Advogada de 32 anos é a principal responsável pela coleta de assinaturas do partido de Marina
Paulo Gama
SÃO PAULO - De volta a São Paulo depois do encontro que havia sacramentado a criação da Rede Sustentabilidade em fevereiro, em Brasília, Marcela Moraes foi surpreendida por uma funcionária do espaço que é usado como QG pelo grupo liderado pela ex-senadora Marina Silva.
A Rede havia acabado de divulgar os endereços para os quais eleitores deveriam enviar cartas com as assinaturas de apoio necessárias para a formalização do partido.
"Passei para saber se tinha alguma carta. De repente, a moça que trabalha lá chega com uma pilha enorme de envelopes. E isso só dois dias depois de a gente ter anunciado o endereço", relata.
O episódio a deixou mais animada para encarar a tarefa que teria pela frente: coordenar a coleta das 492 mil assinaturas de apoio à formação da Rede, etapa considerada a mais difícil para colocar de pé o projeto que pode permitir que Marina Silva --dona de um capital de 20 milhões de votos-- dispute a Presidência em 2014.
A advogada de 32 anos diz que se emociona com os bilhetes que chegam dentro dos envelopes, junto com as assinaturas. Em plena era digital, as cartas foram uma das principais maneiras usadas para reunir as fichas de apoio necessárias --o "anacronismo" da Justiça Eleitoral que exige os apoios em papel foi atacado pelo grupo diversas vezes.
Marcela conta que foi preciso fazer uma espécie de tutorial na internet para ensinar os mais jovens a usar os Correios. "As pessoas perguntavam no Facebook como é que faz para mandar carta."
Aos apoios enviados, somaram-se fichas coletadas em mutirões. A coleta envolveu 10 mil voluntários, que se alistaram pelo site.
Apesar do esforço, a semana passada foi de más notícias para a Rede. Mesmo tendo coletado 910 mil fichas, o partido reconheceu que não alcançará as 492 mil assinaturas certificadas até o início de outubro, e disse que precisará pedir à Justiça que aceite apoios rejeitados pelos cartórios. A Procuradoria Eleitoral emitiu parecer impondo barreiras à estratégia.
Ainda assim, Marcela não critica a aposta nos voluntários. "A gente não via outro jeito. Faz parte do nosso DNA."
Ela atuava como advogada na área de direitos humanos até 2009, quando foi levada por um amigo a um grupo de apoio à candidatura presidencial de Marina. Participou da campanha e decidiu fugir da "política institucional" em 2011, junto com a ex-senadora. Passou a organizar o Movimento Nova Política, que deu origem à Rede.
Diz que a liderança no processo foi questão de "acontecer fazendo", e que era natural pelo "envolvimento histórico", mas afirma que seu principal papel é facilitar a participação de outros.
A preocupação em incentivar a participação é tamanha que nem a entrevista Marcela concedeu sozinha. Dividiu a conversa com José Gustavo Favaro, 23, que coordenou o processo de coleta em São Paulo.
Ela diz que é "evidente" que a participação da Rede em 2014 é importante, mas que a criação do grupo não se resume a isso. Para ela, a sigla cumpriu todos os requisitos legais que a tornam apta a concorrer, mas refuta a sensação de dever cumprido. "A luta está só começando."
Fonte: Folha de S. Paulo
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