Presidente condena violência e avisa que não aceitará vandalismo
Diz que ouve a "voz democrática" das ruas por mudança e reforma política
Dilma defende também formas mais eficazes de combater corrupção
Duas semanas depois do início dos protestos, a presidente Dilma propôs um pacto de todas as esferas de governo para melhorar os serviços públicos no país. Num pronunciamento de dez minutos em rede de TV, disse que seu governo está ouvindo a voz das ruas e que o país precisa mudar. Propôs também profunda reforma política. A presidente disse que receberá os líderes de manifestações pacíficas, que fortalecem a democracia. Mas que o país não tolerará a truculência de uma minoria violenta e autoritária, que pratica arruaças e vandalismo. Ontem, os protestos continuaram. No Rio, criminosos aproveitaram manifestação de cerca de mil pessoas na Barra para saquear lojas. Shoppings do bairro fecharam as portas às 14h. Protestos fecharam o trânsito na Via Dutra em vários pontos e cercaram o Aeroporto de Guarulhos (SP).
O apelo de Dilma
Presidente propõe pacto, diz que receberá líderes do protesto, mas sem "transigir com violência e arruaça"
BRASÍLIA - Com o avanço da onda de protestos pelo país, a presidente Dilma Rousseff quebrou o silêncio e convocou cadeia nacional de rádio e televisão para dar apoio às manifestações pacíficas e condenar, com veemência, a violência. Dilma disse que o governo ouve as vozes das ruas, mas que vai agir com firmeza para manter a ordem e evitar o caos e a arruaça nas cidades brasileiras. Para tentar atender a principal reivindicação dos manifestantes, a presidente afirmou que vai se reunir com os dirigentes do Legislativo, com governadores e prefeitos, e com representantes do movimento pacífico para fazer um pacto de melhoria dos serviços públicos. Defendeu uma reforma política para "oxigenar o sistema político", combater a corrupção e valorizar os partidos políticos, que foram duramente atacados nas ruas.
- Irei conversar, nos próximos dias, com os chefes dos outros Poderes para somarmos esforços. Vou convidar os governadores e os prefeitos das principais cidades do país para um grande pacto em torno da melhoria dos serviços públicos - disse Dilma. - Vou receber os líderes das manifestações pacíficas, os representantes das organizações de jovens, das entidades sindicais, dos movimentos de trabalhadores, das associações populares. Precisamos de suas contribuições, reflexões e experiências, de sua energia e criatividade, de sua aposta no futuro e de sua capacidade de questionar erros do passado e do presente.
A presidente comentou a oportunidade de aproveitar "o vigor" das manifestações para produzir mais mudanças que beneficiem o conjunto da população brasileira.
- A minha geração lutou muito para que a voz das ruas fosse ouvida. Muitos foram perseguidos, torturados e morreram por isso. A voz das ruas precisa ser ouvida e respeitada. E ela não pode ser confundida com o barulho e a truculência de alguns arruaceiros - disse Dilma, salientando que não vai "transigir com a violência e a arruaça".
"Liberdade de questionar e criticar tudo"
Ela alertou que se a violência prosperar, o país perderá um oportunidade de fazer mais, de se tornar mais justo e aprimorar as instituições. Assumiu para si a obrigação de ouvir as reivindicações da população, mas dentro da lei e da ordem. Para ela, os manifestantes têm o direito de criticar e questionar, mas não podem destruir o patrimônio público e privado.
- Os manifestantes têm o direito e a liberdade de questionar e criticar tudo. De propor e exigir mudanças. De lutar por mais qualidade de vida. De defender com paixão suas ideias e propostas. Mas precisam fazer isso de forma pacífica e ordeira. O governo e a sociedade não podem aceitar que uma minoria violenta e autoritária destrua o patrimônio público e privado, ataque templos, incendeie carros, apedreje ônibus e tente levar o caos aos nossos centros urbanos.
A presidente destacou que as manifestações conseguiram abaixar o preço das passagens de ônibus e colocar a pauta de reivindicações do movimento no centro do debate nacional. Reconhecendo que a mensagem das ruas exige combate à corrupção e cobra qualidade na educação, na saúde, no transporte e na segurança, ela prometeu um plano nacional de mobilidade urbana, com atenção ao transporte e a destinação de 100% dos royalties do petróleo para educação, além da contratação de médicos estrangeiros para a rede pública.
Abordando todos os temas apresentados nos protestos, a presidente disse que as instituições precisam ser mais transparentes e eficientes no combate à corrupção, mas alertou dos riscos de uma democracia sem partidos políticos:
- Precisamos oxigenar o sistema político. Encontrar mecanismos que tornem nossas instituições mais transparentes, mais resistentes aos malfeitos e, acima de tudo, mais permeáveis à influência da sociedade. É a cidadania, e não o poder econômico, quem deve ser ouvido em primeiro lugar. Quero contribuir para a construção de ampla e profunda reforma política, que amplie a participação popular. É um equívoco achar que qualquer país possa prescindir de partidos e, sobretudo, do voto popular, base de qualquer processo democrático.
A presidente defendeu ainda a realização no país dos eventos esportivos, alvos dos protestos:
- O dinheiro do governo federal gasto com as arenas é fruto de financiamento que será devidamente pago pelas empresas e os governos que estão explorando estes estádios - disse.
O texto foi escrito a quatro mãos pelo marqueteiro João Santana e pelo ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Dilma sugeriu modificações.
Fonte: O Globo
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