A campanha presidencial está prematuramente nas ruas. Os candidatos são definidos com larga antecedência. A primeira a ser lançada foi Dilma, assumida aspirante à reeleição. Marina Silva permanece na dependência da legalização da Rede. Eduardo Campos não deixa saber exatamente o que fará, mas se antecipa e trata de amealhar apoios. Por último, Aécio Neves, que surge como única chance de vitória para o PSDB.
Os tucanos irão à batalha sem plano B. Apesar do número elevado de líderes, ou caciques, o partido é paupérrimo em nomes aptos a disputarem a Presidência da República. Contam, apenas, com o senador e ex-governador de Minas Gerais. Para ter chance de sucesso, o caminho a percorrer será longo, repleto de curvas e acidentado. O neto de Tancredo Neves terá, como desafio imediato, de solidificar apoio interno unânime, resoluto, inquebrantável. Não apenas promessas fáceis de serem feitas. Refiro-me ao engajamento aguerrido, determinado, vigoroso, dos governadores e das lideranças, desde o ex-presidente Fernando Henrique até prefeitos e vereadores de municípios grandes e pequenos, próximos e distantes, conhecidos e ignorados.
Nesse aspecto, o PT é incomparavelmente melhor, pois respeita a disciplina e é estruturado hierarquicamente. Supera qualquer outra agremiação partidária nacional. Lula tem sido, desde a fundação, o fator de coesão e a última instância na tomada de decisões irrecorríveis. O PSDB teria, em Fernando Henrique, o chefe supremo, a maior liderança. FHC, todavia, nunca revelou vocação para o mando. É homem cordato, de hábitos elegantes, intelectual refinado, amante da vida acadêmica, que chegou à Presidência em circunstâncias especiais e únicas. Jamais cortejou e acumulou popularidade, ao contrário do que sucede com o comandante das hostes adversárias.
Dos 27 estados, o PSDB governa oito: Alagoas, com Teotônio Vilela Filho; Goiás, com Marconi Perillo; Minas Gerais, com Antônio Anastasia; Pará, com Simão Jatene; Paraná, com Beto Richa; Roraima, com José de Anchieta Júnior; São Paulo, com Geraldo Alckmin; e Tocantins, com Siqueira Campos. A questão está em se saber até que ponto se empenharão a fundo na candidatura à Presidência, remetendo para segundo plano projetos pessoais.
Não obstante Minas e São Paulo concentrem os maiores colégios eleitorais, quais limites se imporão Antônio Anastasia e Geraldo Alckmin no uso das poderosas máquinas que têm nas mãos?
A sombra de José Serra, que já se declarou indisposto a abandonar a carreira, manchada por inglória derrota para o desconhecido Fernando Haddad nas eleições de São Paulo, deve provocar insônia entre lideranças tucanas abraçadas à candidatura Aécio, como derradeira esperança do partido.
Pelo lado do PT, o horizonte aparenta ser menos ameaçador. Lula tem dado repetidas demonstrações daquilo de que é capaz. Dilma Rousseff, por sua parte, inicia a disputa com aprovação popular em alta e se revela exímia comunicadora aos ouvidos do povo.
Quanto ao PMDB, com governadores à frente de cinco estados, demonstra estar satisfeito na posição de coadjuvante. Basta-lhe a Vice-Presidência, desde que acompanhada de ministérios e diretorias de estatais e sociedades de economia mista.
A incógnita está em Pernambuco. O neto de Miguel Arraes é personagem recente no plano federal, como acontece com o ex-prefeito Gilberto Kassab. São políticos com reduzida tendência a fazer oposição. Corro o risco de errar, mas não acredito em candidaturas próprias, ou que entrem em conflito com o PT para dar apoio a Aécio.
Seria extremamente salutar para o Brasil a rotatividade na Presidência da República. O Partido dos Trabalhadores manda há 10 anos. Em breve, serão 12. O país melhorou? Penso que sim, mas a própria Dilma reconhece que poderia ter feito mais.
Estamos sob o domínio das grandes massas, expressão a que recorro sem qualquer traço depreciativo. Lula, como Getúlio, compreendeu, melhor do que qualquer outro político recente, o papel e a importância da multidão, das camadas esquecidas. Dirigiu-se a elas desde a época em que era dirigente sindical. Por isso fundou o PT e o transformou, em curto espaço de tempo, no único partido organizado e disciplinado que temos.
Em torno do tucanato criou-se a imagem de partido elitista. Seria, guardadas diferenças, uma espécie de UDN repaginada, que, segundo maldade de adversários, recusava o voto dos marmiteiros. Trata-se, a meu ver, de mais um dos desafios à espera de Aécio Neves.
Conseguirá o hábil político superar tantas dificuldades? É o que veremos quando der início às caravanas pelo interior do país.
Advogado, foi ministro do Trabalho e presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST)
Fonte: Correio Braziliense
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