A eleição para o governo de São Paulo promete ser a mais eletrizante de 2014, não apenas pela importância em relação à corrida presidencial, mas, sobretudo, por que PSDB e PT disputam pau a pau um campeonato restrito, o de que partido está mais envolvido em falcatruas. Chega a ser engraçado constatar que a cada acusação de um lado, logo se descobre que o outro lado também está envolvido de alguma maneira.
O caso mais grave, sem dúvida, é o do cartel de empresas que atuaria no estado desde 1998, pegando todas as gerações de administradores tucanos à frente do governo desde então. Se as investigações do caso Siemens em São Paulo levarem à conclusão de que o PSDB montou projeto de poder em São Paulo desde o governo Covas, passando por Geraldo Alckmin e José Serra, financiado pelo desvio de verbas públicas, estaremos diante de uma manipulação política com o mesmo significado do mensalão, por exemplo, embora com alcance regional, enquanto o mensalão tentou manipular nada menos que o Congresso Nacional.
As suspeitas de que algo mais grave aconteceu realmente em São Paulo fortaleceram-se quando foi revelado que a Justiça suíça desistira de investigações sobre a Alstom por não contar com a ajuda da Justiça brasileira. E o que aconteceu por aqui? Um verdadeiro escândalo. O procurador da República Rodrigo de Grandis, responsável pelas investigações, alegou uma “falha administrativa” para ter deixado o caso parado durante anos: o pedido da Suíça teria sido arquivado numa pasta errada.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, reabriu o caso, e ontem a Justiça Federal de São Paulo determinou o bloqueio de bens de cinco pessoas e três empresas investigadas nos inquéritos que apuram pagamentos de propina durante licitações do metrô de São Paulo e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos ( CPTM). Mas, mesmo nesse caso, descobre-se que o acordo de delação premiada foi conduzido de tal modo que as investigações estão restritas a São Paulo, quando os diretores da Siemens citam contratos de trem e metrô em sete estados.
Em cinco deles, a empresa responsável é a estatal federal Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). São citados contratos da CBTU em Salvador, Recife, Fortaleza, Porto Alegre e Belo Horizonte. A atitude dúbia do presidente do Cade, Vinicius Marques de Carvalho, que negou relação com o PT até ter de admitir que trabalhou com o deputado estadual petista Simão Pedro, o principal acusador do cartel, faz com que o PSDB peça sua destituição do cargo por conduta irregular na investigação, pondo a suspeita de que há partidarização das investigações.
Alckmin, na tentativa de se desvincular do caso, apresentou pedido de indenização contra a Siemens, mas o fez tão atabalhoadamente que se esqueceu de que cartel é formado por várias empresas. Como só apresentou queixa contra a Siemens, uma juíza mandou refazer o pedido com o nome das demais empresas integrantes do cartel.
O prefeito Fernando Haddad, por seu lado, faz força para empatar o jogo das acusações. Exonerou do cargo de confiança o auditor tributário Moacir Fernando Reis, sócio da mulher do secretário municipal de Transportes e deputado federal petista licenciado, Jilmar Tatto. Reis é um dos servidores da Subsecretaria da Receita Municipal suspeitos de participação no esquema de cobrança de propina de construtoras — que pode ter desviado até R$ 500 milhões do Erário municipal. Tatto disse que “não se lembrava” de que a mulher era sócia de Reis.
O secretário de Governo Antônio Donato foi acusado por duas testemunhas de receber propina do esquema. Uma delas, Paula Sayuri Nagamati, supervisora técnica da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, fez a acusação ao Ministério Público. E o que aconteceu: foi exonerada por Haddad e acusada pelo prefeito de fazer parte da máfia.
A denúncia, que tinha como objetivo acusar a gestão de Serra na prefeitura acabou pegando em cheio a administração Kassab, um aliado petista, e alguns membros do próprio governo Haddad. Essa disputa paulista vai dar mesmo o que falar....
Fonte: O Globo
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