Raphael Di Cunto
BRASÍLIA - A adesão do PPS à candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), à Presidência deve agravar ainda mais a já tumultuada formação de palanques regionais do partido do pernambucano com o Rede Sustentabilidade, legenda da ex-senadora Marina Silva que se abrigou provisoriamente no PSB após não ter o registro aceito pela justiça eleitoral.
O PPS pediu apoio para seus candidatos disputarem os governos de três Estados e em todos há divergências. Os problemas se somam a desentendimentos sobre palanques em outros locais, como São Paulo, em que o Rede pressiona o PSB a romper uma aliança histórica com o governador Geraldo Alckmin (PSDB). As diferenças de pensamento levaram as siglas a defenderem que a aliança PSB/Rede é nacional e, regionalmente, cada grupo poderá ter um candidato diferente.
Último a aderir ao bloco, o PPS quer apoio a três candidatos: a deputada distrital Eliana Pedrosa, que vai concorrer contra Agnelo Queiroz (PT) no Distrito Federal; a deputada estadual Eliziane Gama, que pretende disputar contra o candidato de Roseana Sarney (PMDB) no Maranhão; e o vice-prefeito de Manaus, Hissa Abrahão, que tenta viabilizar sua candidatura à sucessão de Omar Aziz (PSD) no Amazonas.
A demanda do PPS foi apresentada à cúpula do PSB há duas semanas, e ainda não chegou formalmente ao Rede. Integrantes do partido de Marina Silva, porém, opõe-se veementemente à aliança com o vice-prefeito de Manaus. "É um consenso geral da Rede no Amazonas que o Hissa não nos representa", afirma o porta-voz do partido no Estado, Tacius Fernandes, que também compõe a comissão nacional da legenda.
Segundo Fernandes, o vice-prefeito adota práticas da "velha política" combatidas pelo Rede. "O Hissa ficou um ano inteiro dizendo que ia ser candidato a prefeito para no último momento se aliar ao Arthur [Virgílio Neto, do PSDB, que foi eleito]. Fez isso com o compromisso de ficar até o fim do mandato, mas agora ignora a promessa para sair candidato", pontua. Como vereador, Hissa também fez parte da base de apoio do ex-prefeito de Manaus Amazonino Mendes (PDT), que não tem a simpatia do grupo de Marina Silva.
O porta-voz do Rede critica ainda a postura do PSB no Estado. Controlado pelo ex-prefeito de Manaus Serafim Corrêa, o partido aderiu à base de apoio de Arthur Virgílio e discute apoiar o candidato que o PSDB indicar - provavelmente a deputada federal licenciada e atual secretária de Governo do Amazonas, Rebecca Garcia (PP).
"O PSB infelizmente está andando de acordo com o que o PSDB decide. O Serafim Corrêa está muito próximo do grupo do Arthur, mas a gente espera que ele tenha discernimento para lançar uma candidatura própria que possa dar palanque para o Eduardo ou a Marina no Amazonas e não ser levado a apoiar o Aécio Neves [PSDB]", afirma Tacius Fernandes.
Na tentativa de costurar um acordo, Fernandes sugere como candidatos dois deputados estaduais dos aliados: Marcelo Ramos (PSB) ou Luiz Castro (PPS). Ramos teve o nome lançado pela própria Marina em outubro, quando a ex-ministra participou de um seminário sobre sustentabilidade em Manaus. Ambos, entretanto, não contam com apoio da cúpula de seus partidos para disputarem.
Há dificuldades também no Maranhão, desta vez com o PSB. Com aval de Eduardo Campos, a legenda está muito próxima de fechar o apoio à candidatura do presidente da Embratur, Flávio Dino (PCdoB). Em troca, Campos teria um palanque forte no Estado e o PSB ficaria com a vaga da chapa ao Senado. Segundo pessoas próximas à negociação, a coligação só não aconteceria se o PT, hoje aliado da família Sarney, decidir apoiar Dino.
Já o grupo do Rede no Maranhão está filiado ao PPS. Isto inclui a candidata do PPS, Eliziane Gama, mas os integrantes da legenda de Marina acham improvável que a aliança nacional entre os três partidos leve o PSB a desembarcar da candidatura de Dino. "É muito difícil. O ex-governador José Reinaldo Tavares é filiado ao PSB e é um dos padrinhos da candidatura do Flávio Dino, vai ser complicado demovê-lo desta ideia", afirma o coordenador do Rede no Maranhão, Cândido Lima (PPS). Como alternativa para obter mais tempo de TV, o PPS negocia apoio com o PSDB.
Eliziane é "pré-filiada" ao Rede, termo cunhado pelos militantes para definir os políticos que estão temporariamente em outras legendas até que o partido seja aceito pela justiça eleitoral. Na campanha de 2012 para a Prefeitura de São Luís, a deputada recebeu apoio pessoal de Marina Silva, o que provocou ressentimento no grupo do deputado federal Domingos Dutra, que trocou o PT pelo Solidariedade depois que o Rede não saiu do papel.
Antigo coordenador do Rede no Maranhão e assessor de Dutra, Clemilton Oliveira Alves reclama do tratamento dado pela ex-ministra. Diz que Marina não consultou as pessoas que ajudaram na construção do Rede sobre a filiação ao PSB e que o apoio a Eliziane contraria a tentativa de formar uma chapa de oposição à família Sarney.
"A Eliziane só aparece bem nas pesquisas porque a mídia pró-Sarney tem fortalecido a candidatura dela para enfraquecer a candidatura do Flávio Dino, que já tinha nosso apoio", afirma Alves. "Ela sequer se empenhou na formação do Rede. Nunca participou das reuniões e, das 45 mil fichas de apoio colhidas no Estado, o grupo dela recolheu só 2 mil. Mas a Marina sempre foi mais simpática a ela, talvez pelo fato de ambas serem evangélicas."
Atual coordenador do Rede no Maranhão, Lima diz que o grupo do deputado Domingos Dutra tentou levar ao Rede uma "verticalização" da estrutura de poder que não era condizente com o novo partido. "Foi estabelecido que a quantidade de assinaturas coletadas não seria determinante para definir quem comandaria a Rede no Estado. O Dutra tentou vetar o nome da Eliziane e não trabalhamos desta forma", diz.
No Distrito Federal, a discussão ainda não se tornou pública, mas é igualmente complicada. Candidata do PPS, a deputada Eliana Pedrosa foi secretária de Assistência Social do governo do Distrito Federal por quatro anos, durante o governo José Roberto Arruda (PR), que foi preso por supostamente liderar um esquema de desvio de recursos que ficou conhecido como "mensalão do DEM".
O currículo não atrai simpatias entre os militantes do Rede, mas os porta-vozes do partido batem cabeça para não tornar essa discussão pública. "Acreditamos que as alianças não se fazem em torno de pessoas, mas de projetos, por isso ainda não estamos discutindo nomes", afirma a porta-voz no DF, Muriel Saragoussi. Já o coordenador-nacional da sigla, Pedro Ivo, diz o contrário. "A Rede já tem candidato no Distrito Federal, o [deputado federal] Reguffe [PDT]. O PSB, por sua vez, já tem seu próprio candidato, o senador Rodrigo Rollemberg.
Fonte: Valor Econômico
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