Governo decide jogar pesado para ver aprovado o novo marco regulatório do setor e promete liberar os recursos das emendas parlamentares, caso o Congresso vote até quinta-feira a medida provisória. Uma eventual derrota do Planalto pode gerar perdas de R$ 50 bilhões, entre projetos engavetados e negócios frustrados na área de comércio exterior. Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN)convocou sessão extraordinária para apreciar ainda hoje a MP.
Planalto abre o cofre por MP dos Portos
Executivo promete liberar R$ 1 bilhão em emendas parlamentares caso a Câmara e o Senado aprovem até quinta-feira o novo marco regulatório do setor. Dilma estuda editar decreto para modificar a regulamentação atual se a ofensiva palaciana
Antonio Temóteo
Após sucessivas derrotas na tramitação da Medida Provisória 595/2012, a MP dos Portos, o governo prepara uma última cartada para tentar convencer os parlamentares a aprovar o texto hoje, na Câmara. O Palácio do Planalto pretende liberar R$ 1 bilhão em emendas para deputados e senadores com o propósito de aliviar as tensões e acalmar os ânimos dos legisladores.
Desde a última quinta-feira, um dia após a suspensão do debate da matéria na Câmara pelo presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), interlocutores palacianos têm trabalhado para convencer os parlamentares da necessidade de aprovar o texto. Analistas de mercado avaliam que uma eventual derrota do governo pode gerar perdas de até R$ 50 bilhões, entre projetos engavetados e negócios frustrados no comércio exterior.
Este ano, foram intensificadas as fragilidades do setor portuário, uma vez que grandes engarrafamentos se formaram nas entradas dos terminais. Com uma safra recorde, a falta de infraestrutura para escoar a produção ficou evidente, levando inclusive ao cancelamento de contratos. E o Executivo defende que a aprovação da MP é uma medida para equacionar um dos principais gargalos do país.
Apesar dos apelos da presidente Dilma Rousseff nas últimas semanas para a aprovação do texto e da disposição do Executivo em abrir a torneira dos gastos com as emendas, um deputado governista não acredita que essas ações serão suficientes para sensibilizar os colegas. "Falta a esse governo representação no Congresso Nacional e tato para negociar, uma vez que tudo é colocado de maneira impositiva", criticou o parlamentar, que pediu para não ser identificado.
Outro deputado petista, que também pediu anonimato, lembrou que, mesmo com a liberação de emendas, o "risco" Eduardo Cunha (PMDB-RJ) poderá prevalecer, uma vez que o deputado tumultuou a discussão ao apresentar uma emenda aglutinativa que muda o texto radicalmente — a ação do parlamentar fluminense irritou o Planalto. "O Cunha tem uma bancada fiel a ele. Isso ficou claro durante a última sessão, e o governo não sabe como lidar com essa situação", avaliou.
Na última quarta-feira, com o acirramento dos ânimos quando Cunha apresentou a emenda, Henrique Eduardo Alves suspendeu a sessão. "Não houve clima (para votar a MP). Restabelecida a calma, serenados os ânimos, a Câmara tem que cumprir o seu dever. Convoquei uma sessão para a segunda (hoje) para votar a MP dos Portos. A Câmara não vai se omitir, vai cumprir o seu dever", disse Alves na ocasião.
Os ministros do núcleo político do governo atuaram durante todo o fim de semana convocando deputados da base na tentativa de garantir quórum para a apreciação da MP. A sessão de hoje no plenário da Câmara é considerada como uma das maiores batalhas do Planalto no Congresso desde o início da gestão Dilma, que entrou pessoalmente na articulação para tentar reverter um quadro de poucas chances para a aprovação da MP. Em jantar na residência do vice-presidente Michel Temer, na semana passada, Dilma delegou a ele a missão de enquadrar o líder Eduardo Cunha, que trabalha nos bastidores para derrubar a medida.
Dificuldades
Como o texto caducará na quinta-feira, uma sessão extraordinária na Câmara foi convocada para hoje. Caso a MP seja aprovada, restarão apenas dois dias para que a matéria também seja apreciada pelo plenário do Senado. O presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB–AL), sinalizou que convocará os líderes dos partidos para acelerar a tramitação.
Entretanto, há um acordo entre os senadores de que as propostas que chegam da Câmara devem ser discutidas por pelo menos duas sessões. O medo do Planalto é de que senadores da oposição criem problemas nesse processo, o que levaria o texto a perder a validade. Além disso, se qualquer alteração for feita na proposta aprovada pelos deputados, a medida provisória precisará voltar à Câmara, o que sepultaria qualquer chance de vitória governista.
Mesmo depositando todas as fichas nessa estratégia, o Planalto estuda alternativas para que as mudanças no setor portuário não fiquem encalhadas. Uma das possibilidade é editar um decreto com o novo marco regulatório. Essa ideia vem ganhando força desde a semana passada.
Líderes divergem
Prova de que a base está dividida são as declarações de ontem dos líderes do PMDB e do PT na Câmara, respectivamente Eduardo Cunha e José Guimarães (CE). Enquanto o petista disse que a "palavra de ordem é votar", e que "a bancada do PT estará 100% no plenário", o colega fluminense endureceu o discurso. Segundo Cunha, a bancada do PMDB não comparecerá à sessão de hoje. "Nunca na história se votou um tema tão complexo numa segunda-feira. São 28 destaques. Não há condição", argumentou ao Correio.
Pontos polêmicos
Confira os principais entraves que acirram o debate em torno da MP:
» O texto centraliza a política portuária no governo federal, colocando a Secretaria Especial de Portos e a Agência Nacional de Transporte Aquaviário (Antaq) como responsáveis pelo planejamento de todo o sistema. O Congresso quer que esses dois órgãos possam delegar poderes para os governos estaduais.
» O governo quer que apenas os contratos de 25 anos para concessão de terminais possam ser renovados, até o limite máximo de 50 anos. Com as modificações feitas no Congresso, um contrato de cinco anos pode ser estendido por 45, desde que o arrendatário ofereça uma contrapartida de investimento.
» Os terminais de uso privado (TUP) deixam de ter a obrigatoriedade de movimentar somente carga própria.
Colaborou Karla Correia
Fonte: Correio Braziliense
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