Eleição para Câmara dos Deputados deve marcar a disputa entre PT e PMDB pela maior bancada da Casa
Fernando Taquari
SÃO PAULO - Na tentativa de garantir o maior número de cadeiras na Câmara, os principais partidos vão apostar na eleição deste ano em políticos com recall e eleitores fiéis - que sempre aparecem como campeões de voto - e no binômio artista-jogador. Os chamados puxadores de voto são estratégicos para a sobrevivência das siglas porque o tempo de propaganda eleitoral no rádio e na TV e os recursos do Fundo Partidário são distribuídos com base, respectivamente, na bancada eleita e na votação dos candidatos a deputado federal. O dinheiro em caixa e a maior exposição tendem, em um círculo vicioso, a se reverter em votos.
A eleição para Câmara ainda deve marcar a disputa entre PT e PMDB pela maior bancada. Otimistas, os petistas querem permanecer no topo e esperam eleger mais de 100 parlamentares. Assim acreditam que podem reduzir a dependência dos aliados para aprovar ou descartar projetos. A marca, no entanto, só foi atingida antes pelo então PFL (que depois virou DEM) em 1998 (105) e em 1986 (118) e pelo PMDB em 1994 (107), em 1990 (108) e em 1986 (260). Além disso, seriam necessárias quase duas Câmaras para abrigar todos os parlamentares que as legendas esperam eleger em 2014.
Na lista de campeões de voto estão nomes bem conhecidos do eleitorado. Os deputados Paulo Maluf (PP-SP), Gabriel Chalita (PMDB-SP), Eduardo da Fonte (PP-PE), Rodrigo de Castro (PSDB-MG) e Domingos Neto (Pros-CE), por exemplo, vão concorrer à reeleição e estiveram entre os mais votados em 2010. Os partidos também apostam em celebridades, como os cantores Belo (PTB-SP), Varguinho (PDT-RJ) e José Rico (PMDB-GO), e em esportistas reconhecidos, como o ex-futebolista Marcelinho Carioca (PT-SP) e os ex-jogadores da seleção brasileira de vôlei masculino Giba (PSDB-PR) e Giovane (PSDB-MG). A disputa por uma vaga na Câmara vai ocorrer até entre dirigentes de clubes, como os rivais Atlético Mineiro e Cruzeiro, que serão representados na eleição por Alexandre Kalil (PSB-MG) e Gilvam Pinho Tavares (PV-MG), respectivamente.
As apostas revelam a expectativa das legendas em repetir neste ano os resultados de Tiririca (PR-SP) e Ratinho Júnior (PSC-PR) na eleição passada. Os dois parlamentares tentarão um novo mandato em outubro.
A importância dos puxadores é tal que Tiririca, com 1,3 milhão de votos, ajudou a eleger em 2010 três candidatos que faziam parte de sua coligação. O último eleito, Vanderlei Siraque (PT-SP), teve 93 mil votos, menos do que outros 10 candidatos que não se elegeram. Já a votação (358 mil) do filho do apresentador Ratinho permitiu ao PSC fazer mais quatro deputados. Sete candidatos de outras siglas receberam mais votos do que os 61 mil registrados por Edmar Arruda, o último beneficiado pela votação de Ratinho Júnior. Isso ocorre porque deputados federais - assim como os estaduais e vereadores - são definidos depois da distribuição proporcional de vagas aos partidos e coligações. Por esse sistema, divide-se o número de votos do partido (dados a candidatos e à legenda) pelo quociente eleitoral, que é o resultado da divisão do total de votos válidos pelo número de cadeiras a serem preenchidas.
O PT, porém, deve ter dificuldades para cumprir o objetivo de fazer mais de 100 deputados. Primeiro, porque o aumento da fragmentação partidária nos últimos anos tornou a disputa mais competitiva. Em segundo, porque a legenda não poderá contar com José Genoino (SP), José Dirceu (SP), João Paulo Cunha (SP) e Edinho Silva (SP), tradicionais puxadores de voto. Os três primeiros estão inelegíveis depois de serem condenados no julgamento do mensalão. Já Silva será um dos coordenadores da campanha presidencial de Dilma Rousseff em São Paulo. Diante desse cenário, os petistas acreditam que os deputados Carlos Zarattini (SP), Vicente Cândido (SP) e Nelson Pelegrino (BA) podem preencher a lacuna.
"Além disso, vamos promover uma sólida campanha institucional para fortalecer o voto na legenda, inclusive, nas redes sociais. O PT tem tradição nesse tipo de voto, sobretudo em São Paulo. Na última eleição, elegemos quatro deputados no Estado com o voto em legenda", recorda o vice-presidente nacional do PT, Alberto Cantalice. O dirigente também confia no voto de eleitores de cidades administradas por petistas.
Já o PMDB prevê uma bancada acima de 80 deputados. Deposita as fichas em São Paulo, onde planeja apresentar chapa com 70 candidatos a deputado federal. Trata-se de uma mudança de estratégia significativa em relação à eleição de 2010, quando apenas 20 pemedebistas tentaram a Câmara pelo Estado, com um apenas sendo eleito - Edinho Araújo. Chalita deve puxar a fila dessa vez. Então filiado ao PSB na última eleição, o pemedebista já tinha sido um dos mais votados no país ao receber 560 mil votos. Para o presidente em exercício do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), Chalita tem potencial para superar essa marca depois do recall conquistado na disputa pela Prefeitura de São Paulo em 2012, quando obteve 833 mil votos.
