Memória política
Acervo deixado pelo ex-governador, com mais de 270 mil itens reunidos no Instituto Miguel Arraes (IMA), será tombado pelo governo do Estado
Beatriz Albuquerque
O processo de tombamento do acervo deixado pelo ex-governador Miguel Arraes foi deferido ontem (16), pelo secretário de Cultura, Marcelo Canuto. Os 270 mil itens poderão ter seu valor reconhecido historicamente pelo governo do Estado. Durante a cerimônia que deu início as comemorações do centenário de Arraes, a viúva do ex-governador, Magdalena Arraes, e o governador Eduardo Campos (PSB), neto do ex-governador, se emocionaram ao relembrar do passado. O ato foi realizado no Instituto Miguel Arraes (IMA), antiga casa da família No Poço da Panela que será transformada em Memória Magdalena e Miguel Arraes de Alencar. A partir de 2015, parte dessa memória física estará à disposição de estudantes, pesquisadores e interessados em conhecer os registros.
O acervo é relativo à história de Arraes e da política do País, sendo parte deste material inédito. Após o tombamento, a manutenção continuará sob responsabilidade da família. "O tombamento é um reconhecimento do Estado sobre a importância histórica que tem esse acervo. Agora, os técnicos da Fundarpe detalharão o material, apresentarão um laudo final ao Conselho Estadual de Cultura e aprovado seguirá para o governador fazer o decreto definitivo", explicou Canuto. O trabalho técnico irá durar alguns meses, mas mesmo após o tombamento, os documentos continuarão sendo propriedade dos herdeiros.
Na cerimônia, Eduardo ficou emocionado. "É uma enorme emoção para mim ver esse terraço cheio de pessoas que... povoaram a nossa caminhada", disse com a voz embargada. A antiga casa da família, que hoje é o IMA, estava repleta de amigos, políticos e companheiros de Arraes. Segundo Campos, parte dos documentos ficaram guardados no Ceará, na casa da sua bisavó, e outra parte, que foi produzida no exílio, ficou na casa de uma amigo de Arraes, na França. "A gente que vivia perto dele não tinha acesso a todas essas cartas denunciando violência, reuniões, conversas que ocorreram no próprio exílio e ajudaram a resistência democrática aqui no Brasil. Eram coisas que ele não falava, até porque ele foi treinado para não falar, naquele tempo não podia falar".
Segundo Antônio Campos, irmão do governador e presidente do IMA, o tombamento é a primeira ação da família para celebrar o centenário de Arraes. Até 2016, serão realizados seminários internacionais para destacar a ação do ex-governador em muitos países na época do exílio. O seminário deve incluir ações na França, Itália, Argélia e países da América Latina.
O IMA funciona há 7 anos e meio. Entre os documentos, há registros de um júri simulado realizado na Suíça com a organização do ex-governador, que denunciou os governos e empresas que promoviam a repressão. Há documentos também do testemunho de Arraes sobre a Operação Condor, movimento de direita que tentou eliminar líderes políticos de esquerda da América Latina.
Fonte: Jornal do Commercio (PE)
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