Deputados arranjam desculpa e dizem que bancada não fez indicação
Cristiane Jungblut e Fernanda Krakovics
BRASÍLIA — Numa demonstração de que a crise política não acabou com a reforma ministerial, o PMDB da Câmara vai boicotar a posse dos novos ministros, marcada para a próxima segunda-feira.
O líder do PMDB na Câmara, deputado Eduardo Cunha (RJ), foi direto: avisou que não comparecerá para reforçar a postura de indiferença diante dos nomes escolhidos, já que a bancada na Câmara decidiu não indicar nomes à presidente Dilma Rousseff, pelo menos oficialmente. Nem mesmo o presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), vai prestigiar os ministros. Ele alegou compromissos políticos em Natal.
O líder Eduardo Cunha disse que só chegará a Brasília no final do dia de segunda-feira.
— Tenho compromisso, mas, mesmo que não tivesse, não iria à posse. Não tem porquê! O PMDB tomou a posição de não indicar nomes. Isso serve para mostrar nossa indiferença diante do processo (de escolha dos nomes) — disse Eduardo Cunha.
Ele não tinha conhecimento das declarações do ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, mas disse que “só o tempo dirá" se as tensões diminuirão ou não.
Já o presidente Henrique Alves disse, por meio de mensagem, que tem um encontro do partido Solidariedade na segunda-feira, no mesmo horário, e que soube apenas ontem que a data da posse tinha sido transferida para a próxima semana.
“Soube de manhã (de ontem) que mudaram para segunda-feira. Tenho evento aqui (Natal), com o presidente do Solidariedade, Paulo Pereira da Silva, na segunda, às 10h”, disse Henrique Alves, alegando que “não dava para mudar mais”.
Renan deu aval no Turismo
Na prática, o PMDB da Câmara quer deixar clara a posição de que não se sentiu responsável pela escolha do novo ministro da Agricultura, Neri Geller. Já o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), deu seu aval para as mudanças no Turismo.
A presidente Dilma Rousseff agilizou a reforma ministerial e liberou cerca de R$ 400 milhões de emendas ao Orçamento da União, nos últimos dias, para tentar conter a crise na Câmara, que culminou com a criação de uma comissão externa para investigar denúncia de corrupção na Petrobras, além da convocação de ministros para dar explicações. A ofensiva, no entanto, não surtiu efeito.
— O governo vai pautar o marco civil da internet? Vai ter negociação (no marco civil) para atender nossos pleitos? O que queremos é melhor tratamento e mais conversa. Se houver isso, vai arrefecer (a rebelião). A insatisfação não é só do PMDB, é na base inteira — disse o deputado Lúcio Vieira Lima (BA).
O deputado Danilo Fortes (PMDB-CE) também não comparecerá na posse. Ele afirmou que a liberação de emendas e a nomeação dos ministros não mudou o quadro em nada:
— Eles liberaram restos a pagar de 2013. O governo está sacaneando o orçamento impositivo, criando dificuldades e embaraços para cumpri-lo. E esses ministros eu nem conheço. Eu milito no PMDB desde 1978 e é a primeira vez que não conheço ministros do partido.
Cargos e emendas do partido são mapeados pelo Planalto
O governo está mapeando a execução das emendas parlamentares e os cargos federais de cada deputado do PMDB. A ideia é ter claro o grau de infidelidade dos deputados para decidir como deve proceder caso a caso. Uma lista com a execução de emendas e recursos extras do Ministério do Turismo à qual O GLOBO teve acesso mostra, por exemplo, que dois dos mais radicais deputados do partido, Danilo Forte (CE) e Lucio Vieira Lima (BA), só foram menos aquinhoados com recursos no Turismo do que o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, e do Senado, Renan Calheiros.
Entre 2011 e 2013, cada um conseguiu cerca de R$ 19 milhões em empenhos — que é quando o governo assegura os recursos para determinada obra e permite que a prefeitura dê início aos trabalhos. Vieira Lima, que faz parte da ala mais oposicionista da legenda e deve apoiar o tucano Aécio Neves à Presidência, reage com bom humor:
— Se for isso mesmo eu vou ficar feliz. Quando as emendas foram liberadas, eu achava que era porque o governo achava os projetos bons, não imaginava que fosse para me comprar. Eu só mandei de fato cerca de R$ 8 milhões de emendas, mas estão dizendo que tudo da Bahia é meu. Se for assim, tudo o que vai para São Paulo é do Michel Temer. Só acho uma pena o governador Jaques Wagner não estar me convidando para as inaugurações — ironiza Vieira Lima.
O deputado Danilo Forte, por sua vez, além da alta execução de emendas no Turismo, foi responsável pela indicação de Germano Rocha Fonteles na superintendência da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) no Ceará. Uma lista obtida pelo GLOBO mostra que ao menos 15 superintendentes estaduais da fundação foram indicados por parlamentares do partido:
— No mínimo um quarto das minhas emendas vai para o Turismo. O que eu lamento nisso é essa chantagem barata nos colocando numa situação constrangedora. Quando Fonteles entrou na Funasa ela estava nas páginas policiais e hoje é ela uma das instituições melhor administradas do Ceará.
Como aliados era natural que até indicássemos mais gente, porque os cargos não podem ficar ociosos. O tamanho do governo é esse aí: não responde aos problemas econômicos do país e fica preocupado com essas coisas miúdas. Essa exposição não vai calar ninguém, vai me fazer falar mais — afirmou Forte.
Fonte: O Globo
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