"Podemos fazer de seis a oito deputados paulistas. Para atingir o objetivo, contamos ainda com uma votação expressiva do vice-prefeito de São Bernardo do Campos (SP), Frank Aguiar", afirma Raupp. O PSDB também concentra em São Paulo, maior colégio eleitoral do Brasil, a expectativa de aumentar a representação na Câmara. Os tucanos estão animados com a possibilidade de José Serra concorrer a deputado. Entendem que o ex-governador deve obter, com relativa tranquilidade, mais de um milhão de votos e bater até o recorde de votação de Tiririca na eleição passada. "Serra é um político conhecido e com credibilidade. Sua candidatura puxaria mais uns três nomes do partido ou da coligação", afirma o presidente do PSDB-SP, deputado Duarte Nogueira (SP).
"Queremos que a bancada paulista volte ao patamar de 1998 e 2002, quando tínhamos 18 parlamentares. Hoje, temos 12. Mas com candidatos fortes, como os secretários Bruno Covas (Meio Ambiente) e José Aníbal (Energia), podemos alcançar nossa meta no Estado", acrescenta o dirigente, que projeta o PSDB com 70 deputados federais a partir da próxima legislatura. A estimativa leva em conta a confiança dos tucanos na capacidade dos oito governadores do partido em promover o voto na legenda.
O PSB, por sua vez, filiou alguns esportistas com o objetivo de conquistar uma quantidade significativa de votos. Disputarão a Câmara pela sigla o ex-nadador e medalhista olímpico Fernando Scherer (SP), o piloto de Stock Car Ricardo Zonta (SC) e o ex-goleiro do Sport Magrão (PE), além do deputado Romário (RJ), que concorrerá à reeleição. A expectativa é que o ex-jogador, um dos mais combativos contra a realização da Copa do Mundo no Brasil, possa dobrar sua votação e ter aproximadamente 300 mil votos.
Apesar da investida no meio esportivo, o partido projeta um desempenho acima da média para as deputadas Luiza Erundina (SP) e Keiko Ota (SP). "As duas juntas devem ter mais de 500 mil votos. Agora, o principal puxador de votos do PSB na eleição será o nosso candidato à Presidência, o governador Eduardo Campos (PE). Calculamos que 7% dos votos do candidato majoritário são dados também para a sigla. Imagino que isso pode render cerca de 600 mil votos de legenda em São Paulo", diz o presidente do PSB-SP, deputado Márcio França.
Os partidos criados depois de 2010 enxergam na eleição de deputados a oportunidade de se firmarem no cenário nacional. Deputado estadual mais votado na história da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (528 mil votos), o apresentador Wagner Montes (RJ) é o principal nome do PSD para 2014. À exceção do apresentador, o PSD não terá celebridades e esportistas entre os seus candidatos. Formada em sua maioria por deputados do baixo clero e com poucos votos, a legenda trabalha para garantir a reeleição dos 42 parlamentares, especialmente em São Paulo (sete) e Bahia (seis), onde possui as maiores bancadas. O secretário-geral do PSD, Saulo Queiroz, afirma que a formação de um chapão em torno da candidatura do ex-ministro Pimenta da Veiga (PSDB) ao governo de Minas Gerais pode ajudar o partido a fazer oito deputados mineiros.
Com o mesmo perfil de parlamentares do PSD, o Pros e o Solidariedade, os outros dois novatos adotam estratégias distintas. Maior partido no Ceará, com cinco deputados federais, 11 estaduais e mais o governador, Cid Gomes, o Pros aposta no Estado para ganhar musculatura no Congresso. O Solidariedade, por outro lado, pretende reeleger a atual bancada (22), além de fazer pelo menos um deputado nos oito Estados em que a sigla não tem representação.
Após o sucesso de Tiririca, o PR investirá sem reservas em celebridades. O humorista ainda busca um discurso depois que deixou de ser uma novidade. O sambista Neguinho da Beija-Flor deve ser o puxador de votos no Rio. Outra opção no Estado é Clarissa Garotinho, que espera herdar os 694 mil votos do pai, o deputado e ex-governador Anthony Garotinho, que concorrerá ao Palácio Guanabara. O PRB também adotará a tática do PR. Embora aposte as principais fichas na eleição do ex-deputado Celso Russomanno (SP), o partido conta com nomes do meio artístico e de celebridades, como o ex-BBB Kléber Bambam (SP), o estilista Ronaldo Ésper (SP) e a cantora e apresentadora Sula Miranda (DF).
O PSC vai combinar nomes do meio artístico com políticos. O comandante da sigla, pastor Everaldo Dias, acredita que o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) pode ter até 600 mil votos com a popularidade que ganhou com sua polêmica passagem pela Comissão de Direitos Humanos. "A expectativa é que ele consiga no mínimo dobrar sua votação agora que é mais conhecido", afirmou. Em 2010, Feliciano teve 211 mil votos. Outras opções são Ratinho Júnior e o cirurgião plástico Dr. Rey (SP).
Fonte: Valor Econômico
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