sábado, 15 de março de 2014

Merval Pereira: É a economia

Como é sabido, a situação da economia não apenas influencia o resultado das eleições como também a situação política interfere na economia, especialmente em anos eleitorais como o que vivemos. Já tivemos no mercado internacional o lulômetro, que o banco de investimentos americano Goldman Sachs criou na eleição de 2002 para medir a influência na cotação do dólar do risco de Lula vir a ser eleito presidente da República.

O modelo matemático previa que o dólar chegaria a 3 reais em outubro, e ele chegou a 4 diante da realidade de Lula subindo a rampa do Palácio do Planalto. Depois de duas eleições em que reeleger Lula ou eleger Dilma não parecia perigoso para a economia do país, chegamos este ano a uma eleição diferente.

O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, um dos mais contundentes críticos da política econômica do governo, já previu que a possibilidade de Dilma se reeleger no primeiro turno, como apontam as pesquisas até o momento, pode ter o mesmo efeito que a vitória de Lula em 2002, uma disparada do dólar, diante do que o mercado já sabe que Dilma é capaz de desfazer na economia.

Na contramão, a possibilidade de haver segundo turno, com boa chance de derrota do PT, pode fazer a Bolsa de Valores retomar o crescimento, depois de ter caído quase 40% dos anos Dilma.
Circula agora no mercado financeiro uma análise do Gerente da Área de Macroeconomia da LCA Consultores, Francisco Carlos Pessoa Faria Junior, que coloca na mesa não apenas a possibilidade de Dilma ser derrotada em outubro, como também joga suas fichas em que a disputa no segundo turno será com o governador de Pernambuco Eduardo Campos.

“Eu não compartilho da ideia de que a Presidente Dilma já está com a reeleição garantida. Pelo contrário: em minha opinião a atual incumbente não é nem a favorita á eleição presidencial”, começa o economista sua análise, baseado em três premissas: a situação socioeconômica não irá melhorar até o final do ano; haverá segundo turno; e ele será disputado entre Dilma e Campos, o que para ele parece ser uma vantagem para o pernambucano dissidente.

Lembrando que a presidente Dilma teve uma queda abrupta de popularidade após as manifestações de junho, só recuperando em parte seus índices positivos, Francisco Carlos Pessoa diz que esse fato “sugere que, curiosamente, as pesquisas de popularidade talvez carreguem um componente inercial, ou de retroalimentação, maior que costumamos supor. E também indica que as manifestações que sugiram não devem ser o único motivo por trás da queda de popularidade da presidente”.

Daqui até outubro as coisas não vão ficar melhores para Dilma, esta é a primeira premissa do analista. Mesmo que não haja racionamento de energia, e ele acredita que não haverá, “uma série de problemas deverá piorar não só a situação real da economia, mas também a sensação térmica”, diz ele.

Como há muito tempo não acontecia, a política econômica vai estar na berlinda, diz ele, e não faltarão alvos: inflação persistentemente alta, PIB persistentemente baixo, possibilidade de rebaixamento de nossa classificação de risco e deterioração das contas públicas e externas.

Aos problemas econômicos Francisco Carlos Pessoa junta a Copa do Mundo, que segundo ele transformou-se de trunfo em fardo para o governo brasileiro. Prevendo novas manifestações de rua, ele diz que tudo leva a crer que haverá segundo turno, para ele entre Dilma e Eduardo Campos, o candidato mais possível de ser caracterizado como “o novo” que Francisco Carlos Pessoa acha que está sendo procurado pelo eleitor esse ano.

Essa disputa no segundo turno, que ele considera sem favoritos, trará incertezas geradas pelas dúvidas. “É possível, até que haja uma nova rodada de considerável desvalorização da taxa de câmbio”, prevalecendo o viés heterodoxo que ele vê na construção da plataforma de Campos, com a adaptação necessária às exigências da Rede de sua provável vice Marina Silva.

Provavelmente, analisa Francisco Carlos Pessoa, será possível, “para os que tiverem bastante coragem”, ganhar algum dinheiro apostando em um dólar mais caro e em juros futuros mais altos. “A não ser que, diante do quadro pintado acima, o ex-presidente Lula resolva adiantar sua volta ao embate eleitoral”, adverte.

Nesse caso, o analista não afirma, mas é possível perceber que uma solução Lula, ao contrário de 2002, seria a preferida do mercado financeiro, na suposição de que o Lula que voltará é o “Paz e Amor” do primeiro governo, e não o que deu uma guinada à esquerda no segundo mandato que permitiu a ascensão de Dilma Rousseff ao Gabinete Civil e depois à Presidência da República.

Fonte: O Globo

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