PMDB teme hegemonia do PT já na eleição de 2014
O acordo que prevê o revezamento entre PT e PMDB no comando da Câmara dos Deputados se encerra com o mandato de seu atual presidente, Henrique Eduardo Alves. O presidente a ser eleito no começo de 2015 disputará o cargo dentro de novas regras, provavelmente numa disputa entre os dois maiores partidos aliados no governo.
O PMDB controla as duas Casas do Congresso, um delas (Câmara) por acordo e a outra (Senado) por ter a maior bancada. A previsão para a legislatura que começa em 2015 é de uma possível quebra desse equilíbrio, com o PT talvez se tornando hegemônico.
São três as prioridades assumidas do PT na eleição de 2014: reeleger a presidente Dilma Roussef, a renovação das lideranças do partido e a constituição de maioria no parlamento. Majoritária no Congresso, a sigla teria enfim condições de implantar projetos delineados nos programas anunciados a cada eleição, mas nunca levados a cabo por não conseguir acordo em uma base matizada.
Ampla e heterogênea, a base aliada do Palácio do Planalto dá ao governo os instrumentos necessários para a governança, mas não permite que o PT avance em propostas essenciais a seu projeto de poder, como a reforma política com o financiamento público de campanha e o voto proporcional, de preferência por lista pré-ordenada. Ou a instituição de um novo modelo de comunicação social no país.
O PT já é o partido com a maior bancada de deputados na Câmara. Não fosse o acordo de revezamento, um de seus presidiria a Casa. No Senado não há acordo, mas o PMDB é majoritário, situação que pode mudar nas eleições de 2014. O presidente do PT, Rui Falcão, disfarça, desconfia dessa projeção, mas o fato é que o PMDB renovará um terço de sua atual bancada de 21 senadores. O PT, apenas três de 13. E o partido está fazendo qualquer negócio nos Estados para ter o candidato a senador na chapa aliada favorita.
As projeções dos partidos indicam que o PMDB deve perder espaço no próximo Congresso, provavelmente mantendo-se como a segunda bancada da Câmara e com uma relação mais bem equilibrada com o PT no Senado. Não é à toa que o PT cozinha em fogo brando as negociações com o maior aliado em relação às alianças regionais para 2014. O PMDB tenta assegurar, desde logo, um arranjo em eleições vitais para a manutenção da estrutura de poder partidário.
Em outras circunstâncias, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva provavelmente faria o que pede o PMDB e apoiaria o candidato do governador Sérgio Cabral no Rio, o vice Luiz Fernando de Souza, o Pezão. Com Dilma Rousseff à frente das pesquisas, o PT com um nome competitivo no Rio e com seu amigo Sérgio Cabral no fundo do poço das pesquisas de opinião, Lula já manifesta em público o que antes só declarava aos mais próximos: a intenção de apoiar e eleger o senador Lindbergh Farias.
Mais ainda, nas conversas que manteve nos intervalos do 5º Congresso Nacional do PT, no último fim de semana, Lula deixou apreensivos os aliados, ao comentar que os adversários começam a ficar preocupados com a possibilidade de o PT eleger os governadores de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e manter o do Rio Grande do Sul, muito embora as pesquisas indiquem que será difícil a reeleição de Tarso Genro.
Com ou sem o Rio Grande do Sul e sem falar da Bahia, onde a máquina é petista e tem condições de eleger o sucessor de Jaques Wagner, o fato é que Lula desenha um país com a cor e a estrela do Partido dos Trabalhadores. São Paulo, Minas e Rio são os três maiores colégios eleitorais do país, além de concentrar o PIB nacional. A Bahia é o maior Estado do Nordeste, o governador está mal nas pesquisas, mas Lula e Dilma vão muito bem, obrigado.
O adiamento da reforma do ministério, inicialmente prevista para este fim de ano ou início de janeiro também deixa nervosos os pemedebistas, incomodados com o assédio dos irmãos Ferreira Gomes sobre a Integração Nacional, ministério "grande, importante e que tem convênios", na definição do governador do Ceará, Cid, e de seu irmão Ciro. Um instrumento poderoso para asfixiar os planos de Eduardo Campos (PSB) no Nordeste. Mas que para o PMDB tem o peso da manutenção de seu poder regional.
O presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, pretende ser candidato à reeleição em fevereiro de 2015, mas desde já conta como certo que terá de disputar o cargo com um deputado do PT. Hoje, o nome mais em evidencia é o do deputado André Vargas, primeiro-vice-presidente da Câmara e do Congresso. Alves, certamente, já percebeu a conjunção que deve se configurar depois das eleições de 2014 e articula sua reeleição pelas beiradas da base aliada e com a oposição.
A seu favor, o deputado conta com a oposição da maior parte dos aliados a qualquer coisa que cheire a um projeto de hegemonia do PT. Precisa costurar também com um bom entendimento com o líder da bancada, Eduardo Cunha, atualmente o nome pemedebista de maior influência na Câmara, não só no do PMDB, como também em outros partidos, inclusive aliados do governo petista.
Este ano, Henrique Alves foi uma pedra no sapato do governo. O presidente da Câmara deu gás ao orçamento impositivo, na realidade um projeto que torna obrigatória a execução de emendas parlamentares ao Orçamento. Também entrou em disputa com o Supremo Tribunal Federal, ao não aceitar homologar a cassação de mandatos de deputados condenados pelo tribunal. E considerou "humilhante" os líderes aliados assinarem no Palácio do Planalto um acordo para impedir a votação de projetos que aumentam gastos fiscais. Mas promete que, reeleito, dará apoio às medidas de ajuste econômico que Dilma precisar aprovar em 2015. Mas aconselha: "Faça o que precisar nos primeiros seis meses, porque o governo estará com força, com ministros novinhos, fresquinhos e motivados".
Fonte: Valor Econômico
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