A escolha do senador Aloizio Mercadante para a chefia da Casa Civil é um luminoso indicador do que é o governo da doutora Dilma e, sobretudo, do que virá a ser. Desde que o PT entrou no Planalto, esse cargo foi ocupado por dois comissários (José Dirceu e Antonio Palocci), dois quadros de perfil técnico (ela e Erenice Guerra), mais Gleisi Hoffmann, que teve um desempenho híbrido. Dos cinco, um está na Papuda e dois deixaram as funções no tapete manchado dos escândalos.
Mercadante será o terceiro comissário. Não tem as mesmas bases que Dirceu teve na burocracia partidária, nem as conexões de Palocci na plutocracia, apesar de buscá-las em cordiais jantares paulistas. Como Dirceu e Palocci, foi um dos fundadores do partido. Como os dois, teve sua carreira tisnada por uma operação que Lula classificou, sem se referir a ele, como obra de "aloprados". Na reta final de sua campanha pelo governo de São Paulo, em 2006, dois militantes petistas foram presos mercadejando dossiês. Um deles carregava R$ 1,7 milhão em dinheiro vivo. O Supremo Tribunal Federal absolveu Mercadante de qualquer relação com o caso.
Nomeado para os Ministérios da Ciência e Tecnologia e da Educação pela doutora Dilma, mostrou uma opção preferencial por projetos fantásticos, felizmente adormecidos. Por exemplo: um laboratório de pesquisas oceânicas em alto mar, ou a reciclagem de um plano delirante de Fernando Haddad, que pretendia comprar 600 mil tablets para alunos de escolas públicas, que Mercadante redirecionou para professores. (Em 2004, a Casa Civil de José Dirceu operava 36 grupos de trabalho e ele coordenava 16, inclusive um para tratar de hip hop.)
Como estrategista político, Mercadante fez parte do conclave de comissários que conceberam uma resposta do governo às manifestações de julho do ano passado. Propunha uma Constituinte exclusiva e um plebiscito para desenhar uma reforma política. Esse caos se desarticulou em três dias. Havia ainda uma proposta de cinco pactos. Um deles previa a abertura de mais vagas nos cursos de medicina. Mercadante deixa o Ministério da Educação enquanto a doutora vai a Cuba negociar a vinda de mais dois mil médicos e o Rio arrisca perder a maior faculdade (decadente) do País, com 2,4 mil alunos.
A grande virada do governo de Lula se deu quando ele trocou José Dirceu por Dilma Rousseff, pondo ordem na administração e mantendo-a parcialmente ao largo do troca-troca. Agora, deu-se o contrário, abrindo-se mais espaço para o projeto partidário. Foram muitos os enganos de José Dirceu. Talvez o maior deles tenha sido a ideia de que a Casa Civil poderia ser sua plataforma para chegar à Presidência da República.
Barbosa deu uma aula imprópria
No dia 2 de janeiro, o presidente do STF, Joaquim Barbosa, decidiu a prisão do mensaleiro João Paulo Cunha, não assinou o necessário mandado e saiu de férias pouco depois. Tratava-se de autografar um despacho relacionado com um processo que relatara e os recursos que negara.
De Paris, ele condenou os colegas Cármen Lúcia e Ricardo Lewandowski, que o substituíram: "Eu, se estivesse como substituto, jamais hesitaria em tomar essa decisão".
Tudo bem, mas esteve, como titular, e não assinou.
Barbosa diz que a ministra Cármen Lúcia não discutiu com ele qualquer problema: "Ela não me telefonou. Não falou comigo".
Um curioso ouviu de Cármen Lúcia, numa conversa casual, anterior a essa declaração de Barbosa, que ela lhe telefonou no dia 3, falou e perguntou se o doutor deixaria alguma questão relevante sobre a mesa. Ele disse que não.
Copa é Copa
A militância que jogou na rede o slogan "Não vai ter Copa" está enganada.
Copa, todo mundo quer que haja. O que não se quer é roubalheiras na construção de estádios, mordomias para a Fifa e faculdades de medicina fechando.
Durante a Copa de 1970, quando a ditadura alavancava sua popularidade com os êxitos da seleção, houve dias em que militantes da Aliança Libertadora Nacional festejavam os gols acompanhando o foguetório com tiros de Winchester disparados de seus "aparelhos".
Tucanato tonto
A admissão, por Fernando Henrique Cardoso, de que o mensalão mineiro "foi, eventualmente, desvio de recursos para campanha eleitoral" mostra que o tucanato ainda não sabe o que fazer com a história da sua caixa mineira e com ex-governador Eduardo Azeredo, que à época presidia o partido.
"Desvio", o caixa dois nunca é. Pelo contrário: é tiro certo.
Isso tudo num aviário que também está tonto com o caso das propinas da Alstom e seu cartel.
Sinal amarelo
Diretores de uma grande empresa brasileira voltaram estarrecidos depois de um giro pela calota norte em busca de parceiros para uma de suas iniciativas. A América Latina pegou uma inhaca e mesmo que se diferencie o Brasil da Venezuela, surgiu uma tendência para associá-lo à Argentina, cuja moeda dá sinais de colapso.
Como diria José Genoino, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, mas um pedaço do comissariado encanta-se com algumas medidas da senhora Kirchner.
Eremildo, o idiota
Eremildo é um idiota e está em busca de alguém que o ajude a fazer um site para receber doações. Decidiu-se ao saber que Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT e integrante do diretório da Papuda, pretende coletar na rede os R$ 466 mil que deve à Viúva por causa da multa que lhe impôs o Supremo Tribunal Federal.
Eremildo jura que não tem um tostão, mas espera melhorar suas finanças com alguns projetos que tem em andamento. O cretino não sabe nada, só lembra. Ele recorda que em 2004 a fazenda da família Soares, em Buriti Alegre (GO), dobrou de tamanho, chegando a 60 alqueires. A expansão teria um valor de mercado de R$ 800 mil, mas o valor declarado da transação foi de R$ 150 mil pagos em dinheiro vivo, levados num saco de pano.
Nessa época, Delúbio era conhecido pela qualidade de seus charutos.
Cheiro de queimado
O velho e bom BNDES empresta dinheiro a juros camaradas, e a taxa de juros do Banco Central voltou a subir.
Com isso, reativou-se uma modalidade de dinheirinho fácil. O sujeito pega dinheiro no banco (mais do que precisa), põe uma parte na empresa e outra em títulos do governo. Caso faça as escolhas certas, com aquilo que empresta à Viúva, ganha, garantidos, 4% ao ano. Numa parte dessa ponta virtuosa teria entrado o componente das doações de campanha.
Houve um tempo em que o velho e boníssimo BNDE emprestava dinheiro em condições semelhantes e muito mais vantajosas. Quem foi para o papelório continua rico. Quem investiu na produção quebrou.
Fonte: Jornal do Commercio / O Globo
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