Após reunião no Guanabara, o presidente do PT, Rui Falcão, e o governador Sérgio Cabral mantiveram as candidaturas de Lindbergh (PT) e Pezão (PMDB) ao governo do estado. Divisão prejudicaria Dilma no Rio
Campanha antecipada: Sem acordo no Rio
Reunião de caciques fracassa; PMDB e PT mantêm candidatos próprios ao governo
Juliana Castro
Em pouco mais de duas horas de conversa, ontem no Rio, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, e o governador Sérgio Cabral (PMDB) não conseguiram chegar a um consenso sobre a situação da aliança no estado. Tanto o vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), que participou do almoço, quanto o próprio Falcão saíram da reunião reafirmando suas posições de manter as candidaturas próprias de seus partidos ao governo do estado. À noite, Cabral, Pezão e o senador Lindbergh Farias (PT) estiveram juntos com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva num evento em um hotel da Zona Sul do Rio.
A parceria entre PT e PMDB no estado vive mais um momento de tensão, com a ameaça dos peemedebistas fluminenses de não apoiar a reeleição da presidente Dilma Rousseff em 2014, caso os petistas insistam em lançar Lindbergh ao governo. O nome do PMDB para a disputa é o de Pezão. Na convenção, o diretório do Estado do Rio responde por 15% dos votos.
O encontro entre os três foi marcado depois que o presidente do PT frisou, na semana passada, após participar de um encontro com integrantes do partido no Rio, que a candidatura de Lindbergh era "prioridade total". Os aliados de Cabral foram surpreendidos pela declaração, recebida com irritação no PMDB. Em reação, o partido passou a afirmar com mais veemência que não aceitará palanque duplo, com Lindbergh e Pezão, apoiando Dilma.
Discurso morno após encontro
O PT quer uma saída menos traumática no Rio para que a situação no estado não contamine a aliança nacional nem prejudique o andamento da parceria em outros estados.
— Discutimos um pouco os eventos aqui no Rio e também insisti muito na importância da aliança do PMDB no plano nacional — afirmou Falcão.
Após o encontro, a tentativa foi de apaziguar os ânimos. Em um discurso azeitado, Falcão e Pezão, que falaram separadamente após o almoço, negaram que a ameaça do PMDB do Rio de não apoiar a reeleição de Dilma tenha entrado em pauta:
— A gente nem chegou a esse ponto. O que a gente tirou é de continuarem abertos os canais de diálogo, de continuar conversando. Em nenhum momento se discutiu se vai ter palanque duplo ou triplo. O que a gente quer é um palanque único, forte, para presidente e para nossa candidatura. Agora, isso tudo é na conversa, no período de se conversar, na pré-campanha. Não estamos na pré-campanha, estamos em 2013 — afirmou o vice-governador.
Antes, Falcão também negou que tenha sido discutida a questão e reafirmou o apoio ao nome de Lindbergh para a disputa ao Palácio Guanabara. A queda de braço envolvendo os dois aliados no Rio ocorre porque o PMDB quer exclusividade no palanque de Dilma no estado e, para isso, trabalha para minar as chances do senador petista. O PT, por sua vez, tenta fazer com que os peemedebistas aceitem que a aliança tenha dois candidatos e que ambos apoiem a reeleição da presidente.
— Nossa conversa não passou por esse tipo nem de imposição ou insistência (para Lindbergh desistir). O dado da realidade hoje é que há dois candidatos. Ele tem respeito pela decisão do PT de ter uma candidatura. Agora, é natural que ele prefira que haja uma aliança no estado — disse Falcão.
Da mesma maneira, Pezão afirmou que não há maneira de o PMDB desistir da candidatura ao governo do estado:
— O PMDB vai ter candidato. Hoje, estou numa pré-candidatura, escolhido pelo partido, mas o PMDB, que tem a prefeitura da cidade do Rio, é o partido que tem a maioria das prefeituras do estado, uma aliança forte, que tem governo do estado por sete anos. A gente já tirou que terá candidatura própria.
Além da ameaça de não apoiar a reeleição de Dilma na convenção nacional, os peemedebistas do Rio têm lembrado aos quatro ventos que contam com a hegemonia no estado. O partido elegeu, ano passado, prefeitos em 24 das 92 cidades, incluindo a capital. Tem a maior bancada na Assembleia Legislativa do Rio, com 15 deputados, e nove dos 46 deputados federais. Na tentativa de baixar os ânimos, Pezão disse respeitar a candidatura de Lindbergh e frisou que o PMDB vai se esforçar para manter a aliança:
— Vamos fazer todos os esforços possíveis para manter essa aliança. A gente entende que o PT tem o direito de colocar a candidatura na mesa. A gente respeita o partido; agora, queremos cada vez mais ampliar a nossa aliança. Essa aliança foi o segredo do Rio.
Na avaliação dos peemedebistas, o momento é de evitar o confronto com o PT. A estratégia é continuar com Pezão nas ruas, em inaugurações de obras, percorrendo os municípios ao lado de prefeitos, vereadores e deputados aliados. A meta é torná-lo mais conhecido até junho. As pesquisas apontam Pezão como o menos conhecido entre os pré-candidatos.
LIbndbergh: Assunto é superado
À noite, Lula, Lindbergh, Cabral e Pezão foram ao lançamento do Mapa Estratégico do Comércio no Período 2014-2020, promovido pela Federação do Comércio do Estado do Rio (Fecomércio), Sesc e Senac, no Hotel Copacabana Palace. Lindbergh disse que não havia sido informado do resultado da reunião entre Falcão, Cabral e Pezão:
— Não sei detalhes do encontro. Ainda vou me encontrar com o Rui Falcão, mas nossa candidatura está consolidada, inclusive, já estou formando uma equipe do PT para tratar da minha pré-candidatura. Ou seja: a minha,candidatura ao governo do estado é algo já superado.
Cabral também não quis comentar o que foi conversado no almoço com o presidente do PT:
— O Pezão já falou.
Lula não quis falar com a imprensa ao chegar, sentou-se na primeira fila, ao lado de Cabral e Pezão. O ex-presidente, Lindbergh e os peemedebistas se cumprimentaram. Cabral e Lindbergh levaram suas tropas de choque. O governador compareceu ao lado de Pezão, o líder no governo na Assembleia Legislativa, André Corrêa (PSD), e secretários estaduais, entre eles o de Assistência Social e Direitos Humanos, Zaqueu Teixeira (PT). Os aliados do governador e do senador disputaram espaço com empresários para chegar ao ex-presidente.
Fonte: O Globo
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