A ministra Eliana Calmon está no centro do factoide
Uma pergunta insistente de adversários, feita com ironia e desdém, é sobre qual mesmo a contribuição que Marina Silva deu até agora à candidatura Eduardo Campos à Presidência da República. Em termos objetivos, quem conhece pesquisas não divulgadas que têm como base questionário específico, sabe a resposta e ela é positiva: quando o inquiridor coloca o nome da ex-ministra do Meio Ambiente do governo Lula como vice do governador pernambucano, o resultado eleva a chapa para o segundo lugar, na enquete induzida, colocando-os em condição de disputa real com a candidatura líder. Ou seja, ela pode transferir ao cabeça parte do prestígio que tem para si mesma, sendo candidata a vice.
Na ampla e difusa seara da subjetividade, porém, não importa resultado matemático neste momento da campanha eleitoral. O significado da aliança entre Eduardo e Marina está no crescimento da densidade política de todo o grupo, no aprofundamento dos temas em discussão e na exposição que o gesto permitiu à situação opaca e indefinida de ambos, e é disso que precisam neste momento. Sendo que Marina, com muito mais intenções de voto, estava em pior situação que Eduardo porque sequer tinha partido para sustentar qualquer projeto, uma preliminar simplesmente eliminatória, como se viu.
Ainda no plano da transferência de aura, e não de números, um grande passo à frente na subjetividade, há aquele eleitorado jovem, numeroso, manifestante ou não, ambientalista ou não, evangélico ou não, partidário da rede social e não do partido Rede, que, reza a lenda, vê Marina com simpatia, há alguns anos.
Ainda sem dono, não custa trabalhar a conquista de um naco desse contingente que a qualquer momento volta às ruas e, embora não se identifique com nenhum partido e nenhum político, parece ter mais afinidade com um projeto como o de Eduardo e Marina do que com qualquer outro que se lhes apresentem no menu eleitoral.
Não foi um factoide, portanto, essa adesão, até porque o governador de Pernambuco não deixou que a junção das ideias de Marina às do PSB e o apoio dela à sua candidatura se transformassem num espetáculo que se esgotasse facilmente no foguetório. Tudo aconteceu numa solenidade sóbria, enxuta, organizada de improviso num fim de tarde de um sábado, em um hotel de Brasília. Nada mais xoxo.
O sensacionalismo só começou a aparecer depois, coincidentemente quando os adversários iniciaram a reação a tão surpreendente aliança, em que a pergunta que começa essa história, sobre qual a contribuição de uma a outro, ganhou posição de destaque na campanha, sobretudo do PT e do PMDB.
Até o momento, não se tinha visto um drama, desses que ocuparam a atenção da mídia na relação Eduardo-Marina depois de outubro, quando se juntaram, que fosse um real fato político. Com uma única exceção: o veto de Marina Silva ao apoio do ruralista Ronaldo Caiado ao candidato do PSB. Ali houve até certa compreensão, tratava-se do símbolo, o representante de boa parte do país que vai do ruralismo político ao agronegócio, um dos lados em permanente conflito com o ambientalismo de que é símbolo a candidata a vice.
As demais intrigas, segundo os experts em Marina originadas no meio que a cerca, estavam naquela categoria do barulho para o qual se procura uma razão e não se acha. Mas nada foi tão gratuito quanto o último, que colocou a ministra do STJ, a baiana Eliana Calmon, no centro do redemoinho. Eduardo Campos anunciou, com prazer, pela rede social, a filiação de Eliana ao PSB, na semana que vem, para candidatar-se ao Senado pela Bahia. As cenas e declarações havidas após o anúncio, até agora discreto, são de corar.
Há alguns juízes, exatamente por serem destemidos e moralizadores, que são vistos como candidatos potenciais de um eleitorado que elege a corrupção como um dos principais problemas brasileiros. É o caso de Joaquim Barbosa, presidente do Supremo, e também de Eliana Calmon, ex-corregedora da Justiça. Não se imaginava, porém, e ainda não se pode explicar, que Marina Silva fosse reagir como reagiu ao simples anúncio de sua filiação ao PSB, e Eliana tivesse que sair explicando suas relações com Marina para diferenciá-las de suas relações com o PSB. O Rede criou um papel de mico para a ministra do STJ, agora no centro de um factoide.
O ciúme, talvez, justifique, mas não explica a corrida dos redistas, a comandante, inclusive, para anunciar que Eliana Calmon é do Rede e não do PSB, que seu compromisso é com Marina e não com Eduardo. Ou há uma intenção ainda submersa de assumir a liderança da chapa, ou medo de Eliana Calmon ser tão bem sucedida no PSB que não queira voltar para o Rede quando o partido vier a existir.
A ex-ministra do Meio Ambiente do governo Lula irritou-se como em nenhum outro não-fato da aliança com o PSB e jogou Eliana no fogo, amplificando o óbvio: tratava-se apenas de uma filiação transitória ao PSB, pois sua filiação política é ao Rede.
Se o Rede não existe, e por isso mesmo a própria Marina foi obrigada a procurar abrigo no PSB, por que o rigor intempestivo com a filiação de Eliana Calmon? A ex-corregedora nacional de Justiça e mais cotada candidata ao Senado pelo PSB da Bahia foi obrigada a sair em socorro da amiga, afirmando ser para ela questão moral, de compromisso com Marina, filiar-se posteriormente ao Rede, quando partido houver.
Uma disputa em torno do nada por uma razão inescrutável. Até agora, por mais que a intriga as embaralhem, as cartas voltavam ao lugar por falta de razão para manter o mercúrio alto. O caso Eliana Calmon, porém, é um desafio a todos os que já haviam compreendido que o presente é o projeto, o PSB, e o futuro é o Rede. Seja para os que no futuro ingressarão no Rede, seja para os que continuarão no PSB, no DEM, no PMDB, no PDT, e de onde mais vierem.
Nada foi pior até agora para o governo, a Fifa e a organização da Copa do Mundo no Brasil do que a violência no jogo Atlético PR e Vasco. Atrasos, negociações, moral da tropa, confiança, certezas, tudo voltou à estaca zero.
Fonte: Valor Econômico
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