De homens públicos não se exige apenas honestidade no sentindo de cuidar bem do dinheiro público. Não meter a mão em dinheiro que é de todos, cobrado para gastar em atividades que só a sociedade em seu conjunto pode realizar, é algo que não se discute. O contrário é crime. Mas de quem exerce funções públicas se exige muito mais: a honestidade intelectual. E o contrário também é crime.
Especialmente para aqueles que exercem altos cargos, isso deveria ser um princípio de vida, uma atitude inerente às funções exercidas. Ainda mais para um presidente da República que tem, em tese, credibilidade e deve fazer um papel didático para o seu povo.
Dilma diz querer fazer um pacto com a verdade, mas no mesmo discurso, faz o contrário. Por que ela tinha de citar de forma distorcida o governo FHC, de mais de uma década atrás, como descumpridor das metas de inflação? Não tem argumentos para explicar o quadro atual em que a espiral inflacionária a todos preocupa? Tivemos o descumprimento das metas nos anos de 2001, 2002 e 2003, os dois primeiros no governo FHC, às vésperas das eleições presidenciais de 2002, quando os agentes econômicos forçaram os preços em função da instabilidade provocada pelo processo eleitoral no qual se temia a eleição de Lula e do seu partido, então vistos como perigosos agentes do socialismo, pelo menos até a carta compromisso assinada por ele, a "carta ao povo brasileiro" , que garantia o cumprimento dos contratos em andamento e o respeito ao "mercado". Por que não relatar um fato histórico - que ela conhece - de forma verdadeira para o conhecimento de seu povo? Isso seria honestidade intelectual.
Por que não explicar que o nosso desenvolvimento, o IDH (índice de desenvolvimento humano) nessas duas últimas décadas - 1991 a 2010 - avançou 47,8%, que grande parte dos mais de 80% dos municípios que eram classificados como de desenvolvimento "muito baixo" e passaram a ser classificados como altamente desenvolvidos, conforme os jornais de hoje? Por que não afirmar - é verdade - que a evolução do índice é contínua e praticamente constante naqueles vinte anos, nos quais se passou pelos governos Collor, Itamar, Fernando Henrique e Lula? Seria honestidade intelectual.
Mas não. A presidente prefere propor um pacto pela verdade, mas não proclama as verdades. Pelo contrário, distorce, mente, omite. Poderia contribuir para sustentar valores éticos que são tão importantes quanto os valores materiais. No entanto, obcecada pela função que seu comandante lhe destinou para que ele não realizasse apenas o seu terceiro período de governo mas obtivesse o quarto, conforme ela confessou ao explicitar que Lula não vai voltar por que nunca saiu, ela, Dilma, que nunca entrou, perde uma excelente oportunidade de ajudar o nosso povo a criar uma sociedade mais humana, solidária e consciente.
Alberto Goldman é vice-presidente nacional do PSDB, foi governador de S. Paulo
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