“Vamos tentar manter uma relação (com o PMDB) amistosa”
Lindbergh Farias, aspirante a candidatura do PT ao governo do Rio
O governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ) alterna momentos em que ainda acredita no remoto apoio do PT ao vice Luiz Antonio Pezão, candidato à sua vaga, com outros em que não acredita mais. O PT anunciou que deixará o governo dele no próximo dia 28. Cabral se acha credor de Lula. Duas vezes o apoiou para presidente. No segundo turno da eleição de 2010, Dilma saiu do Rio com larga vantagem sobre José Serra.
Cabral está convencido de que fez uma boa administração ao longo de dois mandatos com destaque para a área da segurança pública. Atribui aos desafetos, Anthony Garotinho à frente, parcela do seu índice de ruim e de péssimo medido pelas pesquisas de opinião. A campanha deles para enlamear sua imagem foi grande e, de certa forma, bem-sucedida. Cabral deu-se conta disso quando era muito tarde.
Admite, contrariado, que contribuiu para sua própria desgraça ao usar jatinhos de Eike Batista em viagens de lazer. E quando se deixou fotografar em Paris feliz da vida ao lado do dono da Delta Construções, Fernando Cavendish, o maior fornecedor de serviços ao governo do Rio. Cavendish - soube-se depois - meteu-se em negócios sujos com o ex-bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Repele, porém, qualquer insinuação de que tenha cometido algum ato desonesto. Não poderia ser diferente. E compreende que tenha aumentado o grau de exigência dos eleitores. Eles simplesmente não parecem mais dispostos a tolerar qualquer tipo de comportamento dos políticos. Aí Cabral foi relapso. Nem mesmo isso, imagina, justificaria o rigor com o qual seu governo está sendo avaliado.
Se antes era natural que tivesse um candidato ao governo para chamar de seu, agora considera imprescindível. Cabral precisa de uma voz para defendê-lo durante a campanha. Pezão não tem carisma, e nem sorri com frequência. Mas foi o administrador da administração Cabral. Viajou mais ao interior do Estado do que a Paris. Esteve presente em todos os momentos bons e ruins do governo.
Pezão está lá embaixo nas pesquisas – não importa. Como disse o deputado Paulo Melo (PMDB), presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro: “Só em filme de Kung Fu meia dúzia vence cem”. Cabral, o PMDB e a máquina do governo serão os mais ativos cabos eleitorais de Pezão. É razoável que ele obtenha entre 20% e 30% dos votos e que se credencie a disputar o segundo turno. Contra quem? Contra Garotinho - quem sabe?
Assim como o PMDB, em ocasiões especiais, pressiona o presidente da República por mais cargos ameaçando abandoná-lo, Cabral sussurra que ele e sua turma poderão não suar a camisa para reeleger Dilma. Ou até mesmo apoiar Aécio Neves (PSDB) ou Eduardo Campos (PSB) para derrotá-la caso o PT não marche unido com Pezão. É blefe. Cabral não é homem de aventuras. E sabe que, vencido no primeiro turno, o PT tenderá a apoiar Pezão no segundo.
Se quiser, Dilma contará com quatro palanques certos no Rio: de Pezão, Garotinho (PR), Marcelo Crivella (PRB) e Lindbergh Farias (PT). Por ora, o ex-prefeito César Maia (DEM) está órfão de candidato a presidente. O PT só voltaria ao regaço de Cabral se até abril Lindbergh despencasse nas pesquisas. Improvável. Pela primeira vez em sua história, o PT tem a chance de eleger simultaneamente os governadores de Minas Gerais, Rio e São Paulo.
Acautele-se Dilma se não for reeleita no primeiro turno. Aí, sim, Cabral e outros nomes do PMDB poderão largá-la. Os políticos, em geral, não gostam dela. Mas a temem.
Fonte: O Globo
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