No Rio, peemedebistas dão sinais contraditórios ao Palácio do Planalto
Clarice Spitz, Cássio Bruno e Juliana Castro
ITATIAIA - Inconformado com a pré-candidatura do senador Lindbergh Farias (PT) ao governo do Rio, o PMDB no estado passou a dar sinais contraditórios à presidente Dilma Rousseff. Nesta sexta-feira, um dia depois de se reunir com a presidente no Palácio da Alvorada, o governador Sérgio Cabral (PMDB) afirmou que o partido estará com Dilma na eleição de outubro. Por outro lado, o presidente estadual da sigla, Jorge Picciani, e outros parlamentares peemedebistas continuam pregando o rompimento da aliança nacional com o PT para apoiar o tucano Aécio Neves à Presidência.
A discordância pública é vista como uma tentativa de o PMDB se fortalecer mais para conseguir sepultar a campanha de Lindbergh. Cabral diz defender a reeleição de Dilma e, assim, diminui a tensão em torno da aliança. Mas não freia os aliados peemedebistas que pedem o apoio a Aécio, e, com isso, ainda fica com margem para negociar a retirada da candidatura de Lindbergh em favor do vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB).
Na reunião de quinta-feira no Alvorada, Cabral e Pezão falaram a Dilma que estão fora da turma do PMDB que anda pregando apoio a Aécio. Nesta sexta-feira, o governador tratou de expor publicamente essa posição, durante inauguração de uma fábrica de laminação de vergalhão de cobre, em Itatiaia, no Sul Fluminense. Ele estava ao lado do vice-presidente Michel Temer e de senadores do PMDB, como o presidente nacional do partido, Valdir Raupp.
— No PMDB do Rio não há dúvida, nós estamos juntos com Dilma e Michel (Temer, vice-presidente). Somos Dilma Rousseff em 2014, somos amigos da presidente Dilma, não há empecilho. Política é feita de idas e vindas, eu compreendo meus amigos do PMDB que ficaram chateados com a postura de companheiros do PT do Rio, mas nós temos que superar isso porque estamos aí há sete anos e três meses — disse Cabral.
O governador declarou que as conversas com a presidente quinta-feira, em Brasília, e nesta sexta-feira com Temer, no Rio, antes do evento, foram excelentes. Ele anunciou que Dilma deverá vir ao Rio em diversas ocasiões entre maio e junho. Neste período, Pezão deve ter assumido o governo do estado, já que a expectativa é que Cabral deixe o cargo no dia 3 de abril.
Ao ser indagado se Dilma virá ao palanque de Pezão, Cabral afirmou que só a presidente poderá dizer, mas listou as visitas que ela fará ao Rio: nas inaugurações da fábrica da Nissan, do BRT Transcarioca, da Linha 4 do metrô e do Arco Metropolitano. Candidatos nas eleições de outubro podem inaugurar obras até a primeira semana de julho, antes de a campanha começar.
— Como alguém vai romper uma aliança dessas? É completamente sem sentido. Ela é minha amiga pessoal. Sou amigo dela e estaremos juntos apesar dos erros políticos cometidos circunstancialmente — afirmou Cabral.
Ressentimentos em jogo
Ainda sem saber da declaração do governador em Itatiaia, o presidente do PMDB do Rio voltou a dizer que vai trabalhar para eleger Aécio.
— Minha posição como presidente do partido é a mesma (de apoiar o tucano) — disse Picciani. — O PMDB é um partido democrata. Eu e Cabral divergimos há 20 anos e convergimos há 20 anos.
Filho do presidente do PMDB fluminense, o deputado federal Leonardo Picciani arriscou que, se a convenção do partido fosse hoje, Dilma perderia de lavada. Para ele, a conversa da presidente com peemedebistas no Alvorada foi uma tentativa de conseguir de Pezão e Cabral um compromisso de estar no palanque dela:
— Não há racha. Nós respeitamos a posição do Pezão e do Cabral.
Secretário-geral do PMDB no Rio, Carlos Alberto Muniz declarou que não há possibilidade de o partido no estado apoiar Aécio. Segundo ele, se a sigla deixar a aliança nacional com o PT, estará fazendo o mesmo que os petistas fizeram aqui com o governo Cabral, o que os peemedebistas fluminenses tanto criticam.
— Não tem isso. É uma posição precipitada. Não vamos fazer isso — declarou Muniz, afirmando que Picciani vai entender isso e conduzirá o partido nesse processo.
No encontro com Cabral, Dilma teria dito que a pré-candidatura de Lindbergh era uma opção do ex-presidente Lula, não dela. Mas tanto Lula quanto Dilma querem neutralizar a família Picciani e o líder do PMDB, Eduardo Cunha. Picciani, por conta da defesa da candidatura de Aécio, e Cunha, por comandar as articulações contra o governo.
Em meio às declarações divergentes no PMDB do Rio, o presidente nacional do partido, senador Valdir Raupp, adotou um tom apaziguador.
— Tem que dar tempo. Existe o ressentimento em razão da eleição passada, por parte do presidente (Picciani), que não teve o apoio merecido (do PT) — afirmou. — Até as convenções, muita água vai rolar. Ainda é tempo de conciliação.
Os petistas reagiram às declarações da presidente Dilma. Para o presidente nacional do PT, Rui Falcão, a pré-candidatura de Lindbergh ao governo do Rio está consolidada:
— O Lindbergh é o candidato do PT. Isso foi homologado numa plenária com seis mil pessoas na quadra do Salgueiro.
Direito de candidatura própria
Coordenador da pré-campanha de Lindbergh, o deputado federal Jorge Bittar (PT-RJ) também reforçou o direito de o senador concorrer ao Guanabara:
— Antes de mais nada, a candidatura do Lindbergh é do PT. Foi aprovada pelo partido. O resto é conversa. O PT do Rio apoiou os dois mandatos do Cabral e os dois mandatos do Paes. Temos o direito de ter uma candidatura própria.
O presidente regional do PT, Washington Quaquá, por sua vez, afirmou que, no almoço com Cabral, Pezão e Paes, Dilma fez papel de pré-candidata:
— A presidente é candidata. Tem que agradar o interlocutor.
Ex-ministro da Pesca de Dilma, o deputado federal Luiz Sérgio (PT-RJ) rebateu a presidente:
— A candidatura do Lindbergh não é uma invenção da Dilma e nem do Lula. É um desejo do PT do Rio.
Procurado pelo GLOBO, Lindbergh não retornou as ligações.
Fonte: O Globo
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