Ao contrário dos antecessores Fernando Henrique e Lula, que foram ajudados pelos índices de preços, situação da presidente será desfavorável
Miana Tomazelli
RIO - A economia, principalmente a inflação alta, promete ser o "calcanhar de Aquiles" da presidente Dilma Rousseff nas eleições de 2014. Isso porque a alta de preços tem mostrado resistência no patamar de 6%, acima da meta de 4,5% perseguida pelo Banco Central (BC). Para este ano, analistas esperam nova aceleração, com possibilidades de a taxa acumulada ultrapassar a banda superior da meta (6,5%) em alguns meses.
A situação é completamente oposta àquela enfrentada por Fernando Henrique Cardoso e Lula na reeleição. "Será a primeira vez, desde 1994, que a inflação pode se tornar o foco da agenda econômica nas eleições", diz Carlos Kawall, econo-mista-chefe do Banco Safra e ex-secretário do Tesouro.
O cenário de 1994 era diferente, diz o economista. A questão era acabar de vez com o avanço galopante dos preços, ainda sob o fantasma da hiperinflação, o que envolveu a consolidação do Plano Real. Mas, depois disso, a inflação passou longe dos debates eleitorais, ressalta Kawall.
Caso as projeções se mostrem corretas, a reeleição de Dilma será mais "trabalhosa", avalia o cientista político e professor da PUC-Rio, Ricardo Ismael. "Dilma tentou fazer mudanças que não deram certo, e agora a política fiscal gera desconfiança. Ela ficará pressionada. A economia talvez sej a o "calcanhar de Aquiles" da eleição."
Com leituras negativas sobre a situação fiscal do governo e das contas externas, o que não pode escapar das rédeas da equipe econômica de Dilma, segundo Ismael, é a inflação e o desemprego. Isso porque a população, ainda que não entenda com profundidade os fundamentos da economia, sente seus efeitos. "Na medida em que a inflação beira 6%, não é mais um debate de especialistas. O discurso dela vai ficar mais difícil."
Não por acaso, essas têm sido as frentes que concentram os esforços da presidente e da equipe econômica. Com algum sucesso, Dilma mantém o mercado de trabalho aquecido e o desemprego nos menores patamares da história do País, apesar do baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).
Em relação à inflação, contudo, nem o represamento dos preços administrados foi suficiente para impedir a aceleração em 2013. A desvalorização do câmbio e o aumento do crédito, de acordo com Kawall, ajudaram a impulsionar os produtos comercializáveis. Com isso, os preços livres subiram 7,3% em 2013, a maior alta em dez anos.
Histórico. Apesar disso, no governo Dilma a inflação média é inferior à dos últimos governos. A taxa acumulou 19,38% em três anos, até 2013. Nos três primeiros anos do governo de FHC, foi de 41,12%. Na vez de Lula, foram 24,29% de 2003 a 2005.
Porém, embora mantenha uma taxa média inferior, Dilma I conta com expectativas bem mais desfavoráveis. Em 1998, quando FHC venceu, a inflação desacelerou a 1,65%, comprimida por uma atividade econômica fraca e uma conjuntura internacional desfavorável. Mas havia a bandeira da estabilização, que o ajudou a vencer ainda no primeiro turno. Com Lula, a inflação oficial também reduziu o passo até fechar em 3,14% em 2006, ano da reeleição.
O economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central e sócio-diretor da Schwartsman 8c Associados, concorda que a inflação de hoje é produto das escolhas do governo Dilma. Ele afirma que a situação da presidente era mais confortável do que quando FHC e Lula iniciaram seus mandatos.
"Embora a inflação de 2010 não tenha sido baixa, teria bastado um pouco mais de austeridade em 2011 para pôr as coisas nos eixos. Mas a condução desastrada da política econômica pôs mais lenha na fogueira."
Fonte: O Estado de S. Paulo
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