Apesar de negarem intenção de antecipar o debate de 2014, o senador Aécio Neves (PSDB), o governador Eduardo Campos (PSB) e a presidente Dilma intensificaram agendas Brasil afora
Karla Correia e Paulo de Tarso Lyra
BRASÍLIA – A despeito da postura evasiva sobre as possíveis candidaturas ao Palácio do Planalto em 2014, os mais prováveis adversários na corrida presidencial têm ampliado seus deslocamentos pelo país. A presidente Dilma Rousseff (PT), o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), se empenham em desenhar roteiros típicos de presidenciáveis em suas andanças, ao mesmo tempo em que evitam se posicionar como candidatos e trocam acusações sobre quem seria o responsável pela antecipação da disputa pelo Palácio do Planalto.
A presidente Dilma procura manter o capital político que tem na Região Nordeste e que deu a ela 12 milhões de votos de vantagem em relação ao adversário José Serra (PSDB) em 2010. A região, onde o governo tem seus melhores índices de aprovação, se transformou no foco das atenções da presidente. Dos 22,8 mil quilômetros percorridos por Dilma no país só neste ano, 79% foram no Nordeste. Mais da metade das cidades brasileiras visitadas pela presidente desde o início do ano até a semana passada são nordestinas.
A presença da presidente na região tem o objetivo também de não deixar espaço ao governador pernambucano e tem sua tensão aumentada pela seca que atinge o Nordeste – a pior dos últimos 50 anos. O pacote de R$ 9 bilhões destinado pelo governo federal ao socorro à região foi criticado por Eduardo Campos já na saída do evento que marcou o anúncio do programa, em Fortaleza, no início de abril. "As propostas continuam as mesmas, o que avançou mesmo foi a seca", sentenciou ele.
Convenção. Aécio Neves é, até o momento, o candidato em potencial que menos acumulou "milhagem". Foram apenas três viagens para compromissos políticos fora do eixo Minas-Distrito Federal, onde cumpre sua agenda de parlamentar. Não se manterá assim por muito tempo, diz o deputado federal Rodrigo de Castro (PSDB-MG). A ideia é que o senador intensifique suas viagens a partir da convenção nacional do partido, marcada para o fim deste mês, que deve elegê-lo presidente da legenda. "Até agora, ele tem se dedicado mais a costurar a união interna do PSDB", diz Castro.
Já cortejada por Dilma, a Região Nordeste deve ser uma das prioridades do senador mineiro, afirma o deputado, que ajuda a construir o roteiro de viagens de Aécio para o segundo semestre. Mas o ponto de partida deve ser o interior de São Paulo, onde o PSDB é forte, e também onde se concentra boa parte da influência de José Serra, candidato derrotado à Prefeitura de São Paulo em 2012.
De acordo com um tucano próximo a Aécio, Serra é hoje o único obstáculo no caminho do senador mineiro para a presidência do partido e para sua candidatura ao Planalto em 2014. Por conta disso, Aécio tem concentrado suas atenções no estado e buscado recompor o diálogo com Serra. "Eles têm conversado por telefone. O clima entre eles hoje está muito melhor do que estava no ano passado, por exemplo. Há chances de se construir uma unidade no partido", avalia o aliado de Aécio.
O périplo pelo interior de São Paulo terá a função de demonstrar essa coesão, afirma Castro. "Além disso, vamos buscar regiões que têm sido castigadas por problemas que o governo não resolve. O Centro-Oeste não consegue escoar sua produção agrícola? Vamos para lá, mostrar nossas propostas. O Nordeste está penando com a seca? Estaremos lá também. Seremos o contraponto do governo Dilma", afirma o deputado.
