Escritor vê com ressalvas questionamento do poder constituído, mas avalia que seus "donos têm que botar as barbas de molho"
Aos 82 anos, o escritor Ferreira Gullar, que participou da organização da Passeata dos Cem Mil, em 1968, e foi às ruas pelas Diretas Já, em 1984, vê as manifestações recentes como resultado de uma mobilização sem precedentes no País.
"Eu nunca vi manifestações de tal proporção, e durante tanto tempo", disse Gullar. "O grande problema é para onde isso vai, pelo fato de não ter organização política por trás."
O escritor diz ser "impossível saber o desdobramento disso", mas avalia que "os donos do poder têm que botar as barbas de molho,"
Em sua opinião, em que vão resultar os protestos?
E imprevisível. Falam que é a mesma coisa que está acontecendo na Europa, mas não é. O problema da Grécia, Espanha, Turquia, Síría, não é o nosso. O que é comum é a mobilização das redes sociais, mas não é um fenômeno internacional
Estávamos subestimando os Jovens?
Ver os jovens com aqueles cartazes reivindicando coisas é fundamental. Existe uma juventude disposta a brigar. Isso pode ajudar a mudar a qualidade da política brasileira, mas não é do dia para noite. A maioria é classe média, não é o pobre, porque esse ganhou o Bolsa Família.
O que o sr. acha da pauta de reivindicações?
São questões importantes que estão sendo colocadas e que implicam uma mudança profunda de muitas coisas que estão estabelecidas. Se isso desandar, pode dar em desordem numa escala muito grande. Meu medo não é com relação aos baderneiros, e sim com relação à solução política. Está sendo questionado o poder constituído, é o Congresso, é o Executivo, os governos estaduais, prefeituras, que foram eleitos democraticamente. Acho que devia ser procurado o diálogo.
Como comparar essas manifestações atuais com a Passeata dos Cem mil, as das Diretas Já e as do Fora Collor (em 1992)?
Em 68, a própria ideia de ir para a rua se manifestar era algo muito arriscado, porque a polícia atirava com bala de verdade, não de borracha. Como manifestação de massa, essa é a maior que eu vi. Maior que a de 68 e as outras de depois. É impressionante a quantidade de gente, sem ter partidos organizando. Em 68, a igreja participou, sindicato, entidades participaram, ajudaram a organizar. Agora foi mais espontâneo.
Como vê a recusa dos manifestantes em se vincular a partidos?
O movimento é contra todos os partidos, Diima, Lula. Eles foram rechaçados. Os manifestantes tem razão de não quererem partidos. Os donos de poder tem que botar as barbas de molho. E o povo desorganizado fazendo reivindicações pertinentes e sérias. No Egito, na Líbia, os grupos se organizaram para disputar o poder. Aqui o poder é eleito, Isso não deve e não pode acontecer.
Não se previu o que viria... Escrevi um artigo meses atrás dizendo que, como UNE, CUT e os sindicatos foram apropriados pelo governo, o povo não tem representação, a única saída era ir para a rua desorganizados...
Fonte: O Estado de S. Paulo
2 comentários:
finalmente alguém entendeu que: não é querer o fim dos partidos e sim uma reforma, pois os que deveriam nos representar em todas as áreas, estão vendidos a esse sistema.
O POVO ACORDOU! E A CLASSE MEDIA QUE TENTA A MELHORIA DE VIDA PARA SI E FAMILIA, QUE PAGA PLANO DE SAUDE, ESCOLA PARTICULAR, E RIOS DE DINHEIRO COM IMPOSTOS. SOMOS NOS QUE SUSTENTAMOS AS MAZELAS E DESPERDICOS DESTES POLITICOS E POLITA CORRUPTA
Postar um comentário