Vivemos um momento em que muita coisa não é o que parece e, ao mesmo tempo, há grandes expectativas. Do governo, em relação ao pré-sal. De José Serra, no que se refere a pesquisas de opinião
Não são raras as vezes em que as pessoas criam grandes expectativas ou vendem uma ideia que a realidade mostra ser bem diferente. É assim na vida, na política e no meio empresarial. A semana que passou foi farta em exemplos desse tipo. A começar pelo julgamento do mensalão, que continuará, para tristeza de quem queria ver tudo resolvido logo, e alívio daqueles que perceberam injustiças na primeira fase. A isso, seguiu-se o desembarque do PSB da administração Dilma Rousseff e a divulgação do desinteresse das grandes empresas petrolíferas do mundo em participar do leilão daquele poço que o governo brasileiro chamou de o maior do planeta.
Tudo isso somado deixa aquela sensação de que algo está se desintegrando dentro do governo. No caso do petróleo, fica a impressão de que o desfecho será semelhante ao que ocorreu com as primeiras concessões de aeroportos feitas pela administração de Dilma. A própria presidente ficou tão irritada com os resultados daquele primeiro lote que mandou reestudar os mecanismos antes de conceder outros aeroportos à iniciativa privada.
Em relação ao petróleo, o empresariado nacional está com a pulga atrás da orelha porque o desinteresse das grandes companhias do setor levanta a suspeita de que o campo de Libra não seja essa maravilha toda. Afinal, se fosse o maior do mundo, todos obviamente teriam mais interesse. E, sabe como é... Depois que espionaram a Petrobras, tudo virou motivo de desconfiança.
Entre os políticos, o maior temor é o de que não haja resultados palpáveis em termos de recursos. Se for assim, todo o esforço de conseguir dinheiro extra para saúde e educação terá sido em vão. Daí o esforço da última sexta-feira por parte do governo para demonstrar que o pré-sal será um sucesso, mesmo que haja apenas um consórcio interessado, um discurso no qual nem a base aliada acreditou muito. A avaliação geral é que o governo vendeu esse leilão como a grande tacada, mas o taco resvalou e nada será do jeito que se esperava.
E, venhamos e convenhamos, leitor: para quem esperava 30 empresas, ver apenas 11 interessadas, sendo seis delas estatais — das quais duas chinesas e uma sino-espanhola — é, realmente, um banho de água fria. No meio empresarial, há ainda quem diga que, se brincar, os chineses vão levar a reserva de Libra com preço menor do que o esperado. O governo, entretanto, não voltará atrás. Até agora, nada indica que vá rever o leilão do pré-sal. Continuará afirmando que esse campo e o leilão são uma lebre bem gordinha.
Por falar em lebre...
Quem passa por São Paulo percebe que o jogo político por ali travou à espera da decisão de José Serra. Ele voltou a olhar para a porta de saída do PSDB como uma opção de fato. E o que levou os olhos dele nessa direção foi a pesquisa sobre intenção de voto do Instituto Paraná, que apresentou o ex-governador paulista com uma rejeição mais baixa do que a da presidente Dilma Rousseff e bem próximo de Marina Silva, a segunda colocada.
A pesquisa fez Serra crer que a candidatura à Presidência da República não seria apenas um capricho pessoal, e sim algo com inserção na sociedade. Isso porque, quando seu nome aparece na disputa com Marina, Aécio Neves e Eduardo Campos, a oposição tem mais votos. Assim, a leitura de Serra é a de que ele é importante no cenário eleitoral e não deveria ficar restrito a uma vaga de deputado federal em São Paulo, ou mesmo uma disputa ao Senado.
Além da pesquisa, houve o parecer do vice-procurador-geral eleitoral, Eugênio Aragão, contra a criação da Rede de Marina Silva, na sexta-feira. Esses dois fatores fizeram subir a bolsa de apostas sobre a saída de Serra do PSDB. Faltam ainda 13 dias para o prazo final de filiação partidária. Ele adoraria ter a certeza de que o instituto não vendeu gato por lebre. Isso, entretanto, ele não saberá. Faz parte.
Por falar em Marina...
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, tem dito que, se Marina não criar a Rede, a candidatura do PSB ganha um novo patamar. Afinal, Marina, em conversas reservadas, tem feito algumas ponderações no sentido de que, sem a Rede, não dá para ser candidata ao Planalto. Se Marina cumprir essa promessa, haverá uma força expressiva dentro da política nacional à deriva, e 20% dos eleitores dispostos a buscar algo novo. Tempo de grandes expectativas, muitos gatos e muitas lebres.
Curiosidade
A expressão gato por lebre significa “ser enganado” e é mais antiga que o Brasil. Tem origem em Portugal, onde algumas estalagens vendiam carne de gato como se fosse lebre. Até Luís de Camões utiliza a expressão na obra Auto dos Enfatriões.
Fonte: Correio Braziliense
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