“A questão posta por Panunzio a respeito de um ”quarto” poder estatal o de “determinação da diretriz política”, parece que deve ser relacionada com os problemas suscitados com o desaparecimento dos partidos políticos e, portanto, pelo esvaziamento do parlamento. É um modo “burocrático” de por um problema que era antes resolvido pelo funcionamento normal da vida política nacional, mas não se vê como possa ser essa solução “burocrática”.
Os partidos eram efetivamente os organismos que, na sociedade civil, não só elaboravam as diretrizes políticas, mas educavam e apresentavam os homens supostamente em condições de aplicá-las.
No terreno parlamentar as “diretrizes” elaboradas, totais ou parciais, de longo alcance ou de caráter imediato, eram confrontadas, despidas dos traços particularistas, etc, e uma delas tornava-se “estatal”, na medida em que o grupo parlamentar do partido mais forte se tornava o “Governo” ou dirigia o Governo.
O fato de que, pela desagregação parlamentar, os partidos se tornaram incapazes de realizar esta tarefa não anulou a tarefa em si nem apresentou um caminho novo de solução: assim também para a educação e a valorização das personalidades.
A solução “burocrática” de fato, mascara um regime de partidos da pior espécie, partidos que operam às ocultas, sem controle; os partidos são substituídos por camarilhas e influências pessoais inconfessáveis: sem contar que restringe as possibilidades de opção e embota a sensibilidade política e a elasticidade tática.”
Antonio Gramsci, “O fim do sistema parlamentarista e a centralização de responsabilidades” In, Cadernos do Cárcere, vol.3, p.341. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2007.
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