Antes de sair em campanha, todo candidato precisa se tornar conhecido dos eleitores. O esforço inclui encarar caravanas pelo interior e marcar presença em programas populares
Paulo de Tarso Lyra
Ao iniciar o planejamento das caravanas que fará pelo país ao longo de 2013, o senador Aécio Neves (MG), provável candidato do PSDB à Presidência, entrará no inevitável roteiro de imersão popular pelo qual passa todo postulante a algum cargo público no país. O périplo inclui viagens aos rincões brasileiros, conversas com a população mais carente, imersões na cultura local — o que inclui fotografias com trajes típicos — e, mais importante, degustação da culinária da região. Praticamente todos os presidentes eleitos no Brasil desde 1988 tiveram de rezar a mesma cartilha para colher um resultado positivo nas urnas.
Considerado o principal líder popular em atividade política no país, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aprimorou o talento originado nas assembleias sindicais do fim da década de 1970 durante as caravanas da cidadania. Após perder as eleições presidenciais de 1989 para Fernando Collor, Lula decidiu viajar pelo interior para aprofundar o conhecimento que tinha de país. "Não há como negar que as caravanas forjaram o personagem no qual Lula se transformou posteriormente", declarou o secretário de Organização do PT, Paulo Frateschi.
Na contramão de alguns petistas que renegam tudo que venha das hostes do tucanato, Frateschi admite que o ex-presidente Fernando Henrique também tinha conhecimento da realidade brasileira. "Era um conhecimento formado em bases diferentes das de Lula. Mais acadêmico do que prático. Mas era um conhecimento importante para forjar o pensamento dele sobre o país", completou Frateschi.
Mesmo assim, durante a campanha presidencial de 1994, FHC teve que coligar-se com o PFL para ter uma maior inserção social, especialmente na Região Nordeste. Em uma das fotos mais emblemáticas da disputa daquele ano, Fernando Henrique apareceu montado em um burrico.
A atual presidente Dilma Rousseff também teve que ser moldada. Em 2009, quando foi lançada como a mãe do PAC, o que a credenciava para ser candidata ao Palácio do Planalto no ano seguinte, ela não tinha nenhum jogo de cintura. Aos poucos, foi melhorando o traquejo. "Ela está mais desenvolta, habilidosa, faz piadas, abraça as pessoas. Não é mais algo tão estranho para ela", disse ao Correio um governador de um estado nordestino. "Nos palanques, ela aprendeu a deslizar de um lado para o outro, o que dá uma dinâmica melhor na comunicação", afirmou outro petista.
Proximidade
Responsável por coordenar o grupo que vai sistematizar as caravanas de Aécio, o tucano Alberto Goldmann (SP) reconhece a importância de se afinizar. "Muitas vezes, as pessoas mais carentes estão distantes do debate político. Por isso, é importante essa aproximação entre os anseios deles e os nossos projetos políticos", explicou.
Para o especialista em marketing Elsinho Mouco, não é possível "criar um personagem" do nada. "O responsável pelas propagandas do candidato reforça as potencialidades e trabalha em cima delas. É isso que torna o político mais ou menos atraente para o povo", disse. Para ele, não adianta concentrar-se apenas no périplo feito pela maioria dos políticos — e todos eles fizeram — por programas populares nas diversas emissoras de televisão e de rádio. "É preciso provocar emoção no eleitor para que ele pare para ouvir o que você tem a dizer", ensinou Elsinho.
Fonte: Correio Braziliense
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