Paola de Moura e Guilherme Serodio
RIO - Com vitórias esmagadoras nas duas últimas eleições, nas quais reelegeu o governador Sérgio Cabral com 66,08% dos votos, em 2010, e o prefeito Eduardo Paes, com 64,6%, em 2012, ambos em primeiro turno, o PMDB do Rio começa a ver enfraquecida sua hegemonia, que se ancorava numa ampla aliança de cerca de 20 partidos.
Depois de perder o principal aliado, o PT, e bater o pé para tentar derrubar a candidatura do senador Lindbergh Farias, agora o partido assiste o PDT aventar a possibilidade de lançar o deputado federal Miro Teixeira na disputa majoritária de 2014. A oposição oficial também já tem um nome, o ex-prefeito e agora vereador Cesar Maia (DEM) deve representar a aliança DEM/PSDB. Outro pré-candidato à disputa pelo Palácio Guanabara é o deputado federal e ex-governador Anthony Garotinho (PR).
O novo cenário de múltiplas candidaturas, por enquanto, beneficia os nomes de Lindbergh e Garotinho, já que tem a tendência de tirar votos do candidato do PMDB, o vice-governador Luiz Fernando Pezão, pouco conhecido do eleitor e com uma candidatura que ainda está se formando.
Garotinho afirma que as sondagens encomendadas pelos partidos apontam que ele e o pré-candidato petista, mais conhecidos do eleitor, saem na frente. Segundo ele, pesquisas do PMDB mostram sua candidatura com 25% a 27% da preferência do eleitor, Lindbergh com 17% e Pezão com 15%. Já as sondagens do PR apresentam Garotinho com 30% a 33% da preferência do eleitorado, seguido por Lindbergh (19%), o senador do PRB Marcelo Crivella (14%) e Pezão (10%). "Tanto as nossas pesquisas quanto as dos PMDB me apontam em primeiro lugar, a diferença é o número", diz Garotinho ao Valor.
O ex-governador acrescenta que ainda não decidiu se fará campanha junto à base aliada do governo federal ou buscará o apoio de partidos da oposição, uma decisão que o PR deixará a cargo das direções estaduais. Garotinho não promete fidelidade à presidente Dilma Rousseff e afirma que sua candidatura tem sinergia tanto com o PT quanto com o PSDB.
"Não temos nenhum compromisso de apoiar a presidente Dilma no Rio de Janeiro. O nosso compromisso com ela foi nacional", afirma. "Não estou dizendo que não serei [candidato da base], mas, no Rio, o compromisso que eu poderei ter com ela vai depender do compromisso que ela poderá ter ou não comigo".
Em um Estado onde desenham-se quatro candidaturas de partidos que compõem a base aliada do governo federal, o apoio de Dilma e do ex-presidente Lula é um ativo disputado, mas que ainda não está garantido a ninguém, nem ao próprio PT. Consciente da proximidade do governo federal com o PMDB do Rio, Lindbergh diz entender se Lula e Dilma optarem por não subir em palanques no Estado.
"Não quero causar nenhum constrangimento à Dilma e ao Lula", afirma o senador petista. "Não quero exclusividade, só digo o seguinte: não podem tirar o direito a nossa candidatura". Segundo ele, o PT estadual está unido em torno de seu nome e não vai abrir mão de uma candidatura própria ao governo do Rio. "A gente sabe que o PMDB tem projeto até depois de 2020 no Rio", diz. "Abrir mão agora significa o recuo definitivo, seria o fim de um projeto de partido", acrescenta.
Miro Teixeira diz que já conversou com o presidente do seu partido, o ex-ministro Carlos Lupi, e vai lançar sua pré-candidatura na convenção do PDT, no dia 15 de maio. Apesar de a sigla fazer parte da base de apoio aos governos federal e estadual, Miro não vê problemas na candidatura própria. "Não ocupo nenhum cargo. Por mim [o partido] saía [do governo] amanhã", afirma. "Mas também não percebo incompatibilidade em continuar. O PSB está no governo federal, o PT está no estadual, e todos possuem candidatura postas", diz.
Sem um candidato no Rio, o PSB tem buscado nomes que possam dar um palanque ao governador Eduardo Campos no Estado. O próprio Campos já convidou o secretário de Segurança de Cabral, José Mariano Beltrame. Cotado também para vice na chapa do PMDB, Beltrame insiste que quer ficar longe da política.
Outra candidatura discutida é a do deputado estadual Domingos Brazão. Importante força política na zona oeste do Rio, Brazão foi eleito com mais de 91 mil votos em 2010. O deputado articula a fundação de um partido, o Partido Liberal Brasileiro (PLB), junto com o também deputado estadual Pedro Augusto (PMDB), eleito com 111 mil votos. Incomodado porque o PMDB não cumpriu o acordo de fazer rodízio na presidência da Assembleia Legislativa (Alerj) na legislatura passada, o deputado e seu grupo político têm tentado obstruir importantes projetos na Casa. Para compensar a força de Brazão, na última eleição para presidente da Alerj, Cabral mandou de volta à Casa seis de seus secretários para garantir a reeleição de seu fiel escudeiro, o deputado estadual Paulo Mello (PMDB).
Para o presidente do PMDB no Rio, Jorge Picciani, "muita água ainda vai rolar". Picciani não acredita que as pré-candidaturas postas serão efetivadas. "Estou tranquilo quanto ao Brazão. Ele é um companheiro de partido. Não acredito que saia do PMDB", diz.
Picciani aposta que a fundação do PLB, servirá para dar legenda aos aliados de Brazão que não têm espaço no PMDB.
Picciani também duvida que a candidatura de Miro Teixeira se concretize. "O PDT tem boas relações com o PMDB, deve permanecer na aliança". O partido ocupa a Secretaria de Defesa do Consumidor com a deputada estadual Cidinha Campos (PDT).
Ao Valor, Miro Teixeira alega que todo governo deve ter alternância e sucessão, para que possa ser aperfeiçoado. "Mesmo que o atual tenha suas vitórias, todo governo tem problemas. No nosso caso, educação tem que ser prioridade", exemplifica.
Correndo por fora, está o vereador e ex-prefeito da capital, Cesar Maia. Seu objetivo é abrir espaço para a candidatura Aécio Neves (PSDB) no Rio. "Não tenho grandes pretensões agora, mas a coligação precisa de um candidato que dê força para o senador Aécio", explica Maia. Quanto às múltiplas candidaturas no cenário político, Maia diz que são apenas hipóteses. Para ele, não há, porém, um grande beneficiado. "Todos perdem se confirmar este espalhamento. Teremos um candidato com menos de 20% no segundo turno", conclui.
Fonte: Valor Econômico
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