Formalização de chapa com Eduardo Campos ainda depende de acordos entre Rede e PSB sobre candidatos
Maria Lima e Paulo Celso Pereira
BRASÍLIA — Antes da formalização de sua candidatura a vice na chapa do presidenciável Eduardo Campos (PSB), a ex-ministra Marina Silva, da Rede Sutentabilidade, quer resolver pendências e divergências de seu grupo político com o PSB nas alianças regionais. O problema central do acordo ainda é a situação em São Paulo, onde a Rede não aceita o apoio ao governador Geraldo Alckmin nem a candidatura do presidente estadual do PSB, Márcio França, historicamente ligado aos tucanos. Só que nos últimos dias alguns movimentos no tabuleiro de montagem dos palanques estaduais tem causado surpresas no próprio comando da campanha . Em Santa Catarina, onde Campos tem conversas avançadas para ter o apoio do governador Raimundo Colombo (PSD), Marina se encantou com o herdeiro político da familia Bornhausen, o secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, deputado Paulinho Bornhausen (PSB), e quer lançá-lo candidato ao governo.
E no Acre, onde tem uma aliança de vida inteira com a Frente Popular dos irmãos Jorge e Tião Viana, integrantes da Rede surpreenderam o PSB ao cogitarem agora romper a parceria no único estado onde o PSB se comprometeu a apoiar o PT. A alternativa dos marineiros seria uma candidatura do PV, apesar de o marido de Marina, Fábio Vaz, ainda ser secretário do governador Tião Viana, que busca a reeleição. Diante das várias dificuldades, que ainda se estendem pelo Rio Grande do Sul, Paraná e Pará, entre outros, dirigentes do PSB e da Rede já cogitam apoiar candidatos diferentes em muitos estados.
Paulinho Bornhausen já teve alguns encontros com Marina, o último em Porto Alegre. Apesar da família Bornhausen ter o carimbo da política tradicional, o que contraria o discurso de Marina, sua atuação em projetos estruturantes na área de saneamento básico e preservação ambiental tem chamado a atenção da ex-ministra verde. Por enquanto ele ri da situação e diz a interlocutores que está "de boa" com a candidata a vice na chapa de Campos. Mas ele e o pai, Jorge Bornhausen, tem uma ligação muito forte com Colombo.
- Se o Colombo quiser nos apoiar nós vamos com ele em Santa Catarina. O velho Bornhausen, que está conosco, tem muita influência sobre o governador. Mas Marina está com uma ótima relação com Paulinho Bornhausen e quer que ele seja candidato - informou o secretário geral do PSB, Carlos Siqueira.
Além de São Paulo, o PSB planejava se aliar com os tucanos em outros dois estados: Paraná e Minas Gerais. A Rede também resiste intensamente a compartilhar o apoio nesses locais, mas o PSB não abre mão. Com isso, no Paraná a tendência é que a Rede apoie uma candidatura do PV ou até mesmo o senador Roberto Requião, do PMDB, caso ele se candidate. Em Minas, terra do presidenciável tucano Aécio Neves, a Rede ainda não definiu seu caminho. Já em São Paulo, apesar da resistência dos marineiros ao nome do deputado Márcio França, a situação é muito delicada.
Presidente estadual do PSB, França é responsável pela eleição de mais de 20% da bancada federal do PSB e controla integralmente o diretório paulista da legenda. Como havia decidido abrir mão da candidatura a deputado, já que negociava o posto de vice na chapa do governador Geraldo Alckmin, França entregou suas bases eleitorais a outros nomes da chapa da Câmara e agora não abre mão de concorrer a governador. Eduardo Campos e Carlos Siqueira expuseram a situação de França para Marina, e apesar de ela não ter vetado, reagiu monossilábicamente.
- São Paulo é o mais complicado, porque não se vislumbra uma solução satisfatória. A candidatura do Márcio atende à letra mas não ao espírito do pedido da Rede (de que não houvesse aliança com os tucanos). É uma situação complexa de se administrar - explica um dirigente do grupo de Marina.
A Rede tem simpatia por outros nomes, como o do coordenador da Comissão da Verdade, Pedro Dallari, ou até de uma candidatura do PSOL. Só que Márcio já avisou que agora não tem mais volta, já que desestruturou sua campanha para a Câmara.
- Embora eu continue achando que é um erro, que estamos entregando de bandeja para o Aécio em São Paulo, continuo montando a chapa para o governo e a chance é zero de voltar atrás. Internamente o pessoal da Rede não é muito simpático a minha candidatura. Por simpatia apoiariam o PSOL. Agora a condicionante é o contrário: Marina tem que anunciar primeiro que é candidata a vice, para diluir a resistência dos 1200 delegados do PSB que ainda acham que o melhor seria a aliança com Geraldo - disse Márcio França.
Marina e Campos já gravaram o programa nacional que irá ao ar no dia 27. Nele, reforçam a parceria, mas de novo Marina não faz referência à vice, inclusive por proibição da legislação que coíbe campanha fora do prazo. Uma semana depois, no dia 4 de abril, um ato polítco marca a saída de Campos do governo de Pernambuco para começar a correr o país como pré-candidato. Isso tudo sem Marina se anunciar oficialmente como vice. Segundo integrantes da campanha do PSB, sempre que instada a se pronunciar sobre a data do anúncio, Marina mantém o suspense e diz: "Quando as coisas se resolverem".
Fonte: O Globo
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