à frente da razão. E com os olhos em 2014, e no futuro no Brasil, vou continuar a atuar em favor da unidade das oposições e de quantos entendam que é chegada a hora de dar um basta à essa incompetência, que é uma incompetência incrível. Porque eles são orgulhosamente incompetentes. Os que estamos juntos hoje, estaremos, com absoluta certeza, do mesmo lado em 2014. Os que estão aqui escolheram um lado e estão do lado da justiça social com democracia - disse Serra, citando Aécio apenas como presidente do partido.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, foi mais econômico nas palavras do que Serra, mas bem mais direto no apoio à candidatura de Aécio. Ele brincou que Aécio teria que ser "o mais paulista dos mineiros".
- Eles são da inflação, nós somos do Real, da moeda forte - afirmou.
Deferência a José Serra
Encerrada a convenção, Aécio elogiou a presença e o discurso de Serra. Em rápida conversa em sala reservada no local do encontro, Aécio ressaltou a unidade e admitiu que os dois tiveram divergências no passado. Apesar de ter sido lançado como candidato a presidente em 2014, Aécio disse que é cedo para falar na corrida presidencial e que isso deveria ocorrer no ano que vem. Mas tem um slogan: "Não é fazer mais, é fazer diferente para fazer melhor".
- A presença dele por si só foi muito importante. O Serra é um companheiro que tem seu DNA no PSDB, companheiro que o PSDB respeita e ele terá todo o espaço para contribuir, até para ser candidato. O PSDB não tem que antecipar escolhas. A presença dele aqui, a solidez do seu discurso só mostram o grande homem público que ele é. Tivemos problemas no passado, mas, dentro do possível, nos grandes momentos, estivemos juntos - disse Aécio.
Estiveram presentes na convenção do PSDB dois dos partidos que dividem a oposição ao atual governo no Congresso, o PPS e o Democratas. Ambos os partidos manifestaram um apoio explícito a Aécio Neves e o compromisso em aderirem à provável campanha do novo presidente do PSDB. O presidente do PPS, deputado Roberto Freire, lembrou que participou da fundação do PSDB e que, apesar do cenário adverso que se apresenta para a próxima campanha eleitoral à Presidência, acredita no potencial de Aécio.
- O PSDB tem como desafio enfrentar aqueles que não respeitam a democracia e nem as instituições republicanas e criar alternativas. Estivemos juntos lá em Minas, estivemos nas duas últimas eleições presidenciais e estaremos em 2014, sem nenhuma dúvida. A oposição brasileira precisa ter a unidade e entender que não será uma tarefa fácil e não está nada definido - disse Freire.
O senador e presidente do DEM, José Agripino Maia (RN) criticou a condução econômica do governo do PT e ironizou a adoção de concessões públicas:
- Por que é que eu estou aqui? Porque eu sempre estive aqui. Entre a filial e a matriz, eu fico com a matriz. E a matriz é Aécio Neves. Estivemos e estaremos juntos para fazer o Brasil crescer.
Fonte: O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário