Se o discurso de Aécio Neves ao ser sagrado presidente do PSDB ontem servir de base para a retórica de sua provável candidatura presidencial no ano que vem, os tucanos estão em apuros.
Naturalmente, é preciso dar um desconto: o mineiro se dirigia aos "seus" -fazendo de conta, é claro, que José Serra e aliados possam entrar nesse cômputo.
É notável que desta vez os tucanos não estejam escondendo o fato de que governaram o país por oito anos, que promoveram privatizações e tal. Aécio elogiar FHC é algo honesto intelectualmente; se dá ou tira voto, essa é outra história.
Mas tentar tomar para si bandeiras que o PT elabora e trombeteia há dez anos no poder é duvidoso do ponto de eficácia nas urnas.
Não se fala aqui do mérito. É óbvio, por exemplo, que o modelo dos programas de transferência de renda nasceu no governo FHC. Agora, difícil será convencer algum eleitor de que o Bolsa Família não é uma invenção de Lula -que o formatou e turbinou, com o impacto na miséria e na contabilidade de votos conhecido.
Não que Aécio tivesse para onde correr: seria pior falar muito mal de iniciativas que se provaram bem-sucedidas eleitoralmente. O governo petista é bem avaliado, apesar de seus inúmeros problemas administrativos e éticos.
Mazelas essas que foram alvo de críticas incisivas ontem, ainda que os tucanos estejam meio encurralados nessa largada.
O senador resumiu seu manifesto ao dizer que o que há de bom no Brasil surgiu nos anos FHC e em gestões tucanas, emulando de certa forma o "nunca antes neste país" do lulismo, e que essa herança está em vias de extinção devido à inépcia do PT.
Pode até colar numa faixa do eleitorado. Mesmo aí, há um problema. No discurso distribuído, mas não lido, Aécio dizia que "é preciso fazer diferente", "é possível fazer melhor". Só que faltou explicar como.
Fonte: Folha de S. Paulo
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