Vice-presidente do partido cobra melhor tratamento ao ex-governador, isolado na sigla cuja cúpula apoia Aécio para o Planalto
Pedro Venceslau Ricardo Chapola
Vice-presidente nacional do PSDB, o ex-governador de São Paulo Alberto Goldman decidiu dar voz ao descontentamento de parte do partido com o tratamento dado ao ex-governador José Serra. "O (ex-ministro da Casa Civil) José Dirceu e o Delúbio (Soares, ex-tesoureiro do PT) foram homenageados na festa de 30 anos da CUT. São quadros condenados e que, apesar disso, são respeitados pelo papel que tiveram. O PSDB não faz isso", afirmou em entrevista ao Estado.
Desde que começou a se movimentar por uma vaga na corrida ao Planalto em 2014, Serra vem enfrentando um processo inédito de isolamento dentro do partido. Conhecido por expor de forma contundente suas posições, Goldman criou até um blog onde se coloca como uma espécie de ombudsman do governo - e também do PSDB.
• Como o sr. avalia a movimentação do ex-governador José Serra por prévias no PSDB?
Se um cidadão quiser ser candidato ao que ele quiser ser, dentro das normas que existem, ele pode ser. Eu mesmo posso dizer amanhã que sou candidato à Presidência da República ou ao governo de São Paulo. Tenho tanto direito quanto qualquer um. Você tem que ter regras para isso e uma delas é o respeito. Não tem cabimento quando alguém chega e fala assim: "Esse cara quer ser candidato e está criando dificuldades para o partido". Não é assim, não deve ser assim, não pode ser assim. Em todo lugar do mundo, partido que vive é partido que tem disputas internas. Quem não tem disputa interna já morreu.
• O sr. acha que tem faltado respeito ao Serra?
Sim. O próprio Fernando Henrique Cardoso, percebendo que o processo estava degringolando, deu uma declaração nesse sentido. Mas ele (FHC) também cometeu erros no passado e andou falando coisas que não deveria falar.
• O que, por exemplo?
Chegou a dizer que o Aécio é o candidato natural (à Presidência da República). Eu perguntei para ele (FHC): "Você era o candidato natural em 1993? Um ano antes da eleição de 1994 ele não sabia nem se seria candidato a deputado federal. Mas a conjuntura o levou a uma situação dessas. O Aécio é um nome inevitavelmente expressivo. É um possível candidato. Mas é o único que nós temos? Por que não pode ter um segundo ou um terceiro? Em 2009, quase houve disputa interna. Normas foram elaboradas em cima de uma eventual disputa que se teria, mas acabaram nem usando porque o Aé-cio disse que era candidato ao Senado.
• Acha que falta reconhecimento ao Serra dentro do PSDB?
Algumas figuras podem criar problemas. O Xico Graziano, que é uma espécie de secretário particular do Fernando Henrique, andou falando sobre esse assunto. (No Twitter, ele escreveu: "Pergunta que não quer calar: a quem serve José Serra, insistindo em tumultuar o projeto político da oposição social-democrata?"). Por que um cara que é muito ligado ao ex-presidente fala algo extremamente agressivo? Como se o fato de Serra eventualmente tentar ser candidato colocasse em risco o partido. Não coloca em risco coisa nenhuma.
• José Aníbal, secretário estadual de Energia, também reclamou. Ele até usou a expressão do "candidatorismo" do Serra...
O Zé Aníbal é historicamente um provocador interno, ele é um especialista em promover dissensões. É típico dele, faz parte do DNA. O Aníbal não pode falar isso porque ele é candidato em todas as eleições majoritárias. Ele foi candidato ao Senado, depois quis a vice de Geraldo no lugar do Clau-dio Lembo. Só não foi ainda candidato à Presidência.
• Mas há preferência por Aécio?
O Aécio é um nome que tem preferência. É pura questão de sensibilidade. Mas isso não elimina o direito do Serra.
• O deputado estadual Antonio Ramalho, dirigente sindical do PSDB, diz que Serra teria que ter humildade em disputar uma vaga Câmara. O que o sr. acha?
Ninguém tem que dar lição para ninguém. O Ramalho é jejuno nisso, o Ramalho está começando a vida política agora. Ele tem que falar dele, tem que falar do conjunto do partido. Não tem que dar sugestão para ninguém ser candidato a nada. É um caminho errado, completamente equivocado. Ele opinar: "Você deve ser candidato a isso"... Até no particular você pode fazer. Mas publicamente não tem sentido isso.
• Na semana passada, Aécio Neves falou em Barretos como se fosse candidato...
Mas hoje ele é presidente do partido e é responsabilidade dele construir a unidade. Ele tem que, por exemplo, ajudar a evitar afirmativas como as que Sérgio Guerra (deputado federal e ex-presidente do PSDB) fez para desqualificar Serra (Guerra disse ao Estado: "Não conheço nenhuma base organizada do PSDB que defenda a candidatura de Serra"). No dia da eleição, em 2010, ele esteve na casa do Serra para pedir apoio para ser candidato à reeleição à presidência do partido. Serra disse sim. Quer dizer: Sérgio Guerra não tinha direito de se expressar da forma como se expressou. Vi no jornal a foto de José Dirceu sentado ao lado de Lula e sendo homenageado em um evento da CUT. Um homem que está condenado. Mesmo assim, é respeitado pelo papel que teve.
• O PSDB não tem esse respeito pelos seus quadros?
Não, o PSDB não faz isso. O Serra tinha que ser, no mínimo, homenageado por todo o papel que ele teve até agora.
• Esse tensionamento que há entre Aécio e Serra, que vem desde 2009, não pode passar a impressão de que o partido está rachado?
A imprensa amplifica muito porque precisa de conflitos. Eles são parte da vida de um partido minimamente vivo. Tem que haver conflitos. Então existem conflitos, existem divergências, existem disputas. É absolutamente normal.
• O fato de Aécio ser presidente do partido não faz com que ele saia na frente caso haja prévias?
Mas ele é presidente do partido. Ele é uma figura expressiva e é um líder nacional. Ele é uma das maiores lideranças que o partido tem.
•O sr. acha que Aécio deveria deixar o cargo para disputar as prévias?
Isso não existe. Não está escrito em lugar nenhum. A eleição para os que querem a vaga na disputa do ano que vem tem que ter condições isonômicas. Mas cada um tem sua característica própria.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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