"Utilização da máquina é visível", afirmou o tucano Álvaro Dias
Cristiane Jungblut
BRASÍLIA – A oposição criticou ontem o tom eleitoral da reunião da presidente Dilma Rousseff e de 15 ministros anteontem, no Palácio da Alvorada. Durante sete horas, Dilma cobrou resultados de obras e programas sociais e deixou claro que não aceita atrasos nos cronogramas de entrega das ações, numa clara preocupação com o calendário eleitoral de 2014.
Para o PSDB e o PPS, o encontro teve caráter de propaganda eleitoral No Palácio do Planalto, por sua vez, a estratégia é reforçar a fama de gestora de Dilma, que tem recebido ataques da oposição.
Segundo participantes da reunião, Dilma deixou claro aos ministros que não admite erros nos programas, em especial no Mais Médicos, que tem sido a vitrine do governo, mas, ao mesmo tempo, alvo de polêmica. A presidente quis saber detalhes da chegada dos médicos estrangeiros, dos locais onde eles seriam alocados e se realmente a população estaria assistida. Fez estas três perguntas ao ministro da Saúde, Alexandre Padilha, primeiro a prestar contas na longa reunião. O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, disse que Dilma quer o cumprimento das metas.
— A presidente perguntou especificamente sobre determinados programas. No caso dos Mais Médicos, quis saber dos médicos que estão chegando, se vão ser alocados onde a população precisa. Foi nesta linha — disse Paulo Bernardo.
Além da cobrança explícita de metas para o ano eleitoral de 2014, o PSDB criticou o fato de a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, ter falado como porta-voz. Ela é potencial candidata ao governo do Paraná, onde Dilma tem ido com frequência. Na saída, Gleisi e Paulo Bernardo foram cercados por estudantes de Curitiba e posaram para fotos.
— Dos 39 ministros, 15 se reuniram. Se fossem todos, seria comício. Isso não tirou a característica de projeto eleitoreiro, inclusive pela forma de divulgação dirigida. A utilização da máquina é visível — disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), vi-ce-líder do partido no Senado.
O senador também citou a cerimônia de comemoração dos dez anos do Bolsa Família, durante a semana.
— Foi com a presença do ex-presidente Lula, um comício em ato oficial e na hora do expediente — afirmou Dias.
O líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), disse que o encontro demonstra a falta de eficiência do governo federal, que só se preocupa com a perpetuação do poder:
— Agora, a presidente da República chama uma reunião ministerial e cobra a aceleração da obra do São Francisco. Por que não fez isso todos os meses desde que assumiu a Presidência? Nas vésperas das eleições de 2014, ela pede empenho. Isso é um desrespeito muito grande com toda a sociedade brasileira, principalmente da parcela que sobrevive com dificuldades de toda ordem no semiárido brasileiro.
A estratégia do Planalto é fazer reuniões periódicas, mostrando a atuação de Dilma. A próxima deverá focar mais em infraestrutura, segundo assessores, já que a primeira teve boa parte consumida pelos programas sociais. Dentro do governo, a ordem é tentar mostrar que não há atrasos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
O governo tem o desafio de concluir 31% das ações do PAC até o final de 2014. Das obras previstas para o período, 69% foram realizadas, ao custo de R$ 488,1 bilhões. Desde 2007, o PAC tem legislação específica que garante repasse de recursos mesmo em ano eleitoral.
Fonte: O Globo
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