Segundo eles, universalização da Educação não é garantia de aprendizado
Paulo Celso Pereira
BRASÍLIA - Apesar de os indicadores da Pnad mostrarem avanços em praticamente todas as áreas nas últimas décadas, especialistas alertam para as deficiências difíceis de serem percebidas a partir apenas da análise desses números. A questão central é que muitas vezes os resultados quantitativos positivos ofuscam problemas qualitativos. O caso mais evidente é o da Educação. De acordo com Rosa Ester Rossini, professora titular do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP), apesar de o ensino fundamental estar praticamente universalizado, o nível de aprendizagem ainda é muito baixo. — Desde a ditadura, nós temos dados de alfabetização para consumo externo.
Hoje, entre 40% e 60% dos estudantes de primeira à quarta série não sabem ler ou escrever. Igual percentual de alunos da quinta à oitava série sabe ler e escrever, mas não sabe o que lê e escreve. A situação é alarmante. Há, por exemplo, uma enorme perda de qualidade na entrada de jovens na universidade. O jovem, hoje, entra na faculdade e não sabe pensar. Sabe copiar e colar. Temos que começar quase do zero — lamenta a professora.
Luta por igualdade e equidade
Sobre os resultados obtidos na Educação pelos dois períodos de governo, o professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB) Carlos Alberto Ramos reforça entendimento comum entre especialistas que analisam dados: — Quando você chega a percentuais de 95% ou 96%, aumentar é muito difícil. Então, você tinha pouca coisa para fazer no governo Lula em relação à inclusão no ensino fundamental, por exemplo.
O professor da UnB analisa um outro problema não revelado de imediato pelos números: mesmo com os avanços na renda e no nível de emprego, ambos ainda atingem mais fortemente o mesmo grupo que mais sofria na década de 1990, que são os brasileiros com educação média. — Se você pega a curva do desemprego, as taxas mais baixas estão entre os analfabetos e os de educação superior. Ou seja, o problema do desemprego no Brasil está na educação média. A estrutura do desemprego não mudou. Nos anos 1990 e hoje ela é similar.
Ela se desloca, mas a estrutura é exatamente a mesma — explica Ramos: — O aumento do salário mínimo beneficia os trabalhadores menos qualificados. No caso dos trabalhadores do ensino médio, há uma estagnação em termos reais do salário. Isso ocorre porque as pessoas estão chegando ao mercado de trabalho com educação média e como há um excesso de oferta isso tende a reduzir os salários. A professora Rosa Ester Rossini, especialista em questões de gênero, destaca também que o avanço na participação das mulheres no mercado de trabalho não deve ser fruto de comemoração intensa. Segundo ela, é resultado das dificuldades das famílias de serem mantidas apenas com o trabalho dos maridos.
E, ao mesmo tempo, de uma opção das empresas por remunerações menores. — Em relação ao trabalho da mulher vejo conquistas enormes, mas elas, no fundo, entraram no mercado de trabalho porque, com o número de horas que o companheiro trabalha durante a semana, é impossível manter a família em condições mínimas. Então, a intensificação não é só uma conquista. A mulher entra no mercado e não ganha igual ao homem, talvez só no serviço público. A gente tem que lutar é por igualdade e equidade — reforça Rosa Ester. Outra diferença grande entre os dois governos é em relação à formalização do emprego, que levou a carteira assinada para trabalhadores de ambos os sexos. Há ampla vantagem para os governos petistas.
O professor Carlos Alberto Ramos diz que seu marco inicial é a adoção do câmbio flutuante e a desvalorização do Real em 1999: — O corte da formalização é nitidamente em janeiro de 1999, com a desvalorização do Real. Não se sabe muito bem por que, mas depois que você adotou a taxa de câmbio flexível, você tem um processo de formalização muito forte, que se junta com um aumento do salário mínimo.
Fonte: O Globo
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