Aliados e adversários do governo previam, há alguns dias, o reflexo das dificuldades econômicas e políticas recentes nos índices de popularidade da presidente Dilma, confirmado pela pesquisa do Instituto Datafolha, que apurou perda de 8 pontos percentuais. A pesquisa CNT-Sensus, que será divulgada hoje, deve reiterar a queda. Aos impressionistas, é preciso lembrar que ela ainda tem 57% de aprovação e preferência eleitoral, que lhe garantiria a reeleição em primeiro turno com 51% dos votos. Mas a pesquisa terá efeitos políticos de outra natureza, especialmente sobre a coalizão que apoia Dilma. Para esses, ela acende uma luz brilhante que emite duas mensagens. Primeira: Dilma não é tefal e, se as coisas piorarem, o desgaste grudará nela. Segunda: se isso ocorrer, ficará mais tangível o sonho de dois em cada três governistas de que Lula venha a ser o candidato.
As querelas frequentes entre Dilma e seus aliados já haviam semeado a suspeita de que os partidos aliados estavam dispostos a golpeá-la com luvas de pelica, mordendo e assoprando, entremeando derrotas e vitórias no Congresso, para desgastá-la, contínua e lentamente, até que fosse preciso acionar a "bomba atômica" do PT — a candidatura de Lula. Se essa disposição existia ou não, ganhou impulso ou pretexto. Dilma perdeu força e, segundo a mesma pesquisa, Lula sai-se melhor que Dilma junto a entrevistados pessimistas com a economia, preocupados com o desemprego ou a inflação.
Não sendo tíbio, todo governante reage diante de manobras para afastá-lo do poder, ainda que seja com um tiro no peito, saindo da vida para dirigir o momento histórico, como fez Getúlio Vargas. É possível que Dilma agora se torne mais reativa, mais atenta aos fatos desgastantes. Deixou, por exemplo, de se pronunciar sobre o episódio do Bolsa Família. Não admitiu, pessoalmente, o repique inflacionário. É provável também, por outro lado, que seus aliados aumentem a pressão por cargos e concessões e imponham custos mais elevados na montagem dos palanques estaduais. Com Dilma mais fraca, tentarão avançar.
Não é simples, porém, essa história de sangrar um governante para tirá-lo de combate. Em 2005, no estouro do escândalo do chamado mensalão, a oposição pensou no impeachment de Lula. Depois, constatou que não teria apoio popular para isso. Alguns de seus líderes disseram, em alto e bom som, que a estratégia passaria a ser a de "sangrar Lula" para que ele não se reelegesse. Lula havia terminado o ano de 2004, segundo o Ibope, com aprovação de 62%, e chegou em setembro de 2005 com apenas 42%. A partir daí, começou a recuperação. Os resultados econômicos e sociais produzidos por seu governo, percebidos claramente pelo eleitorado, garantiram sua reeleição em 2006.
Corda esticada
Para Dilma, começa agora uma fase — guardadas as diferenças em relação à causa das dificuldades — semelhante ao que foi o período 2005/2006 para Lula. A oscilação pode ser passageira, ela pode virar o jogo e se reeleger. Mas, se houver uma aposta alta para tirá-la do páreo, como elocubram alguns auxiliares, e ela resistir, como alardeiam que fará, não cedendo a "chantagens" de aliados, a corda pode ser tensionada além do recomendável. Há méritos nessa resistência aos jogos da política real para preservar a tecnicalidade da gestão. Mas, quando se ocupa o mais elevado dos cargos políticos, isso pode ter um preço alto.
Fala sintomática
Entre as reações do mundo político à oscilação negativa na popularidade presidencial, chamou a atenção, especialmente de alguns petistas, a do governador Eduardo Campos, virtual adversário de Dilma em 2014. Obviamente que declarações de satisfação com o momento da economia e as agruras da presidente seriam de uma deselegância e de uma incorreção política que ninguém espera dele. Mas alguns acharam suas palavras "generosas demais", depois de tudo que já fez e disse nos últimos tempos. "Eu acho lamentável que as pessoas, para viabilizar uma candidatura, tenham que torcer para dar errado. Temos que torcer para dar certo, pois o que nós estamos tentando preservar é aquilo que todos nós construímos", disse ele.
Não parece, novamente, fala de aliado? Será o receio da "bomba atômica", a volta de Lula como candidato?
Aécio em alta
A "oscilação" nos índices de Dilma seria bem mais "natural" se a pesquisa Datafolha não tivesse apontado o presidente do PSDB, Aécio Neves, como único pré-candidato presidencial que cresceu de março para cá. Passou de 10% para 14%, deixando-o quase encostado em Marina Silva, que está nessa estrada desde 2010. Eduardo Campos patinou nos 6% que já tinha.
Migrações
O STF retoma esta semana o julgamento do recurso da oposição que paralisou a tramitação do projeto sobre migrações partidárias. O DEM está sofrendo os efeitos da decisão que permitiu ao PSD ficar com o tempo de TV e os recursos do fundo partidário correspondentes aos deputados que aliciou. A Fundação Liberdade e Cidadania, mantida pelo DEM, com o orçamento drasticamente reduzido, está cortando o quadro de pessoal e algumas atividades.
Fonte: Correio Braziliense
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