Visibilidade. Em busca de maior exposição além das divisas da Região Nordeste, Eduardo Campos é o candidato em potencial que apresentou maior mudança no traçado de suas viagens. Nos quatro primeiros meses do ano pré-eleitoral, o governador já se deslocou 13 vezes para fora do estado, de acordo com sua agenda oficial divulgada no site do governo pernambucano. Em cada excursão, Campos enfrenta uma nova maratona de visibilidade. Em fevereiro, fez uma aparição na feira de tecnologia Campus Party, em São Paulo. Repetiu à exaustão o slogan "o Brasil precisa fazer mais", em palestra durante o Congresso Paulista dos Municípios, que aconteceu em Santos (SP), em abril. Em Porto Alegre, também no mês passado, defendeu "mais avanços" na política social. Os ataques pontuais ao governo federal, sobretudo quanto à condução da política econômica, são frequentes nos compromissos do governador pernambucano em outros estados.
"Trata-se de um debate que o governo não quer fazer e se esforça para jogar para debaixo do tapete", diz o líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (RS), um dos principais defensores da candidatura própria da legenda em 2014. "O Eduardo é um dos grandes articuladores do país e defende ideias muitas vezes divergentes do caminho adotado pelo governo. Ele é convidado para expor essas ideias e isso é sinal de que ele é uma personalidade que está sendo reconhecida fora do Nordeste, não que está em busca desse reconhecimento", defende. Para efeito de comparação, em 2012, foram apenas três as viagens de Campos para fora de Pernambuco, no mesmo período.
A guerra do marketing na TV
A guerra do marketing já está no ar e vai crescer até o início do horário eleitoral gratuito, em agosto do ano que vem. O PSDB trouxe do Rio de Janeiro Renato Pereira, parceiro de uma empresa americana que trabalhou na campanha de Barack Obama. E o PT vai manter a parceria vitoriosa com João Santana, responsável pela campanha da presidente Dilma Rousseff em 2010. O PSB ainda contará, quando a campanha presidencial deslanchar de fato, com os serviços do publicitário baiano Duda Mendonça.
O estrategista Renato Pereira, contratado para elaborar as propagandas eleitorais do PSDB e do encontro nacional que elegerá o senador Aécio Neves (MG) presidente do partido em maio, tem contrato firmado com os tucanos até junho. "Nós estamos conhecendo o trabalho e ele está conhecendo o nosso partido. Se der certo, é claro que a parceria será mantida", explicou o presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE).
Aécio gostou do material produzido por Renato para as campanhas do PMDB fluminense, fundamentais nas eleições de Sérgio Cabral para o governo e de Eduardo Paes para a prefeitura da capital. "Ele tem uma linguagem mais ágil, moderna, jovem. Em nossa avaliação, precisamos dar uma virada na propaganda política, uma etapa posterior à geração de Duda Mendonça e de João Santana", explicou ele. Sobre a parceria de Pereira com a americana AKPD Global, divisão internacional da AKPD Message & Media, empresa de David Axelrod, o marqueteiro de Barack Obama, o senador sugere: "Isso é fruto da amizade do Fernando Henrique com o Bill Clinton".
O PT mantém a parceria estabelecida com João Santana. O jornalista e publicitário baiano era sócio de Duda Mendonça. Ganhou prestígio junto ao PT com a reeleição de Lula em plena crise política do mensalão e com a vitória de Dilma Rousseff quatro anos depois.
10 anos O secretário de organização do PT, Paulo Frateschi, afirmou que, além das propagandas políticas do partido, que serão veiculadas em maio, Santana elaborou a marca dos seminários petistas com o balanço de 10 anos no poder, embalado pelo slogan "do povo, pelo povo, para o povo". Palpita até nos pronunciamentos oficiais de rádio e televisão feitos pela presidente Dilma. "A parceria de Santana com o PT tem rendido bons frutos", admitiu Frateschi.
Já o PSB divide os trabalhos em duas etapas. Neste primeiro momento, a dupla responsável pelos trabalhos é Edson Barbosa e o argentino Diego Brandy, considerado o mago das pesquisas em terras pernambucanas. Um interlocutor próximo a Eduardo afirmou que a dupla continuará trabalhando para o partido, mas que Duda Mendonça e Antonio Lavareda atuarão com mais intensidade a partir do final do ano. "Eles vão entrar na fase do mata-mata", brincou um aliado de Eduardo, em uma referência à fase eliminatória de competições de futebol.
Fonte: Estado de Minas
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