Analistas discordam de Mantega sobre geração de postos de trabalho
BRASÍLIA - O discurso do governo de que a geração de postos de trabalho é "tão ou mais importante" do que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país) não encontra respaldo na avaliação de economistas. Os dois temas estão interligados, destacam os analistas, alertando para uma mudança importante na economia brasileira, que se desloca para o eixo de serviços e comércio - setores que empregam muito, mas geram baixa produtividade, devido a pouca qualificação dos trabalhadores no Brasil. Isso põe em xeque o futuro do emprego no país e o próprio crescimento econômico, alertam os economistas.
No início deste mês, em apresentação a parlamentares do PT, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que "tão ou mais importante que o PIB é a geração de empregos formais".
Para o professor Fernando de Holanda Filho, da Fundação Getulio Vargas (FGV), a baixa produtividade dos setores de comércio e serviço compromete o crescimento do PIB e agrava a situação da indústria, diante da alta dos salários.
- A renda alta gera um problema para a indústria, que perde competitividade. E o resultado disso é um modelo de crescimento baixo - disse ele.
Na avaliação do professor do Instituto de Economia da Unicamp, Cláudio Dedecca, não é possível desvincular abertura de vagas do crescimento da economia.
- As perspectivas para o emprego encontram-se estritamente associadas ao crescimento da economia. Não creio que teremos uma performance boa a médio e longo prazos de geração de empregos se a economia não for reativada - considerou Dedecca. - Mesmo que minha expectativa (de desempenho não favorável) seja contrariada, o resultado (do emprego) não deveria ser valorizado pelo governo, mas sim analisado com cautela.
O professor destacou que o resultado do emprego tem se respaldado no setor de serviços, que, na prática, não reflete crescimento do PIB, mas sim do consumo da população. Além disso, ressaltou que o grande calcanhar de aquiles, hoje, é a indústria.
O professor Armando Castelar, do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da FGV, chama a atenção para o fato de que o comércio, setor com grande peso nos serviços, já começa a demonstrar arrefecimento, com a queda por dois meses consecutivos no volume das vendas, conforme mostrou o IBGE na semana passada. Na sua avaliação, a queda no volume de vendas, resultado da alta nos juros e do endividamento das famílias, é uma notícia ruim para o mercado de trabalho. Ele destacou que um país que cresce pouco, apenas para segurar os empregos, não consegue melhorar o padrão de vida da população.
- Ter o emprego como único objetivo é pouco auspicioso - afirmou.
Fonte: O Globo
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