Perspectiva negativa da S&P e críticas de Delfim Netto afetaram imagem e expectativas
BRASÍLIA - Diante da decisão da agência de de risco Standard & Poor"s de colocar a nota do Brasil em perspectiva negativa e das recentes críticas do ex-ministro Delfim Netto à política fiscal, a equipe econômica passou a avaliar o que pode ser feito para mostrar mais compromisso com a meta de superávit primário (economia para o pagamento de juros da dívida pública). Para técnicos do governo, não se trata de mudar a política, mas discutir o que pode ser feito para dar mais credibilidade a ela.
A margem para mudanças não é muito grande, argumentam os técnicos. Do lado das despesas, há o compromisso de ampliar os investimentos públicos para estimular a economia, o que obriga o governo a gastar mais neste ano. Já do lado das receitas, está sendo implementado forte programa de desonerações, que representam renúncia de mais de R$ 70 bilhões só em 2013.
- Mesmo assim, tem sempre alguma coisa a ser feita - disse um integrante da equipe econômica.
Os técnicos avaliam que o diagnóstico da S&P sobre a economia foi muito ruim, especialmente considerando que era justamente o temor de que a política fiscal perdesse credibilidade que levou a equipe econômica a manter a meta de superávit primário elevada num momento de despesas em alta e receitas em queda.
Delfim: "Estrago maior"
Este quadro só se agravou depois que Delfim Netto disse, em entrevista à Agência Estado, na semana passada, que, se o governo não contribuir com um ajuste fiscal, o Banco Central terá de elevar os juros para a casa dos dois dígitos a fim de conter a inflação. O ex-ministro, um dos principais conselheiros da presidente Dilma Rousseff, chegou a dizer: "Graças aos enormes truques contábeis, ninguém mais acredita em nada. A tal quadrangulação fiscal realizada no fim do ano foi a gota que derrubou a água do copo". O ex-ministro também voltou a defender a ideia de o governo trabalhar com uma meta de déficit nominal zero, ou seja, uma economia suficiente para pagar todas as despesas do governo, incluindo os juros da dívida pública.
- A entrevista do Delfim causou um estrago maior que a decisão da S&P - admitiu um técnico.
Em 2012, embora a meta fosse de 3,1% do PIB, o governo teve de abater gastos com investimentos, antecipar dividendos da Caixa e do BNDES, tirar recursos do Fundo Soberano e, ainda assim, realizou um primário de só 2,38% do PIB. Neste ano, a meta está em 3,2%, mas o governo já adiantou que descontará R$ 45 bilhões do resultado e propôs que o Tesouro não seja responsável por cobrir a parte de estados e municípios que não for cumprida. Além de fazer ajustes na área fiscal, o governo espera agora que a economia volte a reagir e consiga crescer 2,5% este ano, o que "já estaria de bom tamanho", disse o técnico.
Fonte: O Globo
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