Depois de um primeiro momento de agitação com tendência à infidelidade provocada pela queda geral da avaliação de governantes - notadamente da I que habita o Planalto-, partidos, políticos e até empresários adotam a velha combinação de prudência e caldo de galinha, receita que não faz mal a ninguém.
A palavra de ordem é conter o ímpeto d ã crítica e da debandada até sentir para onde sopram os ventos das manifestações, da popularidade da presidente Dilma Rousseff, da capacidade de seus prováveis oponentes em 2014 arrebatarem ao menos em parte o patrimônio perdido pelo PT e até da probabilidade de Lula se candidatar.
Diante das dúvidas (a maior delas diz respeito à recuperação de Dilma) e da incerteza sobre qual o caminho mais acertado a tomar anda valendo o velho lema: quando não se sabe o que fazer, melhor não fazer nada.
Prova é o recuo do PT no tom do documento discutido pelo diretório nacional do partido dias atrás. Inicialmente continha críticas à política econômica e pedia revisão das alianças com "os conservadores" para fazer a rota de retomo à esquerda. Tudo isso foi tirado para, de um lado, preservar Dilma e, de outro, não queimar caravelas com os aliados antes do tempo.
Compasso de espera é a expressão que define o momento. A questão é até quando. Não se sabe ao certo mas no início de outubro, quando acaba o prazo para filiações partidárias dos candidatos em 2014, o quadro estará mais definido. Não porque quaisquer dos Aliados ficam em compasso de espera até ver se queda de Dilma para ou continua pretendentes a presidente - à possível exceção de José Serra - estejam pensando em mudar de partido, mas porque a partir daí seus aliados já não poderão abandonar os barcos sem abrir dissidência explícita nem se submeter aos riscos daí decorrentes.
Uma mudança, entretanto, parece consolidada antes das manifestações os partidos aliados do governo não viam opção fora da reeleição de Dilma. Hoje ainda não conseguem dizer qual seria a alternativa, mas sabem que ela não é a única.
Volta por baixo. De mola que leva ao alto, Sérgio Cabral Filho virou âncora que prende ao fundo, com seus minguados 12% de avaliação positiva à frente do governo do Rio. De onde sua companhia tornou-se um embaraço federal para seus parceiros na política.
Resultado da conjugação de abuso de poder na prática de hábitos faustosos, provincianismo político (demonstrado na excessiva confiança na influência de Lula sobre, o Congresso quando da discussão sobre a distribuição dos royalties do petróleo) e arrogância tardiamente assumida com a promessa de ser "mais humilde".
Cabral, reeleito em 2010 no primeiro turno com votação espetacular, confundiu apoio popular com salvo-conduto para transgredir todas as regras. Sejam as de civilidade no convívio com os governados, sejam as balizas legais que exigem do governante respeito à transparência, à impessoalidade e à probidade.
O governador achou que ninguém iria se incomodar com o fato de destratar professores, médicos e bombeiros chamados de vândalos e bandidos no exercício de movimentos reivindicatórios; de passar boa parte do tempo viajando ao exterior, incluindo aí ocasiões em que o Rio foi atingido por tragédias às quais não dava a devida importância evitando aparecer em público em momentos adversos. Cabral considerou que, ao abandonar entrevistas no meio porque não gostava das perguntas, afrontava a imprensa quando o gesto significava interdição do diálogo com a sociedade.
Acreditou-se inimputável. Não teve noção de limite. Agora se diz arrependido por influência das palavras do papa. Ao que alguns chamam de senso de oportunidade outros dão o nome de oportunismo. Para não falar no egoísmo de pedir aos manifestantes que se retirem da porta de sua casa porque tem "filhos pequenos", sem se importar com os filhos dos vizinhos.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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