A agenda oficial de Dilma Rousseff, divulgada na noite de ontem, descarta a participação da presidente na final da Copa das Confederações, entre Brasil e Espanha, amanhã, no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. Na abertura do torneio, há duas semanas, em Brasília, ela foi vaiada e não proferiu o discurso que havia preparado. A presidente deve convidar a Seleção Brasileira para visitar o Palácio do Planalto na semana que vem.
Ao longo da semana, Dilma Rousseff ainda cogitava ir ao jogo, mas sem discursar e sem que sua imagem aparecesse no telão. Ela foi convidada, pelo comitê organizador da Fifa, para participar da cerimônia de premiação, como todos os presidentes dos países sede, mas ainda não havia decidido se aceitaria. O temor é de ser hostilizada durante a entrega das medalhas aos atletas.
A Secretaria de Comunicação chegou a confirmar a presença de Dilma antes de divulgar a agenda, mas recuou ontem. A avaliação do Planalto é a de que o momento atual é ainda mais desconfortável do que na abertura da Copa das Confederações devido à onda de protestos no país, e que seria difícil evitar constrangimentos.
Oficialmente, a Secretaria de Imprensa da Presidência informou que nunca houve previsão para Dilma ir ao Maracanã, já que, na data, estava prevista anteriormente uma viagem de Estado ao Japão. A viagem foi cancelada na semana passada, depois que os protestos levaram a presidente a avaliar que o momento era inoportuno para passar uma semana inteira fora do Brasil.
"Fair play"
Na abertura da Copa das Confederações, em Brasília, Dilma e o presidente da Fifa, Joseph Blatter foram vaiados quando anunciados no telão para abrir oficialmente os jogos. A presidente mostrou-se contrariada e deixou de fazer o discurso. Blatter chegou a pedir respeito e "fair play" no microfone, mas foi ignorado. No mesmo dia, uma manifestação acontecia ao redor do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha, onde foram registrados confrontos com a polícia.
Bandeira arco-íris no Planalto
A presidente Dilma Rousseff recebeu ontem, em seu gabinete no Palácio do Planalto, representantes de movimentos da juventude e LGBT. Questionadas sobre o projeto de cura gay que tramita na Câmara, as ministras Eleonora Menicucci (Políticas para a Mulher) e Maria do Rosário (Direitos Humanos) limitaram-se a dizer que a presidente é contra qualquer tipo de discriminação. Na Câmara, líderes de partidos contrários ao projeto que autoriza psicólogos a tentar mudar a orientação sexual de indivíduos assinaram requerimento de urgência para que a proposta seja votada — e derrubada — rapidamente, para atender as demandas das ruas. Pelo Twitter, o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) criticou a presidente. "Não há explicação para o desprezo e a desconsideração da presidente Dilma com o segmento evangélico", escreveu. No encontro com a juventude, pela manhã, Dilma disse para os estudantes que o substitutivo que destina 25% dos royalties para a saúde é "uma boa solução". (JB)
Lula longe dos estádios
Um dos maiores defensores da candidatura do Brasil como país sede da Copa do Mundo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem evitado aparições públicas desde o início dos protestos no país e não esteve em nenhum dos jogos realizados até agora pela Copa das Confederações. Amanhã, quando o Brasil enfrenta a Espanha na final do torneio, Lula nem sequer estará no país. Ele participará de um encontro sobre a fome na Etiópia.
O evento do qual participará na África é organizado pelo Instituto Lula, em parceria com a União Africana e a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). O ex-presidente fará hoje o discurso de abertura.
Durante os protestos, que se intensificaram ao longo das últimas duas semanas, Lula fez uma única declaração sobre os atos, por meio de nota publicada em uma rede social. "Ninguém em sã consciência pode ser contra manifestações da sociedade civil, porque a democracia não é um pacto de silêncio, mas sim a sociedade em movimentação em busca de novas conquistas", disse.
Protestos continuam no país
A sexta-feira teve protestos menores e mais pacíficos pelo Brasil. A exceção foi Natal, onde pelo menos 10 mil manifestantes participaram do maior ato do dia. Mesmo após a redução de R$ 0,10 no preço do bilhete de ônibus na cidade, que voltou a custar R$ 2,20, o movimento #RevoltadoBusão pediu melhorias no transporte público e o passe livre estudantil. Não houve repressão policial violenta, mas oito pessoas foram presas por porte de bombas caseiras e pelo menos outras 13 por atos de vandalismo. O grupo passou pelas principais ruas da cidade, durante toda a tarde e início da noite, mas não houve confrontos. Durante parte da tarde, o perfil da Polícia Militar do estado foi hackeado e recebeu postagens com referências ao grupo Anonymous.
Em Campinas (SP), manifestantes tentaram protocolar uma pizza na Câmara dos Vereadores da cidade, pois não conseguiram apoio dos parlamentares para a criação de uma CPI do Transporte. Nove pessoas se acorrentaram ao prédio e solicitaram a presença do presidente da Casa, mas desistiram antes de serem atendidas.
Na Grande São Paulo, um pequeno grupo tentou invadir a prefeitura de Guarulhos, no início da noite, mas foi contido pela guarda municipal com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. No mesmo horário, todas as faixas da Avenida Paulista, no centro, voltaram a ser ocupadas por manifestantes. A Via Dutra, estrada que liga São Paulo ao Rio de Janeiro, e a rodovia estadual SP-332 foram obstruídas por protestantes, ao longo do dia. Em Cosmópolis, cabines de cobrança de pedágio foram incendiadas e cinco pessoas presas. Também houve manifestações em Guarujá, prejudicando o acesso ao porto de Santos.
No Rio de Janeiro, a diversidade de solicitações marcou o dia. Profissionais da área de saúde foram às ruas contra o Ato Médico; cerca de 1 mil militantes LGBT pediram o arquivamento do projeto da "cura gay", em tramitação na Câmara Federal e, à tarde, 700 taxistas saíram em carreata, causando grande lentidão no trânsito, contra a medida judicial que exige procedimentos licitatórios para a concessão de novas linhas de táxi.
No início da noite, em Vitória, 800 estudantes saíram da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) para uma passeata pelas ruas da cidade, ganhando a adesão de outras pessoas. Ao todo, cerca de 5 mil pessoas marcharam pela capital capixaba. Até o fechamento desta edição, não havia registro de vandalismo. Em Cuiabá, mais de 1 mil pessoas marcharam pelas ruas de forma pacífica.
Em Juiz de Fora(MG), no interior do estado, cerca de 80 manifestantes mantiveram ontem a ocupação da Assembleia Municipal, iniciada na quinta-feira, e prometem não sair do local até que haja redução da passagem de ônibus e do salário dos vereadores. Em Curvelo, no interior do estado, foi enterrado Douglas Henrique Souza, de 21 anos, morto na quarta-feira após cair de um viaduto, durante protesto em Belo Horizonte.
Em Santa Maria (RS), a Câmara dos Vereadores também continua ocupada por manifestantes. Desde a última terça-feira, familiares de vítimas do incêndio na boate Kiss estão no local, para pedir o fim da CPI que apura as responsabilidades do poder público na tragédia. Isso porque há um suposto acordo tramado entre os vereadores para eximir de responsabilidades o prefeito, Cezar Schirmer (PMDB).
Em Altamira, no Pará, cerca de 1 mil pessoas pediram o cumprimento das contrapartidas socioambientais por parte da empresa Norte Energia, responsável pela construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu. A obra mais cara da segunda edição do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) previa uma série de compensações que reduziriam os impactos da construção, mas até agora nenhum prazo foi respeitado.
Fonte: Correio Braziliense
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