Para setores do PMDB, mudança levará a uma maior valorização do partido
Mesmo com a popularidade da presidente Dilma Rousseff em queda, segundo a pesquisa Datafolha publicada no fim de semana, líderes petistas afastaram a hipótese de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disputar o cargo. Já setores do PMDB avaliam que essa nova realidade obrigará Dilma e seus articuladores a valorizar o partido, e não ficar ouvindo só a cúpula da sigla. Segundo a pesquisa, a popularidade de Dilma caiu de 65% para 57%, entre março e junho.
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), provável adversário de Dilma em 2014, disse ontem que a queda na aprovação da presidente pode ser uma "oscilação natural". E condenou as avaliações de que uma piora na aprovação de Dilma indique mais espaço para uma candidatura para concorrer com ela:
- Acho lamentável que as pessoas, para viabilizar uma candidatura, tenham que torcer para dar errado. Temos que torcer para dar certo - disse Campos.
Também pré-candidata à Presidência, a ex-senadora Marina Silva afirmou ontem que a pesquisa traz "alguns sinalizadores". Ela alertou para a antecipação do processo eleitoral:
- Essas pesquisas não devem ser motivo para nós, lideranças políticas, anteciparmos as eleições. Vou continuar insistindo que não é boa essa antecipação e que ainda estamos a um ano e quatro meses das eleições. Temos de olhar para essas informações como um registro a ser pensado de que o cidadão está mais cuidadoso em relação à sua tomada de posição. Espero que o intervalo eleitoral possibilite um debate sobre o projeto de país que se quer. Isso é o mais importante - disse Marina.
Marina, que apareceu na pesquisa com 16% das intenções de voto (Dilma lidera com 51%, enquanto o tucano Aécio Neves tem 14% e Campos, 6%), alertou para o risco de alterações na política econômica com fins eleitorais:
- É uma legítima preocupação da sociedade de que não tenhamos a volta da inflação. De que o manejo dos instrumentos de política macroeconômica tenha uma abordagem estrutural e não puramente eleitoral. Porque, em 2008, tivemos medidas que foram tomadas e deram uma resposta para as eleições de 2010, e não se pode brincar com uma economia apenas na perspectiva de 2014. E a população está indicando isso, que não se faça uso político das conquistas que o Brasil a duras penas conseguiu.
Para o deputado federal Cândido Vaccarezza (PT-SP), o resultado da pesquisa "não tem importância nenhuma":
- É uma oscilação dentro da curva positiva. É ridículo o frisson que está se fazendo a um ano e quatro meses da eleição presidencial. Em 2009, nessa mesma época do ano, o país estava com crescimento negativo, Dilma tinha 4% de intenção de voto e Serra, 45% - disse o parlamentar.
Já o secretário nacional do PT e pré-candidato à presidência do partido, deputado Paulo Teixeira, disse crer que Lula "tem ainda muita energia para gastar" e pode até se candidatar em 2018. Mas, para 2014, Dilma é a candidata.
- Vai haver mais crescimento ao longo do ano, a inflação está controlada. Prova disso é que a aprovação dela se mantém enorme. A diminuição da tarifa de energia, o deslanche das concessões e a redução dos impostos são provas de que ela está no rumo certo. Está jogando bem - disse Teixeira.
Para oposição, causa é política econômica
A oposição relacionou a queda na popularidade de Dilma a tropeços na política econômica. Líder do PSDB, o senador Aloysio Nunes Ferreira (SP) contestou a imagem de gestora da petista:
- Há um aumento do pessimismo, um aumento do número de pessoas que acreditam que as coisas não estão indo bem, que a inflação vai aumentar, que o desemprego vai aumentar, o que se reflete no grau maior de desconfiança em relação à capacidade do governo de dar conta do recado - afirmou o tucano.
Ele criticou a atitude "triunfalista" do ministro Guido Mantega (Fazenda), que, para o senador, passa por uma crise de credibilidade:
- Se o nosso ministro Mantega fosse uma daquelas ciganas que ganham a vida prevendo o futuro, seguramente estaria neste momento morrendo de fome, pois ninguém mais acredita nas suas previsões.
No PMDB, parlamentares que se estranharam recentemente com o Planalto avaliam que ela terá que fazer interlocução também com os líderes Eduardo Cunha (RJ), da Câmara, e Eunício Oliveira (CE), do Senado, além dos candidatos nos estados que estão sendo vetados por causa da aliança com o PT.
- Com a antecipação da campanha, os outros candidatos também começaram a aparecer na TV, em campanha. Mas não acredito que essa queda reforce a possibilidade de volta do ex-presidente Lula. As dificuldades não afetam só Dilma. Afetam Lula também, por causa do modelo. Como superar isso? Tem que fazer cada vez mais política, relacionando com a base, não só com os caciques - disse o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).
Fonte: O Globo
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