sábado, 15 de março de 2014

Cabral diz que PMDB do Rio está com Dilma, mas presidente do partido no estado apoia Aécio

No Rio, peemedebistas dão sinais contraditórios ao Palácio do Planalto

Clarice Spitz, Cássio Bruno e Juliana Castro

ITATIAIA - Inconformado com a pré-candidatura do senador Lindbergh Farias (PT) ao governo do Rio, o PMDB no estado passou a dar sinais contraditórios à presidente Dilma Rousseff. Nesta sexta-feira, um dia depois de se reunir com a presidente no Palácio da Alvorada, o governador Sérgio Cabral (PMDB) afirmou que o partido estará com Dilma na eleição de outubro. Por outro lado, o presidente estadual da sigla, Jorge Picciani, e outros parlamentares peemedebistas continuam pregando o rompimento da aliança nacional com o PT para apoiar o tucano Aécio Neves à Presidência.

A discordância pública é vista como uma tentativa de o PMDB se fortalecer mais para conseguir sepultar a campanha de Lindbergh. Cabral diz defender a reeleição de Dilma e, assim, diminui a tensão em torno da aliança. Mas não freia os aliados peemedebistas que pedem o apoio a Aécio, e, com isso, ainda fica com margem para negociar a retirada da candidatura de Lindbergh em favor do vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB).

Na reunião de quinta-feira no Alvorada, Cabral e Pezão falaram a Dilma que estão fora da turma do PMDB que anda pregando apoio a Aécio. Nesta sexta-feira, o governador tratou de expor publicamente essa posição, durante inauguração de uma fábrica de laminação de vergalhão de cobre, em Itatiaia, no Sul Fluminense. Ele estava ao lado do vice-presidente Michel Temer e de senadores do PMDB, como o presidente nacional do partido, Valdir Raupp.

— No PMDB do Rio não há dúvida, nós estamos juntos com Dilma e Michel (Temer, vice-presidente). Somos Dilma Rousseff em 2014, somos amigos da presidente Dilma, não há empecilho. Política é feita de idas e vindas, eu compreendo meus amigos do PMDB que ficaram chateados com a postura de companheiros do PT do Rio, mas nós temos que superar isso porque estamos aí há sete anos e três meses — disse Cabral.

O governador declarou que as conversas com a presidente quinta-feira, em Brasília, e nesta sexta-feira com Temer, no Rio, antes do evento, foram excelentes. Ele anunciou que Dilma deverá vir ao Rio em diversas ocasiões entre maio e junho. Neste período, Pezão deve ter assumido o governo do estado, já que a expectativa é que Cabral deixe o cargo no dia 3 de abril.

Ao ser indagado se Dilma virá ao palanque de Pezão, Cabral afirmou que só a presidente poderá dizer, mas listou as visitas que ela fará ao Rio: nas inaugurações da fábrica da Nissan, do BRT Transcarioca, da Linha 4 do metrô e do Arco Metropolitano. Candidatos nas eleições de outubro podem inaugurar obras até a primeira semana de julho, antes de a campanha começar.

— Como alguém vai romper uma aliança dessas? É completamente sem sentido. Ela é minha amiga pessoal. Sou amigo dela e estaremos juntos apesar dos erros políticos cometidos circunstancialmente — afirmou Cabral.

Ressentimentos em jogo
Ainda sem saber da declaração do governador em Itatiaia, o presidente do PMDB do Rio voltou a dizer que vai trabalhar para eleger Aécio.

— Minha posição como presidente do partido é a mesma (de apoiar o tucano) — disse Picciani. — O PMDB é um partido democrata. Eu e Cabral divergimos há 20 anos e convergimos há 20 anos.
Filho do presidente do PMDB fluminense, o deputado federal Leonardo Picciani arriscou que, se a convenção do partido fosse hoje, Dilma perderia de lavada. Para ele, a conversa da presidente com peemedebistas no Alvorada foi uma tentativa de conseguir de Pezão e Cabral um compromisso de estar no palanque dela:

— Não há racha. Nós respeitamos a posição do Pezão e do Cabral.

Secretário-geral do PMDB no Rio, Carlos Alberto Muniz declarou que não há possibilidade de o partido no estado apoiar Aécio. Segundo ele, se a sigla deixar a aliança nacional com o PT, estará fazendo o mesmo que os petistas fizeram aqui com o governo Cabral, o que os peemedebistas fluminenses tanto criticam.

— Não tem isso. É uma posição precipitada. Não vamos fazer isso — declarou Muniz, afirmando que Picciani vai entender isso e conduzirá o partido nesse processo.

No encontro com Cabral, Dilma teria dito que a pré-candidatura de Lindbergh era uma opção do ex-presidente Lula, não dela. Mas tanto Lula quanto Dilma querem neutralizar a família Picciani e o líder do PMDB, Eduardo Cunha. Picciani, por conta da defesa da candidatura de Aécio, e Cunha, por comandar as articulações contra o governo.

Em meio às declarações divergentes no PMDB do Rio, o presidente nacional do partido, senador Valdir Raupp, adotou um tom apaziguador.

— Tem que dar tempo. Existe o ressentimento em razão da eleição passada, por parte do presidente (Picciani), que não teve o apoio merecido (do PT) — afirmou. — Até as convenções, muita água vai rolar. Ainda é tempo de conciliação.

Os petistas reagiram às declarações da presidente Dilma. Para o presidente nacional do PT, Rui Falcão, a pré-candidatura de Lindbergh ao governo do Rio está consolidada:

— O Lindbergh é o candidato do PT. Isso foi homologado numa plenária com seis mil pessoas na quadra do Salgueiro.

Direito de candidatura própria
Coordenador da pré-campanha de Lindbergh, o deputado federal Jorge Bittar (PT-RJ) também reforçou o direito de o senador concorrer ao Guanabara:

— Antes de mais nada, a candidatura do Lindbergh é do PT. Foi aprovada pelo partido. O resto é conversa. O PT do Rio apoiou os dois mandatos do Cabral e os dois mandatos do Paes. Temos o direito de ter uma candidatura própria.

O presidente regional do PT, Washington Quaquá, por sua vez, afirmou que, no almoço com Cabral, Pezão e Paes, Dilma fez papel de pré-candidata:

— A presidente é candidata. Tem que agradar o interlocutor.

Ex-ministro da Pesca de Dilma, o deputado federal Luiz Sérgio (PT-RJ) rebateu a presidente:
— A candidatura do Lindbergh não é uma invenção da Dilma e nem do Lula. É um desejo do PT do Rio.

Procurado pelo GLOBO, Lindbergh não retornou as ligações.

Fonte: O Globo

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