Por Guilherme Serodio e Renata Batista
RIO - Pela primeira vez em mais de 30 anos, o governo do Rio de Janeiro pode ter uma disputa não polarizada. Com quatro pré-candidatos colocados - o vice-governador Luiz Pezão (PMDB), o senador Lindbergh Farias (PT), o ex-governador Anthony Garotinho (PR) e o deputado federal Miro Teixeira (Pros, com possível apoio do PSB/Rede) - o foco do debate pré-eleitoral está no embate entre PMDB e PT. E quem tende a ganhar com a disputa - na qual ensaia também entrar o senador Marcelo Crivella (PRB) - são os prefeitos dos maiores colégios eleitorais do Estado, principalmente da região metropolitana e do Norte Fluminense.
"Todos dependem da máquina, mas quem tem força no interior é o Garotinho", reconhece o deputado federal Hugo Leal, do Pros, partido que pode lançar o deputado Miro Teixeira como forma de puxar votos nas eleições proporcionais e, principalmente, dar palanque para Marina Silva e Eduardo Campos na eleição presidencial.
O PMDB governa a capital e outros 23 municípios, cidades que somam 54,3% da população do Estado, segundo dados da eleição municipal de 2012. Mas, para o partido, a base de apoio de Pezão abrange 80 dos 92 prefeitos. No Rio, o PT administra 11 municípios, e o PR de Garotinho e o PSB, que rompeu com Cabral em setembro, têm sete cada.
No interior, prefeituras cortejadas não escondem a satisfação com a situação. Nos últimos meses, Cabral e seu vice-governador têm percorrido o Estado com anúncios de investimentos. O programa Bairro Novo, de asfalto e saneamento, é o carro-chefe, mas há projetos mais ambiciosos, como o metrô de São Gonçalo. A cidade tem o segundo maior colégio eleitoral do Estado e é governada por Neilton Mulin, do PR de Garotinho. Os projetos para o município somam R$ 1,3 bilhão.
Lindbergh adotou nos últimos meses uma estratégia de caravanas pelo interior. Sem nunca ter governado o Estado e contando com apenas 11 prefeituras administradas pelo PT, algumas mais próximas de Cabral do que do PT, como a de Niterói, o senador busca aumentar sua influência no interior desde a eleição municipal de 2012. O pré-candidato petista fez campanha para dois candidatos do PSB contra a orientação do PT. Em Petrópolis, apoiou Rubens Bomtempo contra o candidato do PMDB, Bernardo Rossi, a quem o PT declarou apoio oficial. Em Duque de Caxias, apoiou Alexandre Cardoso. Ambos pessebistas se elegeram. Ex-presidente estadual do PSB, Cardoso, porém, migrou para o PMDB para apoiar Pezão na disputa do próximo ano.
Atrás de possíveis palanques para a disputa ao Palácio Guanabara, Lindbergh também gravou vídeos de apoio e participou da campanha do prefeito eleito de Macaé, Doutor Aluízio (PV), que derrotou o secretário de Agricultura do governo Cabral, Christino Áureo (PSD). A vitória de Aluízio abriu um potencial palanque para Lindbergh na região norte do Rio, tradicional área de influência do deputado federal Anthony Garotinho (PR).
Aliados de Cabral contra-atacam, porém, minimizando o peso da máquina federal no Estado. "Esse ano, os repasses federais não passaram de R$ 300 milhões", diz uma fonte. "O Cabral tem todos esses números", diz uma fonte, abandonando o discurso que vigorou nos últimos dois mandatos sobre os benefícios do alinhamento entre as máquinas federal, estadual e municipal.
É nesse cenário que o PT ameaça desembarcar do governo Cabral. Na avaliação de observadores do processo, porém, o número de candidatos e o nível de disputa está diretamente ligado ao debate nacional. Além da necessidade de viabilizar palanques locais, preocupação particularmente relevante para PSDB, PSB e Pros, a própria disputa entre PMDB e PT estaria sendo dirigida pelo contexto nacional.
Embora os dois partidos alimentem as especulações de que o interesse de Cabral seja manter o PT no governo até o limite do prazo para depois acusar o antigo aliado de casuísmo, o que estaria em jogo é a possibilidade de o ex-presidente Lula vir a ser o candidato do PT e, com isso, enfraquecer a posição de Lindbergh. Nessa hipótese, Pezão, o candidato de Cabral, seria o aliado prioritário do ex-presidente.
"O Rui (Falcão, presidente do PT) defendeu o palanque duplo e o Cabral insistiu na candidatura única, mas nada foi decidido", relatou uma fonte sobre a segunda reunião entre os dois em menos de uma semana para tratar da pressão do pré-candidato do PT para romper com o governo. Historicamente, o PT nacional tende a enfraquecer as ambições de partidários locais em favor de coligações mais amplas. O próprio Lindbergh já foi vítima dessa política.
Para Picciani, o alinhamento dos prefeitos com os pré-candidatos não é automático. "O Pezão tem ido a todos os municípios. Temos feitos grandes investimentos e parcerias em todos os municípios e nos relacionamos bem com todos os prefeitos", diz. "O Pezão tem 80 prefeituras, essa é a diferença".
Aliado de Lindbergh, o deputado federal Alexandre Molon minimiza o peso do interior. "O Rio é um Estado em que 60% da população está na região metropolitana. E a população não vota necessariamente no candidato do prefeito", diz.
Na Assembleia Legislativa (Alerj), por sua vez, o PMDB detém 15 das 71 cadeiras. O partido conta também com o apoio de outros 43 parlamentares nas bancadas do PSD (9), PDT (6) e, até o possível rompimento, do PT (6), além de partidos menores.
Presidente da Alerj, Picciani afirma que a eventual saída do PT do governo Cabral libera seu partido para não oferecer palanque à presidente Dilma no Rio e procurar outros candidatos à Presidência."A posição do PMDB é conhecida e foi levada à convenção nacional do partido no começo do ano. Não participaremos de nenhuma candidatura majoritária que tenha outro candidato no Rio pois somos contra a tese de palanque duplo. Estaremos livres para qualquer aliança".
Fonte: Valor Econômico